domingo, 7 de abril de 2024

Valeu, Ziraldo

E assim vamos nos despedindo do Brasil que é o melhor do Brasil que fomos. Triste a partida de Ziraldo, aos 91 anos. Nas imagens, a Turma do Pererê e uma charge (abaixo) do Nando Motta, alusiva ao aniversário de Ziraldo, há alguns anos. Um encontro imaginário do Menino Maluquinho já adulto com o seu criador. Até sempre, Ziraldo.

Mário Fonseca
Um grande choque, uma grande perda. Ziraldo é uma referência única para gerações que puderam contemplar a sua arte, a sua criatividade e o seu recado para o mundo. Ziraldo se destacou pela resistência à repressão. Também jornalista, foi um dos fundadores do jornal O Pasquim, um dos principais veículos a combater o regime militar e a lutar pela democracia, sendo na defesa da imaginação, de um Brasil mais justo, com democracia e liberdade de expressão.

Thiago Muniz

Vai com Deus, Samylla

Eu estava almoçando com o pessoal da escola. Nesses locais comuns onde gente comum vai pra almoçar. A conversa era leve, tao leve que nem me lembro. Coisas do dia-a-dia.

Na parede uma TV, ligada no jornal de meio dia. Eu assistia muito esse jornal, hoje em dia não vejo mais.

Aí veio a notícia: criança é arrastada por enxurrada numa cidade de Goiás.

Seis anos.

A mãe voltava para casa com ela, quando a chuva forte começou. A uns pouco metros de casa, a menina escorregou, largou a mão da mãe e não suportou a força da água. Foi arrastada. A mãe correndo atrás, tentando salvar.

Mas não deu. A menina caiu num córrego e a mãe não viu mais. Um vizinho entrou na água, fez buscas, mas a noite sem luz dificultou a coisa toda.

A reportagem mostrou a mãe contando o que aconteceu. E depois o pai.

O pai com olhar conformado, agradecia aos vizinhos por terem tentado ajudar.

"Brasileiro sofre demais, cara." - falei na mesa pra mim mesmo. Acho que ninguém notou.

Acabamos o almoço, fomos para casa.

A noite, demorei dormir. Pensava no desespero que a menina devia ter passado. Sendo levada pela água, sem conseguir lutar e vendo a mãe desparacer no escuro atrás dela.

Morro de medo de água.

Mas tem uma coisa que eu tenho mais medo: conformismo com coisa ruim.

O olhar daquele pai, conformado com a provável morte da filha, não me saia da cabeça.

Ele não estava conformado porque não se importava, mas porque sabia que há gente nessa vida que não tem direito à felicidade.

No outro dia, acharam a mochila dela. Os caderninhos molhados dentro. O pai segurando na mão chorou. As cameras todas lá, pra registrar a dor.

O conformismo do pai deu lugar ao luto. Acharam o corpo da menina.

As cameras aos poucos foram sendo desligadas. Perderam o interesse.

Dá mais ibope criança perdida que criança morta. Criança morta a gente enterra e esquece. E pobre, sabe como é: logo faz outra.

Pois é. Eu não me conformo. Não me conformo pela Samylla. Não me conformo por nenhuma criança, mulher, negro, idoso, morador de rua, travesti, o que for.

Ninguém deveria morrer assim. Morrer a gente morre, mas precisa ser assim? Antes de morrer precisa perder a esperança? Precisa ver a mãe sumir na escuridão pra com 6 anos ter certeza que não vai mais viver?

Deus me perdoe. Mas não me conformo.

No dia que eu me conformar com o sofrimento dos meus irmãos, é melhor morrer também.

Vai com Deus, Samylla. Já me desculpei com Ele, por não me conformar.

Vai com Deus.

terça-feira, 2 de abril de 2024

Eleições na Venezuela são um circo e o palhaço principal se chama Maduro

A líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado, agradeceu na sexta-feira (29 de março) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela sua manifestação contrária a inegibilidade de Corina Yoris.

Corina Yoris foi indicada por Corina Machado para concorrer às eleições presidenciais marcadas para este ano no país.

Corina Machado foi considerada inelegível pela justiça venezuelana, acusada de corrupção. Ela havia vencido as prévias realizadas pela oposição com 93% dos votos.

Então, ela indicou como substituta, Corina Yoris, professora universitária de 80 anos de idade.

Yoris porém, não conseguiu registrar sua candidatura. Após tentar fazer o registro pelo sistema de registros de candidatura e não conseguir, compareceu pessoalmente ao local, e mesmo assim não conseguiu se registrar.

Lula então, declarou preocupação com a situação na Venezuela e o Itamaraty redigiu um comunicado criticando o fato.

Lula é o maior líder da história da América Latina, e nunca precisou lançar mão das Forças Armadas para golpear a democracia brasileira, portanto, não é obrigado a ter nenhum compromisso com ditador vizinho, ou golpista aqui no nosso país.

Corina Machado agradeceu Lula, Emmanuel Macron e Gustavo Petro ( Colômbia ), por suas posições contra os desmandos na Venezuela.

Nicolás Maduro, o ditador que comanda o país, descumpre todos os compromissos internacionais assumidos, e não descansará até ser reconduzido ao comando do país.

Maduro chegou a chamar de circo, a preocupação internacional em relação às eleições venezuelanas.

Se toda a preocupação não passa de circo, o grande palhaço é Maduro.

As eleições foram inclusive marcadas para o dia do aniversário de outro ditador e igualmente palhaço: o falecido Hugo Chaves.

A palhaçada vai continuar na Venezuela e quem paga a conta em parte é o Brasil, que através da Operação Acolhida que recebe diariamente centenas de refugiados do país vizinho.

A Operação Acolhida chegou a ser usada de maneira política pelo vagabundo que ocupou a cadeira da presidência antes de Lula.

Agora, o governo diminui a publicidade sobre a operação, para supostamente preservar os refugiados, mas acaba mesmo é preservando outro vagabundo: Maduro.

Mesmo sendo óbvio, precisamos lembrar que o Brasil não deve se intrometer na soberania da Venezuela, por mais nocivo que seja seu atual governo.

Aliás, o Brasil não deve se intrometer na soberania de ninguém.

O que o Brasil não pode, é passar a mão na cabeça de ditador.

Seja ele amigo ou não de quem ocupa a cadeira da presidência.

segunda-feira, 25 de março de 2024

A segurança pública do Rio precisa ser refundada

A segurança pública no Rio de Janeiro precisa ser refundada.

Há uma simbiose entre poder público e criminalidade tão enraizados que não se consegue mais separar o joio do trigo.

As polícias estão tão cúmplices do crime organizado que a sensação de impunidade é extremamente forte.

Ver um chefe de Polícia confortando a família de uma vereadora recém assassinada e descobrir que ele participou ativamente na montagem do crime é revoltante e ao mesmo tempo desolador.

O Rio de Janeiro está falindo em sua moralidade. Um estado que se entregou ao invés de lutar contra a bandidagem; preferiu se aliar do que combater, é mais cômodo na visão deles, mesmo que seja pego futuramente, não ligam e muito menos se arrependem.

Simplesmente fazem e ponto. Ou muda os pilares das polícias Civil e Militar ou a distância entre o céu e mar ficará menor pois a grilagem da criminalidade vai tomar conta do Estado por um todo. 


Texto de:
Thiago Muniz

segunda-feira, 18 de março de 2024

Carta de Satanás para Bolsonaro

Saudações aqui do Inferno.

Te escrevo de coração Para dar a ti os pêsames Por conta da eleição, nessas breves tortas linhas, meu maldito Capitão.

Torci por ti, e não foi pouco. Uma pena tu não ter vencido. Sou teu admirador, meu Fascisa favorito. Tens cadeira cativa em meu caldeirão fervente.

Espero que esta carta aumente mais sua dor piorando esse teu choro, meu maldito enganador.

Me admira tua sanha, teu sonho de ditador.

Quero aqui te relatar como admiro a ti. Nessas linhas vou dizer apenas sobre o que vi durante esse teu nefasto mandato.

Adoro esse teu racismo, este teu cinismo, esse teu descaramento. Não existe nada igual.

Tu falas com tanto ódio, e isto é fundamental. Seu machismo é outro ponto que chamo de admirável.

Gostei do dia em que gritaste "imbrochável". Isso é baixo, vil, rasteiro. Foi um dia memorável.
Como não relembrar os tempos de pandemia? Era lindo tu zombando dos doentes em agonia, assim como humilhando a multidão que morria.

Imitar o agonizante que sofria com Covid. Registrei com orgulho isso também, para que ninguém duvide. Nunca vi ninguém tão insensível, é lindo como agrides.

Dizer que o pranto do entes era mero "mimimi" foi o que de mais perverso sobre a Morte eu já ouvi. Isso para mim foi lindo, aplaudi você daqui do Inferno.

A maldade que carregas faz de ti mais que rasteiro. Tu nem sequer lamentou os mortos do mundo inteiro. Quando questionado, disse:
"E daí? Não sou coveiro!".

Tu és um grande líder, te admiro com muita paixão. Parece feito de lixo, um verme sem coração, que sabe zombar dos mortos de tua própria nação.

E por falar em Nação, meu velho amigo fascista, gostei de tuas ideias de perseguir comunista, de incitar seus lacaios a matar quem acusas de petista.

Para mim, outra qualidade que você sempre carrega é dizer coisas terríveis e depois tu vens e nega. Tu é mesmo Coisa Ruim, pior que peixeira cega.

Falou que uma colega, aquela tal deputada não merecia a desgraça de por ti ser estuprada, e depois quando questionado, disse que não falou nada.

Cortou verba da saúde, ciência e educação. Botou século de sigilo, para toda tua podridão. E de forma descarada disse: "Não há corrupção.".

Bolsonaro, meu amigo, para ti, tiro meu chapéu.

Te considero o melhor amigo, jamais te deixarei ir ao céu.

Não se turbe com a derrota, e nem fiques magoado, pois teu lugar está garantido pela eternidade, aqui do meu lado. Pois não houve um presidente que deixou pior legado.

Tua fama me comove, nunca vi gente pior. Dos canalhas que admiro, para mim tu és o melhor, pois tudo que sempre ensinei, tu pareces saber de cor.

Outra coisa que tu faz, e me alegra o coração,  é mentir desordenado e se fingir de bom cristão. Assim tu ganhas apoio de uma grande multidão.

Enganar, mentir, roubar e zombar, são tuas grandes qualidades. Gosto de teu descontrole em negar todas as verdades. De gritar em alto e bom tom, as tuas insanidades.

Quero lhe dizer mais, meu corrupto favorito: que como Miliciano, você é mais que maldito. Finge ser um cabra honesto, que as vezes quase acredito.

Eu sou o pai da Mentira, isso não há quem conteste, mas confesso: sou teu fã, mesmo que alguém te deteste. E para o Brasil tu foi a maior peste.

Termino aqui esta carta que escrevi com muito esmero. Aceite minha amizade, saiba que te considero. E estar sempre ao teu lado, é tudo que mais quero.

Espero o dia e a hora, já comprei até meu terno. Que tu chegue aqui para o fogo eterno.

Ass. Satanás


Texto publicado originalmente pela página

O Povo no Poder.

terça-feira, 12 de março de 2024

Quantas Lolos ainda serão necessárias para que o racismo chegue ao fim?

Joaquim Nabuco escreveu brilhantemente na sua obra Minha Formação:

A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil.

Para a pequena Lolo, moradora de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, foram necessários apenas 4 anos para sentir na pele as consequências desta característica nacional.

O que deveria ser um dia normal de aula para ela, se tornou um pesadelo.

Lolo, como toda criança tem de passar por esse processo de adaptação que é a escola. Conhecer um novo ambiente, novas crianças e outros adultos que terão o papel de autoridade semelhante ao dos pais.

Uma nova rotina, novas regras, horários, comida, atividades, deveres, enfim, praticamente uma nova vida.

Para uma criança de 4 anos, o mundo é todo alegria. Não há, salvo raríssimas exceções, a maldade.

Porém, há ainda a escravidão.

Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com seus mitos, suas legendas, seus encantamentos;

Lolo aos 4 anos não tem noção de que alguma pessoa possa lhe desejar fazer mal. Para ela, o mal é um conceito ainda inatingível. Mas isto não lhe é garantia de que o mal não possa ocorrer.

Para Lolo, sua pele, sua cor, ainda não é uma característica que a diferencie das demais crianças. Para ela, todos somos iguais. Crianças, adultos, idosos, todos são seres humanos.

Um pensamento infantil.

Mas a escravidão, no Brasil...

insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte...

Lolo, com sua alma infantil, fez o que uma criança normal faz todos os dias nas milhões de escolas pelo Brasil afora. Foi carinhosa com um de seus colegas de classe. Um abraço.

Deu um simples abraço em outra criança, e ficou ali, na fila, como aprendeu a fazer todos os dias.

Mas então, o pai da outra criança, simplesmente entrou na escola, agredindo a diretora da unidade que se encontrava no portão, e empurrou Lolo pelas costas.

Assustada, acuada, Lolo teve ainda de ouvir ameaças com o dedo do agressor diante de seu rostinho assustado.

A polícia foi acionada e o agressor confessou que já havia tentado ensinar o filho a bater na pequena Lolo. O motivo? Ele não soube explicar. Não precisava, estava na cara. Não na dele, na de Lolo.

Diretora, monitora do pátio, e agressor foram ouvidos na delegacia especializada.

Lolo foi ouvida pela psicóloga ainda com a chupetas na boca. Ela não sabia explicar o que tinha feito de errado.

É melhor assim.

Como poderia uma pessoa em sã consciência explicar a uma pequena criança de 4 anos que seu erro foi ter nascido negra?

Como poderia uma pessoa normal tentar incutir na cabeça de uma criança de 4 anos que isso será pelo resto de sua vida, uma rotina?

Como poderia alguém, conseguir fazer Lolo entender que ela jamais iria poder consertar o seu erro, pois está estampado na pele?

Lolo terá ainda muito tempo para entender o que aconteceu no dia de hoje. Ainda há a esperança de que o tempo apague de sua memória o ocorrido.

Pode ser difícil, mas quem sabe Deus não se compadece e abençoa essa criança com o esquecimento?

Eu, velho, não conseguirei esquecer, embora preferisse.

Tampouco conseguirei entender como uma pessoa tem a coragem de agredir uma criança de 4 anos apenas por causa da sua cor.

Há muitas Lolos por esse Brasil afora. Algumas já são da minha idade, e ainda continuam sendo humilhadas por causa da sua cor.

Isso não vai mudar, infelizmente eu sei. Nabuco estava certo, por mais que me doa admitir.

A escravidão...

É ela o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites de Campo Grande ( no texto original, do norte ).



Obs. O nome da criança foi substituído para preservar sua identidade.

sábado, 9 de março de 2024

CCJ da Câmara vai virar palco de fake news e retrocesso

O Bolsonarismo realmente é uma desgraça para o país.

Não há como conviver de maneira minimamente pacífica com um grupo de vagabundos rematados como essa corja.

E podem parecer um pouco duras as minhas palavras, porém, basta ver a maneira como essa caterva atua para entender porque não podemos mais manter um discurso manso.

Além de conseguir colocar a deputada Nicole Xupetinha na Comissão de Educação da Câmara, para debater pautas que sequer existem e tentar destruir toda e qualquer prática do governo que tenha a intenção de melhorar a educação, o bolsonarismo explica outra peste na Comissão de Constituição e Justiça ( CCJ ).

E a primeira grande ideia dessa deputada de mente brilhante já é um retrocesso absurdo.

Ela quer o fim da cota para mulheres na política.

Atualmente, a lei garante 30% das vagas para candidaturas dos partidos para mulheres.

A deputada é contra por achar que política não é lugar para mulher (?).

Para ela, mulheres seriam mais úteis por exemplo, escolhendo o terno do marido deputado.

"Não deveria existir uma lei que obrigue mulheres serem candidatas. Porque corremos o risco de haverem um monte de mulheres de esquerda ditando as regras do país. Mulher que é mulher mesmo não escolhe o banheiro que usa." (sic), disse a deputada.

Alguém precisa ir até a Região Sul, ensinar o uso do verbo haver, urgentemente.

Preparem-se para audiência públicas na Comissão de Educação debatendo banheiro unissex, e a CCJ tendo de lidar com projetos de anistia para golpistas vagabundos.

É o que restou pata a oposição no Brasil, que quando esteve no poder não tinha projeto nenhum além de coçar as bolas do projetinho de ditador.