sábado, 30 de setembro de 2023
Seca na Amazônia pode bater record
domingo, 24 de setembro de 2023
Sobre autores e livros
domingo, 17 de setembro de 2023
Ironia da Pedagogia no Brasil, quiçá no Mundo
domingo, 10 de setembro de 2023
O desafio de ser mulher no Brasil
Não é fácil ser mulher no Brasil (pra não dizer no mundo).
Se você for da igreja, tiver cabelo comprido, e só usar saias, não pode ser de esquerda. Afinal, seu perfil foi moldado pelo patriarcado fundamentalista.
Você precisa cortar seu cabelo e encurtar as roupas. Mas daí, não pode mais ser da igreja.
A não ser que você devolva um dízimo bacana, aí, a igreja te aceita, mas não pode ser de direita, porque lembra demais uma lésbica.
E você sabe, por mais que você seja uma mulher batalhadora, trabalhadora, inteligente e bonita, se não tiver o perfil certo, não pode andar com o bando.
Ser mulher não é fácil.
Mulher tem de aceitar ser cantada na rua, para não parecer grossa, mas não pode sorrir demais, pois pode acabar sendo acusada de ter provocado o estupro.
Estupro aliás, que tem de ser aceito dentro de casa muitas e muitas vezes, pois se não, dá ao homem o direito de procurar outra mulher na rua.
E o tal feminismo?
Não se engane, toda mulher é um pouco feminista.
Mesmo aquela que veste saia e tem cabelo comprido, porque está na igreja e precisa lutar pelo direito de se vestir assim dentro de uma empresa que quer mudar sua roupa ou seu cabelo. Pois é, crente feminista.
Se você cria o filho sozinha, trabalha para pagar as contas e até paga para outra mulher tão ou mais pobre, cuidar seu filho enquanto você batalha, não se engane mulher: você é feminista.
Se você luta na justiça para que o pai pague a pensão, você também é feminista.
E nesse caso vai ser chamada de vagabunda que não quer trabalhar e quer viver nas costas de macho, até mesmo por outras mulheres tão feministas como você. Só que estas no caso, lutam pelo direito de ter liberdade de expressão. Mesmo que a ideia expressa seja de uma escrotidão enorme, a luta pelo direito da mulher se expressar está ali.
Deixe que os homens te toquem no trabalho, pois se não deixar, corre o risco de ser acusada de mimizenta. Pois, hoje em dia o homem não pode nem mesmo encostar sem permissão em uma mulher, sem que uma dessas feministas o acuse de abusado, no mínimo. E você não vai querer ser chamada de feminista, não é?
Mas também não deixe que eles encostem muito para não parecer que você é oferecida. Lembre-se da regra do estupro: não o provoque.
Por falar em regras, quando estiver nervosa ou incomodada com alguma situação, aceite cordialmente aquele perdão masculino. Mulher de TPM, sabe como é...
Para eles a TPM dura o mês inteiro, porque na sua cabeça não existe motivos para a mulher ficar nervosa. A não ser que seja algo biológico.
Ou seja falta de homem, não é?
Não é fácil ser mulher no Brasil. E todas são feministas. Sabendo disso, ou não.
E ser feminista sem parecer feminista é outro desafio.
Porque até a definição de feminista foi roubada pelos homens. Feminista hoje, significa gay, devassa, leviana, até, porque não, safada.
Lutar para conquistar direitos mínimos todos os dias, cansa. É por isso que existe o feminismo.
Uma mulher assume a luta da outra. E assim por diante.
Há até aquelas que assumem a luta do homem, já que este não se assume.
Todas sofrem, cada uma do seu jeito. Umas mais outras menos. Algumas até ajudam no sofrimento das outras.
Mas não importa o lado, a ideologia, a crença, a inteligência, ou a beleza, todas sofrem. Todas sangram.
Umas pela regra imposta pela natureza, outras por causa de regras impostas por uma sociedade que odeia mulheres.
Não é fácil ser mulher no Brasil e nem em lugar nenhum.
TEXTO DE:
Tarciso Tertuliano
COLABOROU:
Paulo-Roberto Andel
sábado, 9 de setembro de 2023
Fragmentos do Rio num sábado
Moradores em situação de rua no Rio de Janeiro - foto: Gabriel de Paiva |
quinta-feira, 7 de setembro de 2023
Camarão deteve o golpe
terça-feira, 5 de setembro de 2023
O Feriado
É terça. Chove no Rio. A vida é difícil e opressora. As pessoas sofrem demais, enquanto certa elite econômica alimenta profundo desprezo pelo próximo e pela cidade. A cidade é linda, mas também hostil e não se limita à beleza da enseada de Botafogo ou do Atlântico Sul. Sim, há muita beleza mas também miséria e dor.
O feriado é uma espécie de indulto de Natal da opressão carioca. Um dia de folga é um dia de liberdade para um zilhão de pessoas, que apenas sobrevive entre horas em pé no trem e horas em pé no trabalho. Quando chega em casa não descansa, mas desmaia. Então o feriado é na quinta e a gente já espera o alívio na terça. Um dia sem ser amassado feito sardinha moída em lata é um alívio enorme.
A minoria com algum dinheiro mas longe da riqueza quer celebrar o feriado fugindo da cidade. Pega o carro, mete o pé, emenda a sexta, respira até domingo e volta. Não é uma turma humilhada pela SuperVia e congêneres, mas não deixa de ser oprimida. Para manter seu "padrão de vida", submete-se a práticas detestáveis do mundo corporativo em troca de ostentar fotos no Instagram, e comprar ingressos para os shows de Paul McCartney e Roger Waters - em doze vezes sem juros.
Já fica um clima de tchau no ar. Os pequenos comerciantes são os novos mendigos de luxo, pedindo esmola para os clientes que só pensam no feriado. Um dia de liberdade.
É bom que se diga: feriados são ótimos para descansar e se divertir. O problema é que, para vivê-los na outrora cidade maravilhosa, a gente precisa queimar a véspera, a antevéspera, o dia seguinte e o fim de semana. Tudo para ter algum alívio. No fim, parece até um empréstimo bancário com os tradicionais juros agressivos, que a gente paga com dias de vida. Depois, fazemos as contas para o próximo feriado.
É terça, dia 05, chove no Rio. Há pessoas desesperadas, desalentadas e outras entregues à própria morte. É um novo feriado.
TEXTO DE: