O cachorrinho, andando sozinho pelo cheiro triste da Praça Tiradentes, tentando buscar rumo e sentido.
Magrinho o cachorrinho. Sofrido.
Pequenino, indo e vindo entre indiferenças e desatenção.
Se já é difícil ser humano e ficar na rua, imagine o pobre cachorrinho que depende de fagulhas de boa vontade.
Sente mas não entende, passa fome e sede, segue seu caminho inevitável para a morte. Que ela demore. Que ele possa ter momentos caninos felizes, por mais improvável que pareça.
Impressiona como o cãozinho, tão delicado animal, lembra tanto os transeuntes da região.
Quase todos eles são magrinhos e carregam olhares tristes.
São fotografias ambulantes de uma cidade que nunca mais se recuperou de tanta perversidade, mas ainda ecoa boas promessas.
O cachorrinho, caramelo, vira-lata, legítimo personagem carioca, humilde brasileiro sem lenço nem documento. Anônimo e tão relevante. Um lorde.
Como cantou Chico Buarque, é o barão da ralé.
Ele vai embora, se perde no horizonte da praça e, mesmo à espera do VLT, eu também estou perdido. Mas não o esquecerei.
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