Mal havia se encerrado a sessão do Supremo Tribunal Federal que transformou em réus Jair Bolsonaro e sua trupe de militares golpistas, e a imprensa hereditária – que sempre foi porta-voz dos instintos mais primitivos dos endinheirados – já se mobilizava para reescrever a história.
Com a volúpia de um viciado que furta celulares para trocar por uma pedra de crack, parte dos veículos de comunicação do país lançou-se em uma operação de suavização dos crimes de concepção e organização de um golpe de Estado.
Dito em "brasileirês contemporâneo", passam pano para os crimes do ex-presidente e sua matilha golpista, tratando sua iminente condenação como um capricho da Justiça, uma vendeta política. Mas o problema não é apenas de distorção narrativa: trata-se de cumplicidade com a impunidade.
As provas contra Bolsonaro são esmagadoras. Ele não apenas insuflou uma tentativa de golpe de Estado, mas participou ativamente de sua concepção.
A Polícia Federal revelou um arcabouço criminoso assustador: planos concretos para a subversão democrática, incluindo o uso de veneno para assassinar lideranças políticas.
São fatos, não especulações.
Documentos, áudios, vídeos, mensagens, depoimentos de militares de alta patente – um dossiê robusto e inquestionável.
No entanto, diante dessa avalanche de evidências, a imprensa responde com um bocejo de complacência, um aceno covarde à falsa neutralidade.
Observe-se a maneira como Bolsonaro é tratado. Os mesmos jornais que, no passado, não hesitaram em demonizar adversários políticos agora se derretem em um tom brando, indulgente.
As entrevistas que lhe concedem mais se assemelham a um confessionário de biografia autorizada do que a um interrogatório jornalístico sério.
Perguntas mornas, uma deferência repugnante, um preciosismo hipócrita que desvia o foco do essencial: por que ninguém o confronta com as provas? Por que, em vez de questioná-lo sobre as acusações de conspiração e tentativa de homicídio, os jornalistas se preocupam em explorar sua "mágoa" com aliados políticos?
A generosidade com Bolsonaro contrasta com o mau humor com que a mídia trata seus julgadores.
O Supremo Tribunal Federal, que tem a responsabilidade histórica de garantir que o país não sucumba ao abismo da impunidade, tornou-se alvo predileto, e Alexandre de Moraes virou "inimigo número um" de jornalistas alinhados com patrões-editores, por mais que os ritos processuais estejam sendo cumpridos integralmente, na maioria das vezes com suave firmeza.
O trabalho dessa imprensa tem sido emular o general Villas Bôas, tentando intimidar e emparedar o STF, passando a impressão de que Bolsonaro é um perseguido político, e não um criminoso de alta periculosidade.
O que está em jogo transcende a sorte de um homem: é a própria integridade da democracia brasileira.
Bolsonaro não pode ser tratado como uma figura folclórica da política, nem como uma mera oposição ruidosa. Ele é um criminoso, um conspirador, um inimigo da democracia. Seu legado é de destruição e morte. Sua tentativa de golpe de Estado não foi um devaneio retórico, mas uma ação real e planejada, cujos desdobramentos ainda podem assombrar o país.
O Judiciário não pode vacilar: sua condenação e prisão não são apenas justas, mas imprescindíveis para a sanidade nacional.
O jornalismo que serve aos interesses de golpistas não é jornalismo – é panfletagem servil, é cumplicidade disfarçada de imparcialidade.
Nesse quebra-mar entre a mídia e a justiça necessária, a sociedade assiste, angustiada, à procrastinação de um desfecho desejado. Quanto mais rápida a condenação, mais rápido a democracia brasileira voltará a respirar aliviada.
Como ensinou o doutor Ulysses Guimarães, à ditadura devemos dedicar apenas dois sentimentos: o ódio e o nojo.
TEXTO DE:
Edward Magro