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“O lodo das ruas" Editora Sétimo Selo, RJ, 2022 |
Lingua Preta
Não me faça perguntas, e eu não te direi mentiras.
sábado, 15 de novembro de 2025
Dica de livro: “O lodo das ruas"
sexta-feira, 14 de novembro de 2025
O Dia em que o STF Salvou o Recreio — e a República (de novo)
Sim, o recreio. Aquele intervalo entre uma aula e outra, onde alunos e professores tentam comer alguma coisa, tomar um café e ir o banheiro, antes que sino volte a tocar.
O Brasil não é para iniciantes, amadores, e ultimamente nem para profissionais.
Pois bem: algumas instituições de ensino superior, sempre muito ciosas da “gestão eficiente”, descobriram uma maneira inovadora de enxugar custos — o tipo de solução que só aparece quando gente muito criativa se reúne numa sala com ar-condicionado e café em cápsula: descontar dos professores o tempo do recreio.
Ora, claro! Por que não?
Se a lógica for essa, podemos também descontar do médico o tempo entre uma cirurgia e outra, do juiz o intervalo entre um julgamento e o próximo, do jornalista os cinco minutos em que respira fundo antes de escrever sobre uma pauta estapafúrdia como essa que estou escrevendo (e agravo: de graça).
Do jeito que vai, não tardará o momento em que algum gênio administrativo reivindique que o professor seja descontado por ficar calado durante a prova.
Mas eis que o STF, esse ente metafísico que precisa entrar em cena sempre que a realidade brasileira insiste em ser uma comédia pastelão, decidiu o óbvio: recreio faz parte da jornada de trabalho.
O professor não está de férias entre uma aula e outra. Não está em Mônaco jogando roleta, ou no Maracanã gritando Mengo!, e muito menos diante de um quartel pedindo golpes. Em geral, está vigiando corredor, atendendo aluno, preparando próxima atividade, impedindo que dois adolescentes resolvam uma divergência filosófica à base de cadeirada (né, Datena?).
O recreio, no Brasil, é mais perigoso que sessão do Conselho de Segurança da ONU.
Mas vejam a ironia: para que o óbvio fosse reconhecido como óbvio, foi preciso que o Supremo parasse para julgar…? isso mesmo: intervalos escolares.
É quase poético. A mais alta Corte do país decidindo aquilo que qualquer pessoa que já colocou os pés em uma escola sabe desde a pré-escola.
O problema, no fundo, é que o professor brasileiro virou uma espécie de entidade esotérica. Todo mundo louva. Todo mundo exalta. Todo mundo diz que sem professor não há futuro — e aí tentam descontar até o recreio. É a “pedagogia do aperto financeiro”. Uma aula prática de desvalorização profissional.
Pois bem, o STF colocou ponto final nessa ópera-bufa.
E aqui, permitam-me a ironia inevitável: ainda bem que temos o Supremo. Porque se dependesse de certas mentes criativas do Congresso, logo logo iriam sugerir que o professor só recebe quando está falando. Silêncio não remunera. Pausa não conta. Beber água é privilégio.
No mais, parabéns ao STF por mais uma contribuição inestimável à ordem constitucional do país: salvou o recreio. Faltam agora salvar o salário, a carreira, a infraestrutura e — quem sabe? — a dignidade.
Mas calma: uma coisa por vez. No Brasil, até o óbvio dá trabalho.
Detalhe final: os ministros do STF julgaram a causa sem nem mesmo, um intervalo para o cafezinho.
quarta-feira, 12 de novembro de 2025
A imprensa que só gosta de democracia quando ela é silenciosa
Sim, houve tensão. Sim, houve excesso. E daí? Desde quando democracia é um chá das cinco? A história é feita de embates, de disputas, de vozes que gritam quando ninguém quer ouvir. O protesto — mesmo o que extrapola — é um espelho do vigor democrático.
O que causa espanto é ver jornalistas que, durante o governo Bolsonaro, chamavam seus apoiadores de “gado” por aplaudirem cegamente todo absurdo, agora indignados porque parte da base lulista decidiu fazer o oposto: apoiar criticamente, cobrar coerência, exigir compromisso.
Há algo de doentio nessa lógica. Quando o eleitor é passivo, é “gado”. Quando é ativo, é “radical”.
Talvez essa seja a tal polarização que eles tanto insistem em nos convencer que existe.
A imprensa parece querer um eleitorado obediente, de preferência calado. Só que democracia não se faz com plateia — se faz com participação, até com conflito.
Lula, goste-se ou não, não foi eleito para ser um rei, e seus eleitores não são súditos. Quando protestam, não traem o governo; exercem o direito que diferencia cidadãos de seguidores.
É curioso ver que os mesmos que relativizaram invasões de golpistas em Brasília, chamando-as de “ manifestações de velhinhas com Bíblias debaixo dos sovacos”, agora tratam indígenas e ambientalistas como inimigos da civilização.
O peso e a medida variam conforme o interesse editorial — ou o incômodo que causa ver o povo real ocupando o espaço público.
O Brasil, anfitrião da COP 30, mostra ao mundo que sua democracia é viva — às vezes ruidosa, às vezes desconfortável, mas viva. Só os autoritários travestidos de moderados acham que o povo deve ficar quieto para não “manchar a imagem do país”.
Pois saibam: o que mancha a imagem do Brasil não é o protesto legítimo; é a hipocrisia de quem finge defender a democracia, mas só quando ela cabe no editorial de domingo.
Democracia não é um espetáculo de bons modos. É um terreno de disputas, de vozes, de críticas — inclusive às próprias autoridades que ajudamos a eleger. E, sinceramente, se a imprensa não entende isso, talvez o problema não esteja na “base de Lula”, mas na base da imprensa.
Em tempo, apesar de apoiar todo tipo de protesto pacífico e acreditar na liberdade de crítica, não acredito que a tentativa de invasão forçada a sede do COP 30, seja o caminho mais correto para alcançar os objetivos políticos.
terça-feira, 11 de novembro de 2025
Feliz Aniversário
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
COP 30, O tornado não pediu licença
Sim, um tornado. Não, não é figura de linguagem. Não é metáfora. Não é exagero de ambientalista que “quer destruir o agronegócio”. Foi vento girando, arrancando telhado, matando gente — um tornado real, sem telegrama prévio, sem pedir habeas corpus preventivo.
E aí, claro, surgem as entrevistas de praxe. Aquelas que já fazem parte da pequena ópera bufa brasileira. O sujeito, de boné e convicções sólidas como gelatina ao sol, declara à TV:
— Isso aí sempre aconteceu. A natureza é assim mesmo.
Claro. Sempre teve tornado no Paraná. E dinossauro no Pantanal. E unicórnio em Minas Gerais. Aliás, sempre teve tudo, não é? Sempre teve. É a frase favorita de quem não quer pensar, mas quer parecer muito seguro de si.
Enquanto em Belém se fala de descarbonização, neutralidade climática, justiça ambiental, responsabilidade global, no sul ainda se encontra quem ache que aquecimento global é invenção de francês vegetariano para acabar com o churrasco domingueiro.
Há uma ala — sempre muito convicta, sempre muito emocional — que ainda acredita que mudança climática é uma grande conspiração mundial. Um complô internacional. Uma obra comunista com Al Gore no lugar de grande líder conspirador.
E, claro, ONGs malvadas financiadas por George Soros, o réptiliano supremo.
Tudo isso para impedir o progresso, que na concepção desses gênios consiste basicamente em derrubar árvores com entusiasmo masculino.
Pois bem. O tornado passou. E não perguntou se alguém “acreditava” nele. Assim como a gravidade não pede voto, o clima não consulta opinião de youtubers.
Enquanto isso, em Belém, líderes mundiais tentam evitar justamente — vejam só que coincidência — eventos climáticos extremos. Aqueles que matam. Aqueles que destroem cidades. Aqueles que produzem manchetes fúnebres.
Mas é claro, é claro: “sempre aconteceu”.
A ironia é tão fina que chega a ter brilho:
— No Norte, discutem como impedir o desastre.
— No Sul, o desastre acontece, mas parte da população insiste que não está vendo.
É como se o apocalipse precisasse apresentar laudo de autenticidade emitido em cartório.
O tornado foi, digamos assim, didático. Mais didático do que painel trilíngue da COP, mais direto do que diplomata inglês com pressa para o chá das cinco.
Entrou, destruiu, saiu. Sem discurso. Sem PowerPoint. Sem hashtag. Deixando todas as construções planas, como a Terra que eles imaginam habitar.
A mensagem?
O clima não está negociando. Nem conosco, nem com eles.
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
Primeira Turma do STF tem unanimidade para rejeitar recurso e manter condenação de Bolsonaro
quinta-feira, 6 de novembro de 2025
A Gratidão tem de ser Eterna
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| primeira foto que eles tiraram juntos no Brasil, em 1958 |




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