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| por Antonio Gonzalez |
Lingua Preta
Não me faça perguntas, e eu não te direi mentiras.
sexta-feira, 21 de novembro de 2025
Até que a Morte nos separe
quarta-feira, 19 de novembro de 2025
Sinéad O'Connor, o preço pela verdade
terça-feira, 18 de novembro de 2025
Jards Macalé
sábado, 15 de novembro de 2025
Dica de livro: “O lodo das ruas"
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“O lodo das ruas" Editora Sétimo Selo, RJ, 2022 |
sexta-feira, 14 de novembro de 2025
O Dia em que o STF Salvou o Recreio — e a República (de novo)
Sim, o recreio. Aquele intervalo entre uma aula e outra, onde alunos e professores tentam comer alguma coisa, tomar um café e ir o banheiro, antes que sino volte a tocar.
O Brasil não é para iniciantes, amadores, e ultimamente nem para profissionais.
Pois bem: algumas instituições de ensino superior, sempre muito ciosas da “gestão eficiente”, descobriram uma maneira inovadora de enxugar custos — o tipo de solução que só aparece quando gente muito criativa se reúne numa sala com ar-condicionado e café em cápsula: descontar dos professores o tempo do recreio.
Ora, claro! Por que não?
Se a lógica for essa, podemos também descontar do médico o tempo entre uma cirurgia e outra, do juiz o intervalo entre um julgamento e o próximo, do jornalista os cinco minutos em que respira fundo antes de escrever sobre uma pauta estapafúrdia como essa que estou escrevendo (e agravo: de graça).
Do jeito que vai, não tardará o momento em que algum gênio administrativo reivindique que o professor seja descontado por ficar calado durante a prova.
Mas eis que o STF, esse ente metafísico que precisa entrar em cena sempre que a realidade brasileira insiste em ser uma comédia pastelão, decidiu o óbvio: recreio faz parte da jornada de trabalho.
O professor não está de férias entre uma aula e outra. Não está em Mônaco jogando roleta, ou no Maracanã gritando Mengo!, e muito menos diante de um quartel pedindo golpes. Em geral, está vigiando corredor, atendendo aluno, preparando próxima atividade, impedindo que dois adolescentes resolvam uma divergência filosófica à base de cadeirada (né, Datena?).
O recreio, no Brasil, é mais perigoso que sessão do Conselho de Segurança da ONU.
Mas vejam a ironia: para que o óbvio fosse reconhecido como óbvio, foi preciso que o Supremo parasse para julgar…? isso mesmo: intervalos escolares.
É quase poético. A mais alta Corte do país decidindo aquilo que qualquer pessoa que já colocou os pés em uma escola sabe desde a pré-escola.
O problema, no fundo, é que o professor brasileiro virou uma espécie de entidade esotérica. Todo mundo louva. Todo mundo exalta. Todo mundo diz que sem professor não há futuro — e aí tentam descontar até o recreio. É a “pedagogia do aperto financeiro”. Uma aula prática de desvalorização profissional.
Pois bem, o STF colocou ponto final nessa ópera-bufa.
E aqui, permitam-me a ironia inevitável: ainda bem que temos o Supremo. Porque se dependesse de certas mentes criativas do Congresso, logo logo iriam sugerir que o professor só recebe quando está falando. Silêncio não remunera. Pausa não conta. Beber água é privilégio.
No mais, parabéns ao STF por mais uma contribuição inestimável à ordem constitucional do país: salvou o recreio. Faltam agora salvar o salário, a carreira, a infraestrutura e — quem sabe? — a dignidade.
Mas calma: uma coisa por vez. No Brasil, até o óbvio dá trabalho.
Detalhe final: os ministros do STF julgaram a causa sem nem mesmo, um intervalo para o cafezinho.
quarta-feira, 12 de novembro de 2025
A imprensa que só gosta de democracia quando ela é silenciosa
Sim, houve tensão. Sim, houve excesso. E daí? Desde quando democracia é um chá das cinco? A história é feita de embates, de disputas, de vozes que gritam quando ninguém quer ouvir. O protesto — mesmo o que extrapola — é um espelho do vigor democrático.
O que causa espanto é ver jornalistas que, durante o governo Bolsonaro, chamavam seus apoiadores de “gado” por aplaudirem cegamente todo absurdo, agora indignados porque parte da base lulista decidiu fazer o oposto: apoiar criticamente, cobrar coerência, exigir compromisso.
Há algo de doentio nessa lógica. Quando o eleitor é passivo, é “gado”. Quando é ativo, é “radical”.
Talvez essa seja a tal polarização que eles tanto insistem em nos convencer que existe.
A imprensa parece querer um eleitorado obediente, de preferência calado. Só que democracia não se faz com plateia — se faz com participação, até com conflito.
Lula, goste-se ou não, não foi eleito para ser um rei, e seus eleitores não são súditos. Quando protestam, não traem o governo; exercem o direito que diferencia cidadãos de seguidores.
É curioso ver que os mesmos que relativizaram invasões de golpistas em Brasília, chamando-as de “ manifestações de velhinhas com Bíblias debaixo dos sovacos”, agora tratam indígenas e ambientalistas como inimigos da civilização.
O peso e a medida variam conforme o interesse editorial — ou o incômodo que causa ver o povo real ocupando o espaço público.
O Brasil, anfitrião da COP 30, mostra ao mundo que sua democracia é viva — às vezes ruidosa, às vezes desconfortável, mas viva. Só os autoritários travestidos de moderados acham que o povo deve ficar quieto para não “manchar a imagem do país”.
Pois saibam: o que mancha a imagem do Brasil não é o protesto legítimo; é a hipocrisia de quem finge defender a democracia, mas só quando ela cabe no editorial de domingo.
Democracia não é um espetáculo de bons modos. É um terreno de disputas, de vozes, de críticas — inclusive às próprias autoridades que ajudamos a eleger. E, sinceramente, se a imprensa não entende isso, talvez o problema não esteja na “base de Lula”, mas na base da imprensa.
Em tempo, apesar de apoiar todo tipo de protesto pacífico e acreditar na liberdade de crítica, não acredito que a tentativa de invasão forçada a sede do COP 30, seja o caminho mais correto para alcançar os objetivos políticos.






