Lingua Preta
Não me faça perguntas, e eu não te direi mentiras.
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
Primeira Turma do STF tem unanimidade para rejeitar recurso e manter condenação de Bolsonaro
quinta-feira, 6 de novembro de 2025
A Gratidão tem de ser Eterna
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| primeira foto que eles tiraram juntos no Brasil, em 1958 |
segunda-feira, 3 de novembro de 2025
O Brasil, esse grande laboratório da burrice política: Chamando ladrão de terrorista e terrorista de patriota
Não com inteligência, não com investigação, não com política pública.
Com marketing. Marketing político do mais vagabundo e banhado em sangue.
O plano é simples: o PCC e o Comando Vermelho, que há décadas são organizações criminosas, agora seriam “organizações terroristas”.
E pronto! O problema do crime organizado desaparece num passe de mágica linguística.
É a velha crença tupiniquim de que mudar o nome muda a realidade.
Mas a coisa é mais grave — e mais risível.
Os maiores defensores dessa tese são, curiosamente, os mesmos que pedem anistia para os terroristas de verdade, aqueles que tentaram derrubar a República no 8 de janeiro.
Sim, os patriotas de fantasia verde e amarela, Bíblia debaixo do braço, ice cream and popcorn sinners, que quebraram o Supremo e o Congresso, agora seriam apenas “manifestantes emocionados”.
E Bolsonaro? Ah, esse seria o São Sebastião de Miami, mártir da injustiça judicial.
Quer dizer: o sujeito que tentou destruir o Estado de Direito é patriota; o bandido que vende droga é terrorista. Cujo patrão está na Faria Lima, mas nem comentemos.
O Brasil conseguiu inverter até o bom senso.
A burrice aqui é institucionalizada — e ainda desfila de terno e gravata.
As burradas têm preço — e não é pequeno
Vamos aos fatos, que o delírio não paga boleto.
Chamar o PCC de terrorista fere tratados internacionais que o Brasil assinou, inclusive na ONU e na OEA.
A definição de terrorismo pressupõe motivação política, ideológica ou religiosa.
O PCC não quer instaurar o Califado do Crack, nem o Comando Vermelho escreve manifestos contra o capitalismo. Eles querem dinheiro, ponto.
Ao embaralhar os conceitos, o Brasil passa a ser visto como um país que usa leis antiterrorismo para fins políticos internos.
E isso tem consequências.
O GAFI, que monitora lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, pode reclassificar o Brasil.
Significa mais burocracia, mais vigilância, mais custo. As operações financeiras internacionais ficam lentas, investimentos minguam, remessas travam. É o tipo de medida que alegra o populista, mas assusta o investidor.
A União Europeia e os Estados Unidos, claro, não reconheceriam essa classificação.
Para eles, terrorista é quem persegue motivação política — não quem disputa o ponto do Alemão ou da Rocinha.
O Brasil ficaria isolado, falando sozinho, com um papel timbrado e uma cara de bobo na diplomacia internacional.
E o perigo interno: o terrorismo ideológico
Dentro do país, o efeito é ainda mais tóxico.
Se o conceito de terrorismo passa a valer para facções, amanhã ele pode valer para qualquer um. Basta desagradar o governo da vez.
Hoje é o PCC. Amanhã, o MST. Depois de amanhã, o sindicato dos professores, e, quem sabe, um jornalista crítico — que pode até ser eu, pasmem!
É o sonho úmido dos autoritários: um Estado que criminaliza por adjetivo.
E tudo isso com um objetivo nada secreto: criar a narrativa que justifique a anistia dos golpistas.
Se o Brasil está em guerra contra o “terrorismo”, então os patriotas que quebraram Brasília não são criminosos — são combatentes mal compreendidos.
A lógica é tosca, mas a retórica é eficiente.
E, em tempos de ignorância organizada, eficiência é tudo.
O vexame global
O resultado?
O Brasil vira motivo de piada.
O único país do mundo a chamar traficante de terrorista e terrorista de patriota — tudo na mesma semana.
Seríamos citados em editoriais da Economist e em notas de rodapé da ONU: “caso exótico de confusão semântica tropical e latina”.
Enquanto isso, o dólar sobe, o real derrete, o risco-país aumenta e o investidor foge, porque ninguém aplica dinheiro num país que confunde guerra ao terror com campanha eleitoral.
E no fim, o país continua o mesmo:
O PCC segue mandando nos presídios, o Comando Vermelho segue controlando favelas, e os “patriotas” seguem pedindo anistia em nome da liberdade — deles, claro.
O povo continua refém, o Estado continua inerte, e o debate público continua uma pastelaria ideológica.
Mas que ninguém se engane: o terrorismo aqui não é o das facções.
É o da estupidez travestida de bravura, o da ignorância com mandato.
E como diria o blogueiro já cansado que vos escreve:
O problema do Brasil não é o terrorismo — é o terrorismo intelectual.
sexta-feira, 31 de outubro de 2025
O boné, a farsa e a bala — a mentira útil do “CPX”
A mais recente — e talvez uma das mais grotescas — é a teoria conspiratória de que o Partido dos Trabalhadores “comanda o tráfico” e que Lula, ao usar um boné com a sigla “CPX”, estaria prestando homenagem a uma facção criminosa.
Pois bem. O leitor merece o mínimo de verdade, mesmo que ela atrapalhe a catarse ideológica de alguns.
“CPX” não é sigla de quadrilha, nem senha secreta de traficante. “CPX” é abreviação de Complexo — como em Complexo do Alemão, Complexo da Penha, Complexo de Manguinhos. É a forma como os próprios moradores das favelas nomeiam suas comunidades. É identidade. É território. É pertencimento.
Mas basta o boné cair na cabeça de Lula — o mesmo que já presidiu o país por oito anos, e que agora volta à cena política vencendo nas urnas o verdugo do mal — para que os arautos da “guerra ao mal” vejam ali a prova de uma conspiração comuno-traficante. O delírio é completo.
A mentira, claro, não é inocente. Ela cumpre função política e simbólica.
Transforma pobres em cúmplices do crime. Transforma comunidades inteiras em extensão de facção. E, por tabela, transforma qualquer figura pública que dialogue com o povo da favela em “amigo do tráfico”.
É uma narrativa conveniente, quase elegante na sua perversidade: o Estado mata — e a culpa é de quem ousa falar com os vivos.
Enquanto isso, o governo do Rio de Janeiro exibe suas operações de “grande sucesso” no Complexo do Alemão e na Penha, com dezenas de mortos, helicópteros sobrevoando escolas e famílias presas dentro de casa.
O nome técnico disso é “ação de segurança”. O nome real é massacre autorizado.
E a narrativa do “boné criminoso” serve como maquiagem moral para o banho de sangue.
Se o presidente usa o boné do “CPX”, dizem, então o tráfico venceu.
Ora, venceu o quê?
O que venceu, de fato, foi a ignorância premiada, o preconceito institucionalizado e a velha mania de confundir favela com facção — como se pobreza fosse escolha, e o Estado, vítima.
No Brasil, especialmente no Rio, a mentira é política de segurança.
O morro é criminalizado, o governo é aplaudido, e quem tenta humanizar vira suspeito.
A fantasia do “CPX do crime” é mais do que uma fake news — é a desculpa perfeita para não olhar o abismo da desigualdade.
O boné de Lula não é símbolo de facção; é símbolo de convivência, de tentativa de diálogo, de um Estado que deveria estar presente sem fuzil na mão.
Mas para quem precisa de inimigos internos, não há espaço para convivência: só para tiros e slogans.
E assim seguimos — entre o barulho das armas e o silêncio das consciências — enquanto a mentira continua a fazer o que sempre faz: justificar a morte e culpar os vivos errados.
quinta-feira, 30 de outubro de 2025
Na letra de “Bonsucesso 68” as primeiras gotas da violência no conta-gotas da vida - Parte 2
Na letra de “Bonsucesso 68” as primeiras gotas da violência no conta-gotas da vida.
Antonio Gonzalez
...
Por que não cortaram o mal pela raiz na década de 1970?
Por que o discurso de que somente com acesso à educação se resolveria o problema da violência não foi transformado em realidade?
Por que as melhores condições de moradia não foram postas em prática?
Por que as políticas de segurança sempre visaram castrar uma vez o acontecido e jamais foram de prevenção?
Há 61 anos sob o lema de “bandido bom é bandido morto” nascia a Escuderia Le Cocq que originalmente era uma milícia de policiais no Rio de Janeiro que, ao longo dos anos, foi associada a grupos de extermínio. Posteriormente, o nome foi usado para uma associação de detetives particulares e ex-policiais.
Posteriormente o Esquadrão da Morte e o Mão Branca.
O filme Cidade de Deus embora lançado em 2002, narra cerca de 20 anos de história (1960–1980) da formação e do endurecimento da violência nas favelas cariocas.
Na década 1960 mostra o surgimento da favela Cidade de Deus, criada pelo governo como conjunto habitacional para famílias removidas de outras áreas do Rio.
Já nos anos 1970 acompanha o crescimento da criminalidade e o domínio das gangues de jovens, com destaque para a ascensão de Zé Pequeno.
No início dos anos 1980 - o filme termina nesse período - surge uma nova geração de traficantes tomando o controle da comunidade.
Tudo isso rolou durante os governos Médici, Geisel e Figueiredo. Por que eles não cortaram a cabeça daquela serpente?
Se você chegou até aqui sabe que a atualidade é apenas um remake, como a recente novela VALE TUDO.
Afirmo que o que vimos ontem não pode ser resumido aos atuais governos, estadual e federal. A atualidade é apenas a consequência de quem teve oportunidade de não deixar a víbora crescer, mas para nada se preocupou com as classes menos favorecidas, nem com a gente preta, nem com o que o salário mínimo da época permitia colocar na geladeira. Somente visou a ganância financeira. De pai para filho, os sobrenomes se repetem.
Essa guerra não começou neste século. Não obstante é urgente que seja resolvida. Mas um povo que não conhece a sua história certamente falará abobrinhas sobre como resolver as questões da Segurança, da Saúde, da Educação e da Habitação.
É evidente que não se pode pensar em resolver o problema da Segurança Pública com o fígado, menos ainda com ódio e racismo.
Repito, segurança só funciona se for de prevenção. No resto, sem mudar o conceito de todas as pontas de direção – governos, polícias e população (principalmente na hora de votar) – continuaremos com uma única certeza: a espera da data do próximo extermínio.
Sem embargo, vale questionar quem financia a entrada de armas e drogas no país e quem fecha os olhos para tal.
Mas isso é papo para outro dia.
Minha solidariedade às famílias dos policiais mortos. E que a bandidagem entenda que o crime – na escala que eles frequentam – somente permite 2 saídas: ou a cadeia ou um paletó de madeira.
TEXTO DE:
Antonio Gonzalez
Na letra de “Bonsucesso 68” as primeiras gotas da violência no conta-gotas da vida
Na letra de “Bonsucesso 68” as primeiras gotas da violência no conta-gotas da vida.
Antonio Gonzalez
Na enfermaria do PS Central de Taubaté pelo tubo do conta-gotas o soro baixava lentamente enquanto a simpática enfermeira (uma carioca de Duque de Caxias) aplicava-me insulina na barriga.
Na televisão imagens do Rio de Janeiro mostravam corpos enfileirados numa rua, nas cercanias da Praça São Lucas, no Complexo da Penha.
E antes que você leitor defina o seu sentimento a esse texto, deixo claro que não gosto de bandido. Muito menos as minhas letras terão perfil de elogios à esquerda ou de críticas à direita. Quem me conhece sabe que eu não conjugo a hipocrisia, nem abro mão da história que vi passar nesses quase 64 anos de vida, sem esquecer do que vivi e li.
De saída, a minha mente começou a cantarolar a letra de uma música de uma banda carioca. A canção “Bonsucesso ’68”, composta por Arnaldo Brandão e Tavinho Paes para a banda Hanoi-Hanoi, foi lançada em 1986.
A música remete ao ambiente e aos acontecimentos do bairro Bonsucesso na década de 1960, trazendo também referências à figura do célebre assaltante de bancos Lúcio Flávio.
Quem conhece a cidade do Rio de Janeiro, sabe que no bairro de Bonsucesso encontramos artérias vitais do Complexo do Alemão.
E a canção diz o seguinte:
“Lúcio Flávio morava na Roma, Fernando C.O. lá na New York, Tavinho era um menino na Bruxelas, entre a Londres e a Paris
Havia a turma do Melo, o cinema era o Paraíso, a favela era a Perereca e eu tocava no baile do Domingo.
E ninguém tava na Europa, não tinha Waterloo, não era exílio, política era coisa da Zona Sul.
E ninguém tava na Europa, não tinha Liverpool, era tudo em Bonsucesso, Rio de Janeiro 68, América do Sul.
E a gente era só, Mato Grosso e Paraguai, Bolívia veio depois e o resto veio atrás.
Colômbia, Nicarágua, Malvinas, são argentinas.
Ligação direta, tá no ronco do motor, ligação direta, tá no ronco do motor.
E ninguém tava na Europa, não tinha Waterloo, não era exílio, política era coisa da Zona Sul.
E ninguém tava na Europa, não tinha Liverpool, era tudo em Bonsucesso, Rio de Janeiro 68, América do Sul”.
Em 1968 eu cumpri 7 anos de idade, foi quando aprendi a ler. E naquela tentativa de juntar vogais com consoantes, esperava meu Pai chegar do trabalho, todos os dias às 19 horas (da mesma forma que diariamente se levantava às 5 da manhã para estar às 6 no Centro da cidade, para abrir o restaurante).
Com ele vinha o jornal O GLOBO. Carinhosamente ele dizia “vamos ver se você realmente já sabe ler”. Era óbvio que aquele tímido guri sempre começava pelas páginas esportivas, pelas matérias que envolviam o Fluminense.
E entre as manchetes jornalísticas e o Repórter Esso, da Tv Tupi – apresentado pelos lendários Heron Domingues e Gontijo Teodoro, eu começava a captar informações que hoje, passado mais de meio século, como de um filme se tratasse, habitam a minha memória.
Da quadrilha do famosíssimo Lúcio Flavio (citado pela voz grave do excelente baixista Arnaldo Brandão, cuja família tinha uma oficina de carros na rua Paulo Barreto, em Botafogo – onde na atualidade também se encontra o seu estúdio musical) faziam parte seu irmão, Nijini, e seu cunhado, Fernando C.O., entre outros.
O grupo liderado por Lúcio Flávio foi sendo dizimado ao longo do tempo, seja em confrontos com a polícia, seja em execuções dentro dos presídios do Rio de Janeiro.
Liéce de Paula Pinto e Nijini Renato Villar Lírio, irmão de Lúcio Flávio, foram executados por policiais que, para encobrir o crime, encenaram um falso confronto: os corpos foram levados até as proximidades do Hotel Plaza, em Copacabana, colocados em um carro e novamente metralhados para simular resistência à prisão.
Outros integrantes do bando — Rivaldo Morais Carneiro, conhecido como Martha Rocha; Antonio Branco; e Francisco Rosa da Silva, o Horroroso — foram mortos a tiros no Presídio Evaristo de Moraes Filho, na Quinta da Boa Vista, após liderarem uma rebelião que resultou na morte do coronel da PM Darci Bitencourt, feito refém.
Também tiveram fim trágico Fernando C. O., cunhado de Nijini, assassinado por outros presos na Frei Caneca, e Júlio Augusto Diegues, o Portuguesinho, morto no mesmo presídio pouco depois, após ter estrangulado detentos com a ajuda de um comparsa.
Lúcio Flávio Vilar Lírio teve uma trajetória criminal marcada por muitos processos, fugas espetaculares e longos períodos de prisão — o que o tornou uma das figuras mais conhecidas do submundo carioca entre as décadas de 1960 e 1970.
Estima-se que Lúcio Flávio tenha respondido a mais de 30 inquéritos policiais por assaltos a bancos, roubos de carros e formação de quadrilha. Ele era considerado um dos criminosos mais procurados do país no auge de sua atividade.
Ele protagonizou três fugas notórias: Da Penitenciária Lemos de Brito (RJ) – escapou em 1968. Do Presídio de Ilha Grande – em 1970, durante uma rebelião e da Frei Caneca (RJ) – em 1973, após subornar carcereiros.
Ao longo de sua vida, passou cerca de 10 anos encarcerado, de forma intermitente. Foi recapturado várias vezes e, em 1975, estava novamente preso quando foi assassinado dentro do presídio da Frei Caneca, em circunstâncias nunca esclarecidas.
Entretanto não podemos escrever a história do bandido Lúcio Flávio sem citar Mariel Mariscot que era um policial civil da antiga Divisão de Roubos e Furtos (DRF), conhecido por sua atuação violenta e também por seus laços com o crime organizado. Tornou-se uma figura lendária no chamado Esquadrão da Morte, grupo de extermínio formado por policiais que executavam criminosos sob o pretexto de “fazer justiça”.
Nos bastidores da criminalidade carioca, Mariel e Lúcio Flávio conviveram no mesmo ambiente, pois muitos policiais corruptos protegiam ou extorquiam assaltantes de banco. Lúcio Flávio chegou a afirmar que pagava propina a policiais para poder atuar e que Mariel fazia parte desse esquema de corrupção.
Após essas denúncias, Lúcio Flávio foi preso novamente e, em 1975, assassinado dentro do presídio Frei Caneca. Muitos acreditam que sua morte foi queima de arquivo, e que policiais ligados a Mariel Mariscot participaram ou foram cúmplices da execução.
Com o passar do tempo Mariel (ex-policial civil e ex-integrante do Esquadrão da Morte, expulso da corporação) passou a atuar no crime organizado, especialmente em assaltos a bancos e esquemas de segurança privada ilegais. Apesar de ter sido temido e respeitado, acumulou muitos inimigos tanto entre criminosos quanto entre ex-colegas de polícia.
Mariel Mariscot foi assassinado em 8 de outubro de 1981, quando estava estacionando seu carro para uma reunião com banqueiros do jogo do bicho. Ele que um dia foi conhecido como o "homem de ouro" da polícia, foi morto tentando entrar no mundo da contravenção como banqueiro.
Lúcio Flávio e Mariel Mariscot representavam os dois lados de uma mesma moeda — o bandido inteligente e o policial violento — ambos imersos em um sistema onde as fronteiras entre crime e lei se confundiam.
Voltando ao seio familiar, passamos por certas situações de medo. No início de 1973, meu Pai perdeu um funcionário, peão da cozinha, conhecido como Caveirinha – de tão magro e baixinho que era – assassinado num ônibus a caminho de Nova Iguaçu. Durante o assalto ele disse ao ladrão que não tinha dinheiro e o meliante retrucou: “se você tiver mentindo eu vou te dar um tiro na cabeça, mas se não for mentira, te darei um tiro no peito”. Foi assassinado por falar a verdade.
Em maio daquele mesmo ano, um sábado pela manhã, ao voltar do Colégio Santo Inácio, faltando 200 metros para chegar em casa, 6 pivetes, um deles portando um revólver, roubaram-me na rua Paulino Fernandes, nº 15, em Botafogo.
Aquele relógio, um Classic suíço, que meu Pai me presenteou por ter sido o melhor aluno daquele colégio jesuíta em 1971, mudou de mãos. A título de curiosidade, aquele roubo foi cometido em frente a uma clínica clandestina onde se praticava o aborto. Sim, há 52 anos atrás já existiam clinicas para que as donzelas das classes altas da Zona Sul, pudessem abortar.
Em 1975, na rua Rodrigo Silva, 32, entre a 7 de setembro e Assembleia, onde Papai era o dono do Restaurante Yankee Brasil, 4 assaltantes invadiram o estabelecimento. O Vitorino, um garçom cria de São João de Meriti, conseguiu escapar e aos gritos avisou aos seguranças (policiais de folga) do ponto de bicho que pertencia ao Mário, então proprietário de mais de uma dezena de cavalos que corriam nas pistas do Jockey Club Brasileiro. Troca de tiros, um meliante morto, 2 presos e o outro fugiu.
De regresso à atualidade do que aconteceu ontem nos Complexos do Alemão e da Penha, sou obrigado a perguntar-me:
Por que não cortaram o mal pela raiz na década de 1970?
Por que o discurso de que somente com acesso à educação se resolveria o problema da violência não foi transformado em realidade?
Por que as melhores condições de moradia não foram postas em prática?
Por que as políticas de segurança sempre visaram castrar uma vez o acontecido e jamais foram de prevenção?
Há 61 anos sob o lema de “bandido bom é bandido morto” nascia a Escuderia Le Cocq que originalmente era uma milícia de policiais no Rio de Janeiro que, ao longo dos anos, foi associada a grupos de extermínio. Posteriormente, o nome foi usado para uma associação de detetives particulares e ex-policiais.
Posteriormente o Esquadrão da Morte e o Mão Branca.
O filme Cidade de Deus embora lançado em 2002, narra cerca de 20 anos de história (1960–1980) da formação e do endurecimento da violência nas favelas cariocas.
Na década 1960 mostra o surgimento da favela Cidade de Deus, criada pelo governo como conjunto habitacional para famílias removidas de outras áreas do Rio.
Já nos anos 1970 acompanha o crescimento da criminalidade e o domínio das gangues de jovens, com destaque para a ascensão de Zé Pequeno.
No início dos anos 1980 - o filme termina nesse período - surge uma nova geração de traficantes tomando o controle da comunidade.
Tudo isso rolou durante os governos Médici, Geisel e Figueiredo. Por que eles não cortaram a cabeça daquela serpente?
Se você chegou até aqui sabe que a atualidade é apenas um remake, como a recente novela VALE TUDO.
Continua...
TEXTO DE:
Antonio Gonzalez
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