Lingua Preta
Não me faça perguntas, e eu não te direi mentiras.
terça-feira, 2 de dezembro de 2025
Kim Kataguiri ensina Marx
domingo, 30 de novembro de 2025
Até Breve, Paulo Andel
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| por Antonio Gonzalez |
Fito Cabrales, do FITO Y FITIPALDIS, canta em Antes que Cuente Diez:
“Puedo escribir y no disimular, es la ventaja de irse haciendo viejo”
O tempo nos escapa, dissolve o sentido horário, apaga a noção dos anos vividos.
Vivemos numa era em que a imprensa PONTOCOM celebra separações — MC Poze do Rodo e Vivi, Ivete Sangalo e Daniel, Gilmar Mendes e Guiomar — enquanto a cultura agoniza.
O que isso me acrescenta? Nada.
Não me culpem por não me importar com tempestades na Venezuela, cancelamentos de influencers, ou o fracasso cíclico da Rússia contra a Croácia. A vida envelhece rápido, e hoje perco mais do que ganho.
Joaquin Sabina disse em 19 Días y 500 Noches:
“Y el portazo sonó como un signo de interrogación”
No meu caso, foi um telefonema.
Do outro lado da linha, o GENTLEMAN, Raul Sussekind: “Mestre, infelizmente...”.
O silêncio rasgou. As lágrimas vieram. Eu sabia do grave estado do Paulo Andel, mas cada dia de internação ainda sustentava uma esperança frágil.
Pensei: “Puta que pariu, perdi meu irmão!”.
Conheci Andel no segundo semestre de 2014, após um desentendimento com o então colaborador Caldeira – hoje desterrado.
Fervi.
Então recebi no Facebook uma carta do Paulo, um texto apaixonante pedindo que eu não partisse pra porrada.
Aquelas palavras me conquistaram. A partir dali nasceu algo maior que amizade: um irmão de fé.
Sabia da minha trajetória nas arquibancadas dos anos 70 e 80 como poucos. Dizia que eu era seu ídolo, o que me deixava ruborizado. Defendia minha história e minha ética.
Divergíamos vez ou outra — “porra, você com esse costume de crucificar fulano” — por vezes acabava reconhecendo, mesmo que anos depois.
De cultura ímpar, transitava por literatura, música, futebol de botão e Fluminense como quem joga no escrete mundial.
Mas, como escreveu Nando Reis em Relicário:
“O mundo está ao contrário
e ninguém reparou”
Numa sociedade repleta de filhos da puta, falta espaço para alguém com tua dignidade. E, dessa vez, o “no balanço das horas tudo pode mudar”, da Banda Metrô, não funcionou.
Teu legado ultrapassa os livros publicados. Vive nos meus amigos Couceiro, Edgard, Raul, Cláudia Barros, Silvio, Marcelo Diniz, Jocemar, Thiago Muniz, Tarciso, na galera do Panorama Tricolor que você me apresentou, e no nosso querido e inigualável Conde Don Francisco da Zanzibar.
Este texto é um até breve. Minha saúde também pede arrego. Sinto. Pressinto.
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Três coisas antes do fim:
a) Você merecia um presente histórico na sua partida: 6 a 0 no São Paulo;
b) O Fluminense lembrou de você, fez uma nota — você me conhece, ponto para Mário Bittencourt; contra o Bahia, tua foto estará no Maracanã;
c) Na dedicatória do "Fla-Flu: o jogo que nunca termina" você escreveu: “Ao meu irmão, ídolo, parceiro, escudo das arquibancadas”. Isso me emociona todos os dias.
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Continuarei te representando: serei teu fiel escudo das arquibancadas.
A foto do Silvio Almeida nos define como irmãos.
Te amo. Até breve.
Antonio Gonzalez
sábado, 29 de novembro de 2025
Dez motivos para não perdoar Bolsonaro
(Com o devido enquadramento jurídico, para evitar recaídas civis)
De vez em quando, algum espírito iluminado — talvez tomado por um surto de romantismo constitucional — pergunta:
“Mas não está na hora de perdoar Bolsonaro?”
A resposta, meus caros, exige o rigor mínimo da análise jurídica, ainda que temperada com ironia: não, não está.
E não por ressentimento, mas por um motivo simples: há condutas que, mesmo que um dia venham a ser julgadas — e algumas já estão — não cabem no campo místico do perdão barato.
Vamos aos fatos — ou, se preferir, ao hall of infame de infrações éticas, morais e, em certos casos, legais.
1. A omissão dolosa na pandemia
Art. 13 do Código Penal: quem podia evitar o resultado e não evitou, responde por ele.
No caso, a opção foi não apenas deixar de evitar: foi sabotar.
Perdoar? Seria premiar o “E daí?” como tese jurídica.
2. A guerra santa contra a ciência
O art. 37 da Constituição exige eficiência na administração pública.
Substituir ciência por cloroquina é o oposto disso — é ineficiência qualificada.
Não há perdão possível para quem tenta resolver uma pandemia com achismo de botequim.
Fora o crime de charlatanismo previsto no Código Penal (art. 283).
3. As mortes transformadas em planilha fria
O princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) virou figurante enquanto vidas eram tratadas como métricas.
Pode-se absolver alguém que reduziu pessoas a estatísticas?
Não sem violentar a Constituição — novamente.
4. Racismo, homofobia e misoginia como método
Racismo é crime inafiançável e imprescritível (art. 5º, XLII).
Homofobia foi equiparada ao mesmo tratamento pelo STF.
E misoginia? Entra no pacote da discriminação.
Chamar tudo isso de “brincadeira” é insulto — e péssima tese de defesa.
5. Glorificação da violência e do torturador
O Brasil tem tratados internacionais que proíbem a tortura.
E lá estava o ex-presidente fazendo elegia aos torturadores.
Perdoar seria repudiar o sistema jurídico brasileiro só para agradar a nostalgias autoritárias.
6. O flerte permanente com o autoritarismo
Incitar golpe é violar o art. 5º, XLIV — crime inafiançável.
E ainda fez isso com a competência de quem tenta invadir o próprio Facebook achando que é senha de Wi-Fi.
Difícil perdoar inclusive pelo ridículo.
7. A fabricação industrial de ódio político
O discurso de ódio, quando praticado por agente público, lesa não apenas pessoas — lesa o Estado Democrático de Direito.
E alguém quer perdoar quem fez do ódio uma política de governo?
Se quiser, peça também a revogação da Lei de Improbidade, para combinar.
8. A fé transformada em cabo eleitoral
E esse item me aflige diretamente, pois sou cristão evangélico há anos.
A Constituição separa Estado e religião (art. 19, I).
Bolsonaro misturou púlpito com comício como quem mistura café com açúcar, com a cumplicidade de péssimos pastores.
Perdoar seria legitimar a quebra do Estado laico com recibo.
9. O sequestro da ideia de nação
Confundir governo com país viola o próprio espírito republicano (art. 1º, caput).
Para Bolsonaro, quem discordava não era adversário — era inimigo.
E inimigo, na lógica dele, não é cidadão.
E cidadão sem cidadania é um problema jurídico dos bons.
10. A ausência olímpica de arrependimento
O Direito Penal até admite arrependimento eficaz.
Mas para isso é preciso haver arrependimento.
No caso, há apenas recaídas discursivas, tentativas de golpe e passeios estratégicos ao redor do sistema judicial.
Perdoar quem não se arrepende é transformar perdão em erro material.
Conclusão jurídica e moral
Perdão não é uma abstração mística.
É uma categoria ética que pressupõe consciência da culpa.
E, até o momento, Bolsonaro não demonstrou consciência, culpa ou sequer constrangimento.
Perdoá-lo exigiria reformar o Código Penal, relativizar a Constituição, ignorar tratados internacionais e suspender a lógica.
E ainda assim, o resultado seria duvidoso.
Portanto, se algum dia você sentir a tentação de perdoar Jair Messias Bolsonaro, lembre-se:
nem a lei permite tanto zelo com quem tratou o país como laboratório de devastação.
SEM ANISTIA
De Eunice Paiva a Michelle Bolsonaro: Quando a história ensina com duas visitas a diferença entre Ditadura e Democracia
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| Por João Guató - Comparando a dor silenciosa da ditadura com o chororô fotogênico permitido pela democracia. |
Paulo Andel por Jocemar
sexta-feira, 28 de novembro de 2025
Paulo-Roberto Andel
“Ideologia eu quero uma pra viver…” (Cazuza)
Paulo-Roberto Andel, nascido em 1968; no ano da dura repressão da ditadura militar no Brasil, um ano atípico de vários movimentos pelo mundo, dentre eles: Os Panteras Negras e o banimento dos atletas vencedores dos 100 metros rasos nas Olimpíadas da Cidade do México com o gesto de punho cerrado e braço para o alto; o movimento estudantil na França, manifestações contra a Guerra do Vietnã, a instauração do AI-5 no Brasil e o assassinato de Martin Luther King Jr.
A efervescência cultural, com movimentos como a Tropicália no Brasil, também foi um reflexo das mudanças e tensões da época.
Andel nasceu em um ano de caos, mas foi criado com muito amor por sua mãe, sobre quem ele já contou várias histórias engraçadas, e recebeu do pai tudo o que ele pôde lhe prover.
Andel foi um arrimo de família e isso não é nenhum demérito, foi líder de escotismo, é um torcedor fanático pelo Fluminense e hoje se tornou o escritor com mais publicações sobre o clube, e isso é um fato.
Um apaixonado por jazz e muito conhecedor da cultura pop; por pouco não se tornou VJ da minha querida finada MTV Brasil. Um homem que honrou seus pais até seus últimos segundos de vida, não largou a mão de nenhum dos dois, um filho extremamente leal.
Como tenho admiração pelo Paulo, não é só um amigo mas uma referência cultural e editorial.
Me vejo há exatamente dez anos atrás no longíquo 2015 publicando o primeiro texto no Panorama Tricolor sobre 1969 e a relação com a música “Aquele Abraço” do nosso orixá em Terra Gilberto Gil e até então o septuagésimo texto sobre o falecimento do querido Celso Barros.
Como o meu texto evoluiu bebendo da fonte Paulo-Roberto Andel, o quanto sou grato por tê-lo em minha vida; um cara agregador de tribos distintas e consegue unir num só propósito: o Fluminense.
Para quem não sabe, Andel é ateu; mas dessa vez vou ignorar esse detalhe e rogar aos deuses, anjos e aos orixás que o acolham para a sua recuperação da melhor maneira possível. E também dizer que não está só; tem uma rede de amigos que te amam e querem o seu bem pois ele pratica o bem.
Sigamos na fé!
TEXTO DE:
Thiago Muniz
NOTA:
No momento deste texto, Andel está sob tratamento de saúde.
quarta-feira, 26 de novembro de 2025
A saúde entre a cruz e a espada
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| por Antonio Gonzalez |
Quando enfim a cirurgia de próstata foi aprovada, os exames pré-operatórios me deram uma sentença: a diabetes, fora de controle, impediria a mesa cirúrgica. A cicatrização seria um convite ao caos. De agosto para cá, essa mesma diabetes ganhou apetite tecnológico, exigindo insulinas de ponta para manter o mínimo de ordem no organismo.
Enquanto isso, a vida não poupou os meus. O Aieta e minha irmã travaram batalhas duras com suas tireoides – e vieram as cirurgias.
Meu irmão Paulo Andel enfrenta um momento gravíssimo, desses que tiram o sono dos amigos mais fortes.
Da Espanha, chegam notícias duras sobre minha sobrinha Alba Maria, que talvez precise colocar uma placa metálica na coluna cervical.
Puta que pariu!
Cada dia uma cruz, cada noite uma espada. O emocional grita por um sopro de paz.
E tudo isso acontece num Brasil que parece brincar com o próprio futuro. A política expõe o país dividido entre os interesses das classes dominantes – aquelas que acreditam que a vida é um vale-tudo onde vale tudo – e aqueles que ainda defendem um senso democrático de pertencimento, de evolução coletiva, de responsabilidade com o outro.
A violência cresce como mato em terreno abandonado. Mas não se combate desigualdade, crime e abandono apenas encarcerando a base da pirâmide. Cadeia não pode ser destino exclusivo dos soldadinhos de comando. É preciso mirar o topo: quem financia, quem importa drogas e armas, quem lucra com o caos e, muitas vezes, se abriga sob mandatos políticos bem vestidos.
E isso nos traz ao Fluminense, onde a política interna também revela suas próprias sombras. A eleição se aproxima e minha leitura é direta: Ademar Arraes não representa a linha ideológica de Júlio Bueno – linha que ele próprio jamais apoiou. Montou uma chapa que, em caso de vitória, implodirá em vinte pedaços no dia seguinte. Só não vê quem desconhece o tabuleiro e o artesanato político de Jackson Vasconcelos.
Cazuza cantou em “Boas Novas” que viu a cara da morte – e ela estava viva. Eu também vi. E digo: que se foda a morte. Estou vivo. E oro diariamente para que o Paulo Andel também a mande se foder, com a mesma força.
O número da chapa de Ademar é 30.
Trinta foram as moedas que Judas recebeu para trair Jesus Cristo.
O fake LOUCO DA CABEÇA personifica essa candidatura. A ira que ele plantou denuncia sua verdadeira natureza. E, como o Iscariotes, caminhará a passos largos em direção à própria forca, empurrado pelo ódio que cultiva.
Já houve quem acreditasse, no Fluminense, que bastava trocar Gil Carneiro de Mendonça por Álvaro Barcellos. Erro histórico. Não se constrói futuro trocando apenas nomes, nem reduzindo o clube a ressentimento, truculência e mediocridade.
O Fluminense não pode ser pensado entre a cruz e a espada. Nunca. Se algo está errado, grite. Denuncie. Participe. Apresente propostas reais. Mas vote com inteligência, com responsabilidade histórica e com espírito coletivo.
Porque, no fim das contas, isso também é saúde. Saúde institucional, emocional, social – e de um clube que pertence a todos nós.
TEXTO DE:
Antonio Gonzalez


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