quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Dia da Consciência Negra

Abdias do Nascimento é um ícone da luta pela consciência negra! 

Fomos Secretários juntos no Governo Garotinho quando criamos em 2001, com outros Secretários e também com o forte envolvimento da Vice Governadora, Benedita da Silva, a primeira Lei no Brasil de Cotas Raciais (aplicada a UERJ), que parte das elites era contrária a ponto de buscarem até mesmo caracterizá-la (sem sucesso) junto ao STF como inconstitucional.

Após isso, o Governo Federal só faz a lei nacional, mais de 10 anos depois, em 2012 .

Tenho muito orgulho de ter participado desse pioneirismo e luta, aliás, na ocasião, como um dos porta vozes até em homenagem a uma das mães que me criou, Elizia, que é negra, e me ensinou como é doloroso o racismo e as restrições históricas ao crescimento para as pessoas negras e de condição social desfavorecida.  

O sistema de cotas no Brasil virou um case de política pública de sucesso e pavimentou uma série de ações afirmativas que hoje já estão em práticas de diversas corporações.

TEXTO DE:
Wagner Victer

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Eunice Paiva


A tática do desaparecimento é a mais cruel, eles somem com uma pessoa e trazem sofrimento sem fim para todos que a amam.” ( ( Eunice Paiva )

Quem conhece um pouco da família de Rubens Paiva, seus dramas e nuances vividas, constata que Eunice Paiva foi uma mulher de fibra, principalmente na era das trevas da ditadura militar.

O drama passado por essa família é uma breve amostra do que milhares de famílias sofreram durante o regime militar.

Eunice era casada com o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva; tinham 5 filhos e viviam uma vida feliz, mesmo com as adversidades que o país impunha naquele momento. Após o desaparecimento de seu marido, não se deixou marcar pelo drama, afinal viu que a vida deveria seguir, mesmo com a falta de respostas.

Depois de viúva, formou-se em direito e continuou o trabalho como ativista. Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva se formou aos 48 anos e se tornou ativista da causa indígena. Foi uma das fundadoras do Iama ( Instituto de Antropologia e Meio Ambiente ) e atuou na ONG de 1987 até 2001. Tornou-se uma das principais vozes pela promulgação da Lei 9.140/95. A lei reconhece como mortas as pessoas desaparecidas em razão de participação em atividades políticas durante a ditadura militar.

Eunice só conseguiu o atestado de óbito de Rubens Paiva em 1996. Após 25 anos de luta, ela conseguiu que o Estado brasileiro emitisse o documento. A primeira prova objetiva de seu assassinato só foi encontrada 41 anos depois de seu desaparecimento, em novembro de 2012, com uma ficha que confirmava sua entrada em uma unidade do DOI-Codi. A essa altura, Eunice já era uma advogada prestigiada, advogava em prol das causas indígenas e tinha criado os 5 filhos sem apoio do Estado. Apesar de imensos esforços e da comissão da verdade, ninguém foi preso até hoje pelo assassinato de Rubens Paiva. Eunice morreu em 2018 após lutar 15 anos contra o Alzheimer.
TEXTO DE:
Thiago Muniz

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

O G20 de Lula


Mas a economia e a política internacional não são monopólio de especialistas e nem de burocratas.
(Luiz Inácio Lula da Silva)

Assisti imagens do presidente Lula recebendo os chefes de Estado da cúpula do G20 com uma ternura e empatia, que me dá a sensação de que escolhi o voto certo. A diferença de tratamento a todos sem exceção é digna de respeito, um exemplo de estadista, onde preza as relações diplomáticas com ampla versão e não se importando se haverá reciprocidade, e sabemos quais são os países, mas isso não importa.

Num mundo tão ambicioso, egoísta, misógino, racista e homofóbico que estamos vivendo atualmente; é de suma importância um líder carismático reunir as 20 maiores economias do mundo, parar e refletir para que se entre num consenso. Falta ao mundo consenso, parar de gastar dinheiro exacerbado com guerras e mortes, usar para tirar populações da fome.

Os membros do G20 têm o poder e a responsabilidade de fazer a diferença para muita gente. Para o planeta, ao incentivarem a ambição climática em linha com o objetivo de limitar o aquecimento global a um grau e meio, como fez a Força Tarefa do Clima. Na prática, o presidente criou uma terceira trilha, que é o G20 Social, potencializando o trabalho dos grupos de engajamento e abrindo espaço para que a sociedade civil organizada do mundo inteiro pudesse contribuir com as políticas públicas que serão apresentadas aos chefes de Estado.

Este é um momento histórico para mim e para o G20. Ao longo deste ano, o grupo ganhou um terceiro pilar, que se somou aos pilares político e financeiro: o pilar social, construído por vocês. Aqui tomam forma a expressão e a vontade coletiva, motivadas pela busca de um mundo mais democrático, justo e diverso.
(Luiz Inácio Lula da Silva)

TEXTO DE:
Thiago Muniz

Em um outro tempo: A história Mount Athos e outros naufrágios no Litoral Gaúcho

O litoral gaúcho, no trecho compreendido entre o balneário de Dunas Altas em Quintão e a barra da Lagoa dos Patos em São José do Norte, abriga em sua extensão uma série de naufrágios que justificam a expressão “cemitério de navios” empregada para descrever este trecho da costa.

São 250km de praia reta e deserta, entrecortados por faróis, pequenas vilas de pescadores e raros balneários de veraneio, formando uma região extremamente isolada e por isso mesmo de natureza bastante preservada. Extensas dunas e banhados acompanham a praia em toda a sua extensão, e nos meses de inverno não é raro encontrar pela praia animais marinhos como pingüins, desviados de suas rotas migratórias pelas correntes marinhas. Em função de tudo isso, vencer os 250km de areia entre Dunas Altas e São José do Norte se constitui numa aventura que todo proprietário de um veiculo 4x4 deveria fazer, pelo menos uma vez na vida.

Dentre os diversos naufrágios ocorridos na costa gaúcha, um dos mais notáveis e conhecidos é o navio cargueiro Mount Athos, cujos restos repousam na praia, 15km a norte do Farol da Solidão.


Antes da instalação de uma rede de faróis entre Torres e o Chuí, bem como o surgimento da navegação por GPS, o litoral gaúcho foi palco de incontáveis naufrágios. O vento “nordestão” e o “carpinteiro” agravavam a situação, fazendo da nossa costa uma verdadeira armadilha para a navegação. Estas características valeram ao nosso litoral, considerado um dos mais perigosos do mundo, o apelido de “cemitério de navios”. 

Uma das vítimas foi o navio “Mount Athos”, de 164 metros de comprimento. No dia 11.03.1967 o cargueiro grego, que transportava adubo para Rio Grande, foi acossado pelo vento e por fortes ondas. Ao aproximar-se demasiadamente da costa, a embarcação colidiu com um banco de areia, vindo a dar na praia com os seus 28 tripulantes. Todos se salvaram. Estava a 15 quilômetros ao norte do Farol da Solidão, nas coordenadas aproximadas de 30ºS31’/50ºW20’.

O Mount Athos foi desmontado pelos Irmãos Mollet de Porto Alegre e seus restos encaminhados para a siderúrgica Rio Grandense. Ainda hoje, no entanto, nas ocasiões de mar baixo, é possível observar os restos do fundo do " Mount Athos”.Além do Mount Athos, este trecho deserto da costa gaúcha abriga ainda uma quantidade razoável de outros naufrágios menores, muitos deles visíveis nas areias ou na beira da praia.

Deste, localizado em torno de 20km ao sul do Farol da Solidão, restou o casco de aço na praia.

Relato de quem viveu essa história!
Posso considerar que fui um "piá" de sorte, pois na primavera de 1967 meu pai pegou o seu Aero-Willys-1961 e levou toda família para visitar o navio soçobrado. Nas fotos da família Zuazo Sanchis, o meu pai Fernando, a minha mãe Eloina, Mende (a menina), José Fernando e Miguel (o caçula).


Reportagem/JFV (Desde 1976)
📷 Divulgação (Rede social)
jornalfolhadovalemetropolitano@gmail.com

sábado, 16 de novembro de 2024

Governo mira pensões militares para cortar gastos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu incluir o Ministério da Defesa nas discussões sobre o pacote de corte de gastos discutido há duas semanas pelo governo. Na mesa de negociação, está o regime de previdência dos militares e a proposta de pôr fim à pensão vitalícia para as filhas solteiras de militares falecidos.

Faz muito bem, diga-se. Se um setor da sociedade especula tomar o poder por uso de força, o mínimo que pode fazer é contribuir com as finanças do país.

O pagamento destas pensões foi extinto em 2001, mas a despesa com o benefício ainda é bilionária, já que militares que entraram até 2000 poderão garantir esse benefício à sua filha quando morrer. Em 2020, a União gastou R$ 19,3 bilhões com pensões de dependentes de militares. A maior parte do dinheiro foi para as filhas, muitas delas em idade produtiva.

Das 226 mil pessoas que recebem esse tipo de benefício no País, 137.916, ou 60% do total, são filhas de militares já mortos, segundo dados inéditos divulgados à época pela Controladoria-Geral da União (CGU), por meio do Portal da Transparência.

A reunião que irá discutir o tema entre o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e o presidente Lula está prevista para esta quarta-feira, 13. O tema sobre regime de previdência dos militares é tratado como delicado no governo, pois envolve uma negociação entre o presidente Lula e as Forças Armadas, além da aprovação pelo Congresso.

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, defendeu publicamente a inclusão da previdência dos militares na agenda de revisão de gastos do governo federal ao longo do ano. 

A previdência dos militares arrecadou R$ 9,1 bilhões no ano passado, mas as despesas totalizaram R$ 58,8 bilhões, resultando em um déficit de R$ 49,7 bilhões, apontou o Tribunal de Contas da União (TCU) no relatório das contas.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Ainda Estou Aqui

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer…
(Geraldo Vandré)

"Ainda Estou Aqui" pode ser em qualquer lugar. Tempo. E ditadura. Ainda mais as covardes que não assumem crimes contra a humanidade.

A obra de Walter Salles, baseada no livro e na vida de Marcelo Rubens Paiva e família, não é sobre política. A minha esquerda, a sua direita. Não é sobre o Rio, São Paulo, Brasil, anos 1970, ainda que tão gostosamente resgatados. É sobre uma família que num dia foi dormir sem o pai que não pegava em armas. Mas foi pego por ajudar quem delirava mudar um país onde também faltava humanidade. Respeito. E não apenas de um lado.

O filme toma partido, é claro e compreensível. Mas ele não empunha bandeira e ideologia. Apenas se enrola em algumas e nos encanta e acolhe como pavilhão como se o pai desaparecido fosse o meu. O seu.

O filme tem algumas coisas que um sujeito chato e detalhista nota. Devem ter mais alguns "aindas" anacrônicos. Normais.

Mas o que mais importa é que o pai deles e marido dela "ainda" está aqui. E eu também me senti ali ao lado deles. Tanto faz se à esquerda ou à direita. Mas sempre ao lado de quem é família.

Uma história que a gente podia ouvir à noite narrada pela voz de Cid Moreira ou José Wilker. Como a voz do Brasil tão familiar como as Fernandas. Mãe e filha de atuações espetaculares. E a matriarca, sem dizer uma palavra em cena, dizendo tudo pelo olhar. Podem até dizer que com a memória perdida. Prefiro falar com a memória pétrea e perpétua.

Como um longo filme das nossas vidas. Como se a humanidade tivesse mesmo desaparecido num longo e eterno dia carioca. Sem recado, mensagem, respeito, empatia. O filme merece o reconhecimento que vem recebendo, tanto por parte da crítica especializada quanto do público, pela forma como retrata um importante capítulo da história brasileira, capturando com maestria a dor e a resiliência dos personagens envolvidos. É particularmente significativo que o público brasileiro possa testemunhar essa obra de grande relevância, que reflete de maneira sensível e autêntica a realidade do país.

Em um cenário onde produções nacionais frequentemente enfrentam dificuldades para conquistar o público, “Ainda Estou Aqui” se sobressai, despertando elogios nacionais e internacionais, tanto pela direção impecável de Salles quanto pelo roteiro e pelas atuações marcantes do elenco.

TEXTO DE:
Thiago Muniz

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Escala 6x1 e o Pensamento Escravista

…Na morte eu descanso
Mas o sangue anda solto
Manchando os papéis
Documentos fiéis
Ao descanso do patrão…
(Renato Russo)

A famosa escala 6x1, é a alegria de muitos patrões pelo Brasil afora, onde a empresa não pára e faz com que os funcionários produzam em larga escala. Isso em tese.

Mas será que produzem de fato com qualidade?

As pesquisas já provaram que não, vide que a qualidade de vida do funcionário cai drasticamente em virtude da longa jornada de trabalho e pouco tempo para o descanso. 

A escala 6x1 é de fato uma escravidão com carteira assinada. Essa escala faz parte do pensamento escravista dos empresários brasileiros que acham que o trabalhador é pior que uma máquina, e que precisa ser combatido. É necessário implementar alternativas que promovam uma jornada de trabalho mais equilibrada, permitindo que os trabalhadores desfrutem de tempo para suas vidas pessoais e familiares.

Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) em conjunto com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontou que exceder o limite de 40 horas semanais com frequência pode gerar problemas fatais.

Entre 2000 e 2016, cerca de 750 mil pessoas morreram devido às longas horas de trabalho, segundo o documento. No Brasil, a CLT impõe 44 horas semanais ao empregado.

As pessoas que trabalham na escala 6x1 estão numa situação análoga à escravidão. O Brasil foi o segundo país com mais casos de burnout (doença ocupacional decorrente do esgotamento físico, emocional e mental), segundo a pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR), realizada em 2021. Ainda de acordo com a organização, cerca de 30% dos trabalhadores no Brasil sofrem com a síndrome. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o trabalho em excesso pode levar a doenças graves e até à morte.

Movimentos neoliberais colonialistas empresariais e órgãos da imprensa tentam dizer pra você pensar o contrário, com o mesmo argumento de “afetar a economia”, mas isso já fazem desde o fim da escravidão, da criação do salário mínimo, da implementação do CLT e até do 13 salário.

Não caia nessa armadilha.


TEXTO DE:
Thiago Muniz