Ou quem sabe, em uma fazenda de erva mate, uma carvoaria, ou em um semáforo vendendo balinhas
A resposta é sempre a mesma, claro que não.
Pessoas que dizem isso, geralmente, são aquelas cujos filhos só irão trabalhar após terminar a universidade.
Não que a criminalidade entre os menores não deva ser combatida, muito pelo contrário, apoio até mesmo a redução da maioridade penal.
Porém, criar um discurso medíocre como o de que "no meu tempo não era assim" tampouco resolve nada.
O que sabemos que existe ao menos no papel é:
Princípio I - À igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade.
A criança desfrutará de todos os direitos enunciados nesta Declaração. Estes direitos serão outorgados a todas as crianças, sem qualquer excepção, distinção ou discriminação por motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de outra natureza, nacionalidade ou origem social, posição econômica, nascimento ou outra condição, seja inerente à própria criança ou à sua família.
O que na prática não significa nada.
Quando o texto da Declaração dos Direitos das Crianças diz sem distinção ou discriminação por motivos de raça, cor, origem social e posição econômica, cria um problema: como conseguir cumprir isso?
O que vemos hoje, é uma grande resistência da maior parcela da população a qualquer benefício concedido aos que estão incluídos nestas condições
No nosso Mato Grosso do Sul, a mídia local controlada pelos nossos velhos conhecidos, os fazendeiros, criaram a imagem do "índio bêbado e vagabundo". E basta uma pequena pesquisa nas ruas para descobrir que o povo aceitou essa ideia a ponto de repetir a cantilena de cor e salteado.
Sempre encontramos aqueles que são contra as cotas raciais em vestibulares, concursos, etc, sempre debaixo do argumento de que somos todos iguais e que deveria ser respeitada a meritocracia. Ironicamente são sempre brancos que defendem essa tese
Uns poucos negros que também são contra as cotas em geral já são formados, portanto o fim das cotas não os afetaria.
Já, os que se encontram nas classes sociais mais baixas já são de pronto taxados de "vagabundos que não querem trabalhar".
Agora pegue tudo isso que foi citado e tente encaixar uma criança nesse quadro.
Em uma sociedade onde o "ter" é mais valorizado que o "ser", como fazer uma criança entender que aquele papai noel que ele acredita, só vai a shoppings de helicóptero e nunca no mercado da esquina?
Como faze-lo entender que ele nunca vai correr em um gramado verde debaixo da chuva em direção ao pai e receber um abraço, simplesmente porque quando seu pai chega do trabalho ele já está dormindo? E que quando chove, é melhor não sair de casa por causa dos deslizamentos ou enchentes?
A sociedade prega que você só é feliz se puder ter essa ou aquela roupa, que a vida tem mais cor quando você tira uma foto com o tipo certo de celular.
Então a criança descobre que seus pais nunca lhe darão o que a sociedade exige que ele tenha para ser alguém
Só restam duas saídas:
Largar a escola e ir catar coisas no lixão para ajudar em casa.
Ou aceitar aquela arma do chefe da quebrada e tomar a força aquilo que ele quer e acredita que a vítima tem sobrando.
Se não chegar a morrer ou ser apanhado, um dia mate alguém. Quem sabe?
No fim, sairia bem mais fácil apagar aquele trecho da Declaração, ou rasgar o papel de uma vez.
Mas quem sabe se assistirmos ao criança esperança ou ao teletom não acreditemos que o mundo já melhorou?
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