É terça. Chove no Rio. A vida é difícil e opressora. As pessoas sofrem demais, enquanto certa elite econômica alimenta profundo desprezo pelo próximo e pela cidade. A cidade é linda, mas também hostil e não se limita à beleza da enseada de Botafogo ou do Atlântico Sul. Sim, há muita beleza mas também miséria e dor.
O feriado é uma espécie de indulto de Natal da opressão carioca. Um dia de folga é um dia de liberdade para um zilhão de pessoas, que apenas sobrevive entre horas em pé no trem e horas em pé no trabalho. Quando chega em casa não descansa, mas desmaia. Então o feriado é na quinta e a gente já espera o alívio na terça. Um dia sem ser amassado feito sardinha moída em lata é um alívio enorme.
A minoria com algum dinheiro mas longe da riqueza quer celebrar o feriado fugindo da cidade. Pega o carro, mete o pé, emenda a sexta, respira até domingo e volta. Não é uma turma humilhada pela SuperVia e congêneres, mas não deixa de ser oprimida. Para manter seu "padrão de vida", submete-se a práticas detestáveis do mundo corporativo em troca de ostentar fotos no Instagram, e comprar ingressos para os shows de Paul McCartney e Roger Waters - em doze vezes sem juros.
Já fica um clima de tchau no ar. Os pequenos comerciantes são os novos mendigos de luxo, pedindo esmola para os clientes que só pensam no feriado. Um dia de liberdade.
É bom que se diga: feriados são ótimos para descansar e se divertir. O problema é que, para vivê-los na outrora cidade maravilhosa, a gente precisa queimar a véspera, a antevéspera, o dia seguinte e o fim de semana. Tudo para ter algum alívio. No fim, parece até um empréstimo bancário com os tradicionais juros agressivos, que a gente paga com dias de vida. Depois, fazemos as contas para o próximo feriado.
É terça, dia 05, chove no Rio. Há pessoas desesperadas, desalentadas e outras entregues à própria morte. É um novo feriado.
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