“A tática do desaparecimento é a mais cruel, eles somem com uma pessoa e trazem sofrimento sem fim para todos que a amam.” ( ( Eunice Paiva )
Quem conhece um pouco da família de Rubens Paiva, seus dramas e nuances vividas, constata que Eunice Paiva foi uma mulher de fibra, principalmente na era das trevas da ditadura militar.
O drama passado por essa família é uma breve amostra do que milhares de famílias sofreram durante o regime militar.
Eunice era casada com o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva; tinham 5 filhos e viviam uma vida feliz, mesmo com as adversidades que o país impunha naquele momento. Após o desaparecimento de seu marido, não se deixou marcar pelo drama, afinal viu que a vida deveria seguir, mesmo com a falta de respostas.
Depois de viúva, formou-se em direito e continuou o trabalho como ativista. Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva se formou aos 48 anos e se tornou ativista da causa indígena. Foi uma das fundadoras do Iama ( Instituto de Antropologia e Meio Ambiente ) e atuou na ONG de 1987 até 2001. Tornou-se uma das principais vozes pela promulgação da Lei 9.140/95. A lei reconhece como mortas as pessoas desaparecidas em razão de participação em atividades políticas durante a ditadura militar.
Eunice só conseguiu o atestado de óbito de Rubens Paiva em 1996. Após 25 anos de luta, ela conseguiu que o Estado brasileiro emitisse o documento. A primeira prova objetiva de seu assassinato só foi encontrada 41 anos depois de seu desaparecimento, em novembro de 2012, com uma ficha que confirmava sua entrada em uma unidade do DOI-Codi. A essa altura, Eunice já era uma advogada prestigiada, advogava em prol das causas indígenas e tinha criado os 5 filhos sem apoio do Estado. Apesar de imensos esforços e da comissão da verdade, ninguém foi preso até hoje pelo assassinato de Rubens Paiva. Eunice morreu em 2018 após lutar 15 anos contra o Alzheimer.
Thiago Muniz
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