domingo, 30 de novembro de 2025

Até Breve, Paulo Andel

por Antonio Gonzalez

Fito Cabrales, do FITO Y FITIPALDIS, canta em Antes que Cuente Diez:

Puedo escribir y no disimular, es la ventaja de irse haciendo viejo

O tempo nos escapa, dissolve o sentido horário, apaga a noção dos anos vividos.

Vivemos numa era em que a imprensa PONTOCOM celebra separações — MC Poze do Rodo e Vivi, Ivete Sangalo e Daniel, Gilmar Mendes e Guiomar — enquanto a cultura agoniza.

O que isso me acrescenta? Nada. 

Não me culpem por não me importar com tempestades na Venezuela, cancelamentos de influencers, ou o fracasso cíclico da Rússia contra a Croácia. A vida envelhece rápido, e hoje perco mais do que ganho.

Joaquin Sabina disse em 19 Días y 500 Noches:

Y el portazo sonó como un signo de interrogación

No meu caso, foi um telefonema. 

Do outro lado da linha, o GENTLEMAN, Raul Sussekind: “Mestre, infelizmente...”. 

O silêncio rasgou. As lágrimas vieram. Eu sabia do grave estado do Paulo Andel, mas cada dia de internação ainda sustentava uma esperança frágil. 

Pensei: “Puta que pariu, perdi meu irmão!”.

Conheci Andel no segundo semestre de 2014, após um desentendimento com o então colaborador Caldeira – hoje desterrado.

Fervi.

Então recebi no Facebook uma carta do Paulo, um texto apaixonante pedindo que eu não partisse pra porrada.

 Aquelas palavras me conquistaram. A partir dali nasceu algo maior que amizade: um irmão de .

Sabia da minha trajetória nas arquibancadas dos anos 70 e 80 como poucos. Dizia que eu era seu ídolo, o que me deixava ruborizado. Defendia minha história e minha ética.

Divergíamos vez ou outra — “porra, você com esse costume de crucificar fulano” — por vezes acabava reconhecendo, mesmo que anos depois.

De cultura ímpar, transitava por literatura, música, futebol de botão e Fluminense como quem joga no escrete mundial.

Mas, como escreveu Nando Reis em Relicário:

O mundo está ao contrário

e ninguém reparou

Numa sociedade repleta de filhos da puta, falta espaço para alguém com tua dignidade. E, dessa vez, o “no balanço das horas tudo pode mudar”, da Banda Metrô, não funcionou.

Teu legado ultrapassa os livros publicados. Vive nos meus amigos Couceiro, Edgard, Raul, Cláudia Barros, Silvio, Marcelo Diniz, Jocemar, Thiago Muniz, Tarciso, na galera do Panorama Tricolor que você me apresentou, e no nosso querido e inigualável Conde Don Francisco da Zanzibar.

Este texto é um até breve. Minha saúde também pede arrego. Sinto. Pressinto.


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Três coisas antes do fim:

a) Você merecia um presente histórico na sua partida: 6 a 0 no São Paulo;

b) O Fluminense lembrou de você, fez uma nota — você me conhece, ponto para Mário Bittencourt; contra o Bahia, tua foto estará no Maracanã;

c) Na dedicatória do "Fla-Flu: o jogo que nunca termina" você escreveu: “Ao meu irmão, ídolo, parceiro, escudo das arquibancadas”. Isso me emociona todos os dias.


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Continuarei te representando: serei teu fiel escudo das arquibancadas.

A foto do Silvio Almeida nos define como irmãos.

Te amo. Até breve.

Antonio Gonzalez

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