Virou estrela...
Conheci Paulo, há mais ou menos 30 anos, nos campeonatos de botão dos quais participávamos, no corredor subterrâneo do Edifício Edson Passos, na Av. Rio Branco, organizados pelos amigos da Livraria Berinjela e que aconteciam um domingo por mês.
Fazíamos o clássico Flu × Flu, como costumávamos dizer. Ao contrário da maioria dos jogos das outras mesas e de outros amigos, o nosso era tranquilo, quase um amistoso e praticamente não precisava de juiz.
Ele me venceu na maioria das vezes. Jogava muito com seu time de botões simples, assim como ele. Espalhava os pequenos jogadores pela mesa, sem muita arrumação (sem papagaiada...). Jogava muito. Uma precisão absurda nos disparos. Às vezes eu levava meu filho, na época com 7, 8 anos. Por conta disso, mais tarde, meu filho foi personagem de uma crônica sua, no livro "Cenas do Centro do Rio I".
Ficamos amigos desde então. Fomos a shows juntos. Tomamos muitos cafezinhos pelo Centro do Rio, garimpamos CDs juntos, compartilhamos muitas histórias e cenas que virariam crônicas, minhas e principalmente dele. Ele chegou a publicar uma crônica minha no Blog "Otras palabras" e sempre me incentivou a escrever. Era generoso em sua crítica.
Fomos a muitos jogos do Flu, no Maraca. Vibramos muito e sofremos demais nos anos e jogos que antecederam o milagre de 2009 - jogos que gerariam as crônicas de seu livro "Do Inferno ao Céu". Fiquei tão entusiasmado com o livro, que fiz um cordel, de 180 versos, em 30 estrofes, com o mesmo título em homenagem. Ficamos muito amigos.
Em 2017, Paulo me propôs abrirmos um Sebo juntos. Conversamos sobre o tema por quase dois anos e em fevereiro de 2019, juntamente e com o auxílio luxuoso do querido amigo Silvio Almeida, apresentado a mim por ele, abrimos o Sebo X, no espaço disponibilizado pelo Silvio, e onde funcionava seu estúdio fotográfico.
Sebo e Estúdio se espremiam e assim começou essa página da nossa história e convivência. Livros, CDs, LPs, ensaios de fotos, pockets shows, palestras, lives do Panorama (com a bandeira sobre a mesa). Rolou de tudo. Até meu filho, aquele da crônica, agora um homem, tocou lá, numa série de shows solos.
Pois é... foi muita coisa que aconteceu, muita gargalhada, trabalho, alegrias, tensões, vitórias, derrotas, cansaço, resenhas, planos, conquistas, grandes amizades... Amigos que saíram, outros que chegaram...
Hoje, com a notícia de sua partida no áudio do querido e incansável Raul, no Sebo ficou um imenso vazio. Sentei, respirei, lembrei dele, levantei e meio incrédulo, sem olhar para suas coisas espalhadas pelos cantos da sala, fechei o Sebo e saí.
Parei na portaria e falei com os porteiros, que gostavam muito dele. Fui até o seu prédio e comuniquei o ocorrido ao porteiro Maurício, também tricolor, de quem Paulo gostava muito também.
Maurício ficou com os olhos vermelhos ao receber a notícia. No trajeto do Sebo X até o prédio onde nosso já saudoso amigo morava, falei com minha mulher, com Silvio, com o tambbém querido Marcelo Diniz, com dois amigos da loja de CDs vizinha do sebo. A voz estava embargada. Na verdade eu queria mesmo era andar, pegar um ar de frente no rosto.
Agora, é tocar em frente, pois afinal a vida tem que seguir, mas não haverão mais os pastéis com laranjada da "Chic", no Saara (Paulão comia sempre dois), o garimpo de fim de tarde no Olivar, na entrada do Metrô da Carioca, o cachorro de linguiça no Gaúcho, no Largo do Lume, ou o joelho (italiano) da Húngara, da Estação do Metrô Carioca. A próxima segunda vai ser barra pesada...
Ontem, resolvi passar na UPA onde estava internado, antes dele ser transferido para o hospital onde iria dar seu último suspiro hoje. Ali, nos despedimos sem palavras.
No dia 28/11, mesma data em que, há 49 anos atrás perdi meu avô, meu amigo se foi, meio assim como seu pai, que partiu no dia da grande vitória do Flu sobre o São Paulo na Libertadores de 2008. A vitória de ontem foi pra ele, esse tricolor apaixonado, maior escritor publicado e dedicado à história do nosso amado Fluminense.
É isso...
Andel agora virou estrela, que brilhará pra sempre lá no céu.
Descanse em paz, meu amigo!
TEXTO DE:
Jocemar

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