sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Andel nas eleições

UM TERÇO 

A abstenção de mais de 30% nas eleições cariocas pode ter diversas interpretações, mas a principal delas é muito clara: as pessoas estão de saco cheio de discursos calhordas que, no fim, só atendem interesses particulares e não o bem comum. 

Os discursos calhordas sabotam candidados bem intencionados, mas que não possuem grande alcance midiático nem recursos econômicos para lutar na "grande festa da democracia". 

Aliás, sabotam todo o processo.

ENQUANTO FALAMOS SOBRE RÉSTIAS DE DEMOCRACIA 

(A ENSOLARADA GOTHAM CITY SEM BATMAN, COMISSÁRIO GORDON E O RAIO QUE O PARTA)

Pessoas desmaiadas nas calçadas de todas as capitais brasileiras às sete da manhã. Não dormiram à noite, porque estão nas ruas e têm medo de ser incendiadas, estupradas ou chacinadas. Ninguém liga. 

Trabalhadores dignos e honestos descem esfomeados na gare da Central do Brasil. Vão começar a trabalhar até às cinco da tarde. Quem tiver sorte conseguirá almoçar biscoitos na saída do expediente.

Em várias ruas de inúmeros municípios, bandidos armados dão as cartas com seus fuzis, definindo quem vive ou morre, quem sai de casa ou se tranca.

Crianças com suas caixas de engraxate ou de balas de açúcar fixam seus olhos nas TVs ligadas nas lojas de eletrodomésticos, sonhando com desenhos animados e ter o direito de ser crianças, mas só por alguns instantes, pois a vida real é cruel. 

Numa grande cidade como o Rio de Janeiro, em vários bairros mas especialmente no coração da capital, você vê portas e janelas fechadas, inúmeras placas de "vendo" ou "alugo", mas manchetes fajutas de jornais garantem que tudo vai muito bem, muito bem mesmo. Já os veteranos da região nunca a viram tão vazia...

Os bancos nunca tiveram tanto dinheiro. Os pobres nunca foram tão pobres. A miséria nunca foi tão miserável. A exclusão e a desigualdade nunca foram tão evidentes. Desassistência, desalento, despejos, choques de ordem. "Miséria, miséria em cada canto, riquezas são diferentes".

"As instituições estão funcionando normalmente no Estado Democrático de Direito". 

"Riquezas são diferenças ". 

A "grande festa da democracia" basicamente se limita ao dia da votação de cartas marcadas. É bom poder votar, ainda mais num país marcado por ditaduras e golpes, só que é pouco. 

É muito cômodo colocar a culpa exclusivamente na população. 

Enquanto isso, nas autarquias, gabinetes e burocracias, nos escritórios e grandes almoços, os conservadores e revolucionários vão muito bem, obrigado. O mais importante de tudo é eleger e reeleger parlamentares respeitáveis, para assim manter tudo como sempre esteve.

TEXTOS DE:
Paulo-Roberto Andel


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