Antônio Cícero ao lado de Adriana Calcanhotto |
As palavras me interessam desde bem pequeno. Os nomes, os nomes originais.
Quando ouvi o nome de Antonio Cícero, nunca mais esqueci. Primeiro, ouvi sua poesia nas grandes letras. Depois, nos livros. Para completar, AC era irmão de Marina, que o nosso mundo de Copacabana amava de paixão - ela passava pelo shopping depois de uma peça de teatro - de camiseta e jeans -, sorria e ficávamos encantados.
Muitas vezes vi Antonio Cícero nas ruas e deveria tê-lo cumprimentando, mas não o fiz. Ele estava sempre na região dos sebos. Sei lá, fiquei com vergonha, não queria interromper seu flanar, fiz a mesma besteira com João Carlos Assis Brasil, que vivia pela Carioca e Tiradentes.
Foi gigantesco. Passou por cima da eterna comparação entre a poesia, digamos, formal e a das letras de música: brilhou em ambas muitas vezes e a quantidade destes brilhos é um argumento definitivo de sua obra.
Tudo passa com enorme brevidade. O trem da vida dispara pelos trilhos a seiscentos quilômetros por hora. Eu ainda lembro da primeira vez que li o nome de Antonio Cícero. Tudo é brevidade.
Quando um poeta se vai, o rombo parece ainda maior. No mundo das injustiças, ganâncias, covardia e tudo muito temperado com o azeite da hipocrisia, são os poetas que dão algum sentido à vida para que se possa prosseguir.
Assim, perder um poeta é tirar o oxigênio da beleza, é asfixiar o cotidiano e apedrejar a sensação de humanidade.
Mas como ir embora é inevitável, o poeta deixa seus versos para sempre, pouco importando se são extremamente sofisticados ou mais simples, se têm profundidade continental ou são mais rasos. Não importa. "O poeta é a pimenta do planeta".
As coisas não precisam de você/ Quem disse que eu tinha que precisar?/ As luzes brilham no Vidigal/ E não precisam de você/ Os Dois Irmãos também não.
O Hotel Marina quando acende/ Não é por nós dois/ Nem lembra o nosso amor.
Os inocentes do Leblon/ Esses nem sabem de você/ Nem vão querer saber
@p.r.andel
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