terça-feira, 22 de outubro de 2024

Gente interessada X interesseira


Era pra ser engraçado, talvez cruel ou nada disso. Há pouco me procurou uma pessoa que não falava comigo há anos.

Não uma conhecida qualquer, mas alguém que contou comigo em várias situações importantes, e que evidentemente não foi recíproca, daquelas que some para não correr o risco mínimo de algum pedido.

Tudo bem,  a vida é assim e a maioria das pessoas é ingrata mesmo. Acontece que, se você só se relaciona com as pessoas que não vão te amolar, precisa estar preparado para o desprezo, a frieza e indiferença por aí.

Depois de um tímido oi, a criatura vem perguntar se tem algo errado e digo que não. Insiste, persiste. Explico que não, mas...

"Puxa vida, há tanto tempo que a gente não se fala, né?" (show de cinismo)

"É, tem sim. Desde que você achou que eu ia te pedir favores ou dinheiro emprestado, simplesmente deixou de fazer contato e desapareceu." (não contem comigo para hipocrisia)

[Mensagem visualizada, silêncio e demora de réplica porque o soco foi no queixo e, se a pessoa não é completamente calhorda, ela sente

[Três minutos...

"Eu só queria saber como você está."

"Estou bem. Ótima semana".

"Fique bem". (certamente o objetivo original desta expressão era outro, mas com o tempo ela se tornou um ícone do "phoda c" - reparem que em muitos casos, quem a usa gosta de manter distância regulamentar de todo mundo para "não alimentar relações tóxicas" ou "só ficar perto do que faz bem". resumo: gente interesseira que usa a companhia alheia como um objeto descartável...)

Polegar amarelo, outro ícone para dar fim a conversas desimportantes de gente que só te procura de maneira interesseira, não interessada e nem interessante. Toda relação positiva tem interesses também positivos: você tem o interesse fraternal, cordial, afetivo, amoroso, sexual etc, todas com desdobramentos. O interesseiro, não: ele só procura alguém para resolver algo, seja imediatamente ou não, mas já tendo em mente que tem prazo de validade para descartar o próximo, que vê como um simples objeto.

Sua questão é apenas atender aos próprios interesses, geralmente materiais, e mais nada.

É fácil identificar o interesseiro em qualquer lugar, basta pensar no nome da criatura em análise e refletir o seguinte: "Se a minha relação com fulano/a NÃO envolvesse dinheiro, poder, prestígio ou visibilidade, ela estaria aqui do meu lado?".

O jogo da vida é simples e direto. Com os recursos atuais, só não se fala quem simplesmente não quer.

Se os tempos ficaram mais curtos, mandar um recado pela internet, um olá etc, não leva mais do que dez segundos. Desculpas esfarrapadas soam cada vez mais ridículas.

Honestidade não faz mal a ninguém. Se você não sente obrigação de valorizar nenhum contato, este é um direito legítimo; apenas não reclame se no futuro o tratamento recebido for idêntico ao que você adotou.

A indiferença é democrática e dói para todo mundo, até para os mais calhordas. Não que eu queira oferecer dor a ninguém, longe disso: é apenas uma questão de justiça. 

[O polegar foi respondido com um smile. Para certas pessoas, só cabe mesmo o silêncio sepulcral. 

TEXTO DE:
@p.r.andel

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