O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica anunciou que o câncer que enfrenta desde abril do ano passado avançou e que decidiu não adotar novos tratamentos.
“Estou morrendo”, disse em uma entrevista ao jornal local Búsqueda, publicada em julho.
"Estou condenado, irmão. É até aqui que vou.”
Quando descobriu o câncer, Mujica explicou que sofre de uma doença imunológica há mais de 20 anos que afetou, entre outras coisas, seus rins, o que gerava complicações no tratamento.
O ex-presidente, de 89 anos, usou a entrevista para se despedir dos compatriotas e disse que a única coisa que espera nesta etapa final é se dedicar à sua fazenda, localizada nos arredores da capital Montevidéu.
Foi guerrilheiro, revolucionário contra a ditadura militar do Uruguai, e por isso foi preso. Esteve encarcerado durante 12 anos, quase sempre em solitária, onde revela “ter tido muito tempo para pensar”. Eu acho que enlouqueceria, mas ele não, quando saiu manteve-se firme nas suas convicções de lutar pelo povo e pelo bem comum.
Foi eleito presidente da República do Uruguai, exerceu de 2010 a 2015. Houve quem carinhosamente o apelidasse de o “presidente mais pobre do mundo”, pois Pepe Mujica não quis viver no palácio presidencial, mas sim na sua casinha rural nos arredores de Montevidéu, onde cultiva a sua terra com as próprias mãos, com amor e carinho, onde adotou uma cadela que só tem três patas, e que normalmente come o que ele confecciona na sua cozinha humilde.
É um homem simples, com uma filosofia de vida arrebatadora, não pela riqueza do seu léxico, mas sim pela nobreza das suas palavras que carregam acção e exemplo.
Doou 90% do seu salário a uma ONG que apoia mães solteiras e pobres, e no final do seu mandato decidiu não se recandidatar para dar a vez a outro dizendo: “Eu só terei feito bem o trabalho, se quem vier a seguir o fizer melhor ainda.”
São golpes e mais golpes de humildade e pureza de espírito que me levam a pensar que Pepe Mujica é a maior lenda viva dos nossos tempos. E eu acredito que as maiores homenagens devem ser feitas em vida, enquanto as pessoas cá estão para as saborear.
TEXTO DE:
Thiago Muniz
NOTA POR PAULO-ROBERTO ANDEL
Um dos maiores da história.
É um dia de muita tristeza.
A vida é assim. Tudo tem que passar. Somos todos minúsculos demais diante de tudo. Somos formiguinhas que o tempo esmagará. É inevitável.
Mujica teve muito tempo para viver e realizar. É pena que o fim esteja a caminho, mas ele é a nossa única verdadeira sina: vamos passar, vamos acabar, poucas coisas realmente importam.
NOTA DE TARCISO TERTULIANO
Tranquilo e grato por ter tido uma vida muito boa.
Assim se despede de maneira antecipada um dos homens que lutou contra o espírito maior da América Latina: o amor pelas ditaduras.
Como um homem que passou em torno de 15 anos na prisão, sendo a maior parte desse tempo sofrendo torturas ou na solitária se despede da vida com gratidão?
A certeza de ter feito algo. Não por si mesmo, mas pelas futuras gerações que para sempre (sinceramente espero), seguirão seu exemplo de luta pela liberdade e pela democracia.
Sit tibi terra levis
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Pena haver poucas pessoas com esse coração bondoso.
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