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“O lodo das ruas" Editora Sétimo Selo, RJ, 2022 |
sábado, 15 de novembro de 2025
Dica de livro: “O lodo das ruas"
sexta-feira, 14 de novembro de 2025
O Dia em que o STF Salvou o Recreio — e a República (de novo)
Sim, o recreio. Aquele intervalo entre uma aula e outra, onde alunos e professores tentam comer alguma coisa, tomar um café e ir o banheiro, antes que sino volte a tocar.
O Brasil não é para iniciantes, amadores, e ultimamente nem para profissionais.
Pois bem: algumas instituições de ensino superior, sempre muito ciosas da “gestão eficiente”, descobriram uma maneira inovadora de enxugar custos — o tipo de solução que só aparece quando gente muito criativa se reúne numa sala com ar-condicionado e café em cápsula: descontar dos professores o tempo do recreio.
Ora, claro! Por que não?
Se a lógica for essa, podemos também descontar do médico o tempo entre uma cirurgia e outra, do juiz o intervalo entre um julgamento e o próximo, do jornalista os cinco minutos em que respira fundo antes de escrever sobre uma pauta estapafúrdia como essa que estou escrevendo (e agravo: de graça).
Do jeito que vai, não tardará o momento em que algum gênio administrativo reivindique que o professor seja descontado por ficar calado durante a prova.
Mas eis que o STF, esse ente metafísico que precisa entrar em cena sempre que a realidade brasileira insiste em ser uma comédia pastelão, decidiu o óbvio: recreio faz parte da jornada de trabalho.
O professor não está de férias entre uma aula e outra. Não está em Mônaco jogando roleta, ou no Maracanã gritando Mengo!, e muito menos diante de um quartel pedindo golpes. Em geral, está vigiando corredor, atendendo aluno, preparando próxima atividade, impedindo que dois adolescentes resolvam uma divergência filosófica à base de cadeirada (né, Datena?).
O recreio, no Brasil, é mais perigoso que sessão do Conselho de Segurança da ONU.
Mas vejam a ironia: para que o óbvio fosse reconhecido como óbvio, foi preciso que o Supremo parasse para julgar…? isso mesmo: intervalos escolares.
É quase poético. A mais alta Corte do país decidindo aquilo que qualquer pessoa que já colocou os pés em uma escola sabe desde a pré-escola.
O problema, no fundo, é que o professor brasileiro virou uma espécie de entidade esotérica. Todo mundo louva. Todo mundo exalta. Todo mundo diz que sem professor não há futuro — e aí tentam descontar até o recreio. É a “pedagogia do aperto financeiro”. Uma aula prática de desvalorização profissional.
Pois bem, o STF colocou ponto final nessa ópera-bufa.
E aqui, permitam-me a ironia inevitável: ainda bem que temos o Supremo. Porque se dependesse de certas mentes criativas do Congresso, logo logo iriam sugerir que o professor só recebe quando está falando. Silêncio não remunera. Pausa não conta. Beber água é privilégio.
No mais, parabéns ao STF por mais uma contribuição inestimável à ordem constitucional do país: salvou o recreio. Faltam agora salvar o salário, a carreira, a infraestrutura e — quem sabe? — a dignidade.
Mas calma: uma coisa por vez. No Brasil, até o óbvio dá trabalho.
Detalhe final: os ministros do STF julgaram a causa sem nem mesmo, um intervalo para o cafezinho.
quarta-feira, 12 de novembro de 2025
A imprensa que só gosta de democracia quando ela é silenciosa
Sim, houve tensão. Sim, houve excesso. E daí? Desde quando democracia é um chá das cinco? A história é feita de embates, de disputas, de vozes que gritam quando ninguém quer ouvir. O protesto — mesmo o que extrapola — é um espelho do vigor democrático.
O que causa espanto é ver jornalistas que, durante o governo Bolsonaro, chamavam seus apoiadores de “gado” por aplaudirem cegamente todo absurdo, agora indignados porque parte da base lulista decidiu fazer o oposto: apoiar criticamente, cobrar coerência, exigir compromisso.
Há algo de doentio nessa lógica. Quando o eleitor é passivo, é “gado”. Quando é ativo, é “radical”.
Talvez essa seja a tal polarização que eles tanto insistem em nos convencer que existe.
A imprensa parece querer um eleitorado obediente, de preferência calado. Só que democracia não se faz com plateia — se faz com participação, até com conflito.
Lula, goste-se ou não, não foi eleito para ser um rei, e seus eleitores não são súditos. Quando protestam, não traem o governo; exercem o direito que diferencia cidadãos de seguidores.
É curioso ver que os mesmos que relativizaram invasões de golpistas em Brasília, chamando-as de “ manifestações de velhinhas com Bíblias debaixo dos sovacos”, agora tratam indígenas e ambientalistas como inimigos da civilização.
O peso e a medida variam conforme o interesse editorial — ou o incômodo que causa ver o povo real ocupando o espaço público.
O Brasil, anfitrião da COP 30, mostra ao mundo que sua democracia é viva — às vezes ruidosa, às vezes desconfortável, mas viva. Só os autoritários travestidos de moderados acham que o povo deve ficar quieto para não “manchar a imagem do país”.
Pois saibam: o que mancha a imagem do Brasil não é o protesto legítimo; é a hipocrisia de quem finge defender a democracia, mas só quando ela cabe no editorial de domingo.
Democracia não é um espetáculo de bons modos. É um terreno de disputas, de vozes, de críticas — inclusive às próprias autoridades que ajudamos a eleger. E, sinceramente, se a imprensa não entende isso, talvez o problema não esteja na “base de Lula”, mas na base da imprensa.
Em tempo, apesar de apoiar todo tipo de protesto pacífico e acreditar na liberdade de crítica, não acredito que a tentativa de invasão forçada a sede do COP 30, seja o caminho mais correto para alcançar os objetivos políticos.
terça-feira, 11 de novembro de 2025
Feliz Aniversário
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
COP 30, O tornado não pediu licença
Sim, um tornado. Não, não é figura de linguagem. Não é metáfora. Não é exagero de ambientalista que “quer destruir o agronegócio”. Foi vento girando, arrancando telhado, matando gente — um tornado real, sem telegrama prévio, sem pedir habeas corpus preventivo.
E aí, claro, surgem as entrevistas de praxe. Aquelas que já fazem parte da pequena ópera bufa brasileira. O sujeito, de boné e convicções sólidas como gelatina ao sol, declara à TV:
— Isso aí sempre aconteceu. A natureza é assim mesmo.
Claro. Sempre teve tornado no Paraná. E dinossauro no Pantanal. E unicórnio em Minas Gerais. Aliás, sempre teve tudo, não é? Sempre teve. É a frase favorita de quem não quer pensar, mas quer parecer muito seguro de si.
Enquanto em Belém se fala de descarbonização, neutralidade climática, justiça ambiental, responsabilidade global, no sul ainda se encontra quem ache que aquecimento global é invenção de francês vegetariano para acabar com o churrasco domingueiro.
Há uma ala — sempre muito convicta, sempre muito emocional — que ainda acredita que mudança climática é uma grande conspiração mundial. Um complô internacional. Uma obra comunista com Al Gore no lugar de grande líder conspirador.
E, claro, ONGs malvadas financiadas por George Soros, o réptiliano supremo.
Tudo isso para impedir o progresso, que na concepção desses gênios consiste basicamente em derrubar árvores com entusiasmo masculino.
Pois bem. O tornado passou. E não perguntou se alguém “acreditava” nele. Assim como a gravidade não pede voto, o clima não consulta opinião de youtubers.
Enquanto isso, em Belém, líderes mundiais tentam evitar justamente — vejam só que coincidência — eventos climáticos extremos. Aqueles que matam. Aqueles que destroem cidades. Aqueles que produzem manchetes fúnebres.
Mas é claro, é claro: “sempre aconteceu”.
A ironia é tão fina que chega a ter brilho:
— No Norte, discutem como impedir o desastre.
— No Sul, o desastre acontece, mas parte da população insiste que não está vendo.
É como se o apocalipse precisasse apresentar laudo de autenticidade emitido em cartório.
O tornado foi, digamos assim, didático. Mais didático do que painel trilíngue da COP, mais direto do que diplomata inglês com pressa para o chá das cinco.
Entrou, destruiu, saiu. Sem discurso. Sem PowerPoint. Sem hashtag. Deixando todas as construções planas, como a Terra que eles imaginam habitar.
A mensagem?
O clima não está negociando. Nem conosco, nem com eles.
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
Primeira Turma do STF tem unanimidade para rejeitar recurso e manter condenação de Bolsonaro
quinta-feira, 6 de novembro de 2025
A Gratidão tem de ser Eterna
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| primeira foto que eles tiraram juntos no Brasil, em 1958 |
segunda-feira, 3 de novembro de 2025
O Brasil, esse grande laboratório da burrice política: Chamando ladrão de terrorista e terrorista de patriota
Não com inteligência, não com investigação, não com política pública.
Com marketing. Marketing político do mais vagabundo e banhado em sangue.
O plano é simples: o PCC e o Comando Vermelho, que há décadas são organizações criminosas, agora seriam “organizações terroristas”.
E pronto! O problema do crime organizado desaparece num passe de mágica linguística.
É a velha crença tupiniquim de que mudar o nome muda a realidade.
Mas a coisa é mais grave — e mais risível.
Os maiores defensores dessa tese são, curiosamente, os mesmos que pedem anistia para os terroristas de verdade, aqueles que tentaram derrubar a República no 8 de janeiro.
Sim, os patriotas de fantasia verde e amarela, Bíblia debaixo do braço, ice cream and popcorn sinners, que quebraram o Supremo e o Congresso, agora seriam apenas “manifestantes emocionados”.
E Bolsonaro? Ah, esse seria o São Sebastião de Miami, mártir da injustiça judicial.
Quer dizer: o sujeito que tentou destruir o Estado de Direito é patriota; o bandido que vende droga é terrorista. Cujo patrão está na Faria Lima, mas nem comentemos.
O Brasil conseguiu inverter até o bom senso.
A burrice aqui é institucionalizada — e ainda desfila de terno e gravata.
As burradas têm preço — e não é pequeno
Vamos aos fatos, que o delírio não paga boleto.
Chamar o PCC de terrorista fere tratados internacionais que o Brasil assinou, inclusive na ONU e na OEA.
A definição de terrorismo pressupõe motivação política, ideológica ou religiosa.
O PCC não quer instaurar o Califado do Crack, nem o Comando Vermelho escreve manifestos contra o capitalismo. Eles querem dinheiro, ponto.
Ao embaralhar os conceitos, o Brasil passa a ser visto como um país que usa leis antiterrorismo para fins políticos internos.
E isso tem consequências.
O GAFI, que monitora lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, pode reclassificar o Brasil.
Significa mais burocracia, mais vigilância, mais custo. As operações financeiras internacionais ficam lentas, investimentos minguam, remessas travam. É o tipo de medida que alegra o populista, mas assusta o investidor.
A União Europeia e os Estados Unidos, claro, não reconheceriam essa classificação.
Para eles, terrorista é quem persegue motivação política — não quem disputa o ponto do Alemão ou da Rocinha.
O Brasil ficaria isolado, falando sozinho, com um papel timbrado e uma cara de bobo na diplomacia internacional.
E o perigo interno: o terrorismo ideológico
Dentro do país, o efeito é ainda mais tóxico.
Se o conceito de terrorismo passa a valer para facções, amanhã ele pode valer para qualquer um. Basta desagradar o governo da vez.
Hoje é o PCC. Amanhã, o MST. Depois de amanhã, o sindicato dos professores, e, quem sabe, um jornalista crítico — que pode até ser eu, pasmem!
É o sonho úmido dos autoritários: um Estado que criminaliza por adjetivo.
E tudo isso com um objetivo nada secreto: criar a narrativa que justifique a anistia dos golpistas.
Se o Brasil está em guerra contra o “terrorismo”, então os patriotas que quebraram Brasília não são criminosos — são combatentes mal compreendidos.
A lógica é tosca, mas a retórica é eficiente.
E, em tempos de ignorância organizada, eficiência é tudo.
O vexame global
O resultado?
O Brasil vira motivo de piada.
O único país do mundo a chamar traficante de terrorista e terrorista de patriota — tudo na mesma semana.
Seríamos citados em editoriais da Economist e em notas de rodapé da ONU: “caso exótico de confusão semântica tropical e latina”.
Enquanto isso, o dólar sobe, o real derrete, o risco-país aumenta e o investidor foge, porque ninguém aplica dinheiro num país que confunde guerra ao terror com campanha eleitoral.
E no fim, o país continua o mesmo:
O PCC segue mandando nos presídios, o Comando Vermelho segue controlando favelas, e os “patriotas” seguem pedindo anistia em nome da liberdade — deles, claro.
O povo continua refém, o Estado continua inerte, e o debate público continua uma pastelaria ideológica.
Mas que ninguém se engane: o terrorismo aqui não é o das facções.
É o da estupidez travestida de bravura, o da ignorância com mandato.
E como diria o blogueiro já cansado que vos escreve:
O problema do Brasil não é o terrorismo — é o terrorismo intelectual.
sexta-feira, 31 de outubro de 2025
O boné, a farsa e a bala — a mentira útil do “CPX”
A mais recente — e talvez uma das mais grotescas — é a teoria conspiratória de que o Partido dos Trabalhadores “comanda o tráfico” e que Lula, ao usar um boné com a sigla “CPX”, estaria prestando homenagem a uma facção criminosa.
Pois bem. O leitor merece o mínimo de verdade, mesmo que ela atrapalhe a catarse ideológica de alguns.
“CPX” não é sigla de quadrilha, nem senha secreta de traficante. “CPX” é abreviação de Complexo — como em Complexo do Alemão, Complexo da Penha, Complexo de Manguinhos. É a forma como os próprios moradores das favelas nomeiam suas comunidades. É identidade. É território. É pertencimento.
Mas basta o boné cair na cabeça de Lula — o mesmo que já presidiu o país por oito anos, e que agora volta à cena política vencendo nas urnas o verdugo do mal — para que os arautos da “guerra ao mal” vejam ali a prova de uma conspiração comuno-traficante. O delírio é completo.
A mentira, claro, não é inocente. Ela cumpre função política e simbólica.
Transforma pobres em cúmplices do crime. Transforma comunidades inteiras em extensão de facção. E, por tabela, transforma qualquer figura pública que dialogue com o povo da favela em “amigo do tráfico”.
É uma narrativa conveniente, quase elegante na sua perversidade: o Estado mata — e a culpa é de quem ousa falar com os vivos.
Enquanto isso, o governo do Rio de Janeiro exibe suas operações de “grande sucesso” no Complexo do Alemão e na Penha, com dezenas de mortos, helicópteros sobrevoando escolas e famílias presas dentro de casa.
O nome técnico disso é “ação de segurança”. O nome real é massacre autorizado.
E a narrativa do “boné criminoso” serve como maquiagem moral para o banho de sangue.
Se o presidente usa o boné do “CPX”, dizem, então o tráfico venceu.
Ora, venceu o quê?
O que venceu, de fato, foi a ignorância premiada, o preconceito institucionalizado e a velha mania de confundir favela com facção — como se pobreza fosse escolha, e o Estado, vítima.
No Brasil, especialmente no Rio, a mentira é política de segurança.
O morro é criminalizado, o governo é aplaudido, e quem tenta humanizar vira suspeito.
A fantasia do “CPX do crime” é mais do que uma fake news — é a desculpa perfeita para não olhar o abismo da desigualdade.
O boné de Lula não é símbolo de facção; é símbolo de convivência, de tentativa de diálogo, de um Estado que deveria estar presente sem fuzil na mão.
Mas para quem precisa de inimigos internos, não há espaço para convivência: só para tiros e slogans.
E assim seguimos — entre o barulho das armas e o silêncio das consciências — enquanto a mentira continua a fazer o que sempre faz: justificar a morte e culpar os vivos errados.
quinta-feira, 30 de outubro de 2025
Na letra de “Bonsucesso 68” as primeiras gotas da violência no conta-gotas da vida - Parte 2
Na letra de “Bonsucesso 68” as primeiras gotas da violência no conta-gotas da vida.
Antonio Gonzalez
...
Por que não cortaram o mal pela raiz na década de 1970?
Por que o discurso de que somente com acesso à educação se resolveria o problema da violência não foi transformado em realidade?
Por que as melhores condições de moradia não foram postas em prática?
Por que as políticas de segurança sempre visaram castrar uma vez o acontecido e jamais foram de prevenção?
Há 61 anos sob o lema de “bandido bom é bandido morto” nascia a Escuderia Le Cocq que originalmente era uma milícia de policiais no Rio de Janeiro que, ao longo dos anos, foi associada a grupos de extermínio. Posteriormente, o nome foi usado para uma associação de detetives particulares e ex-policiais.
Posteriormente o Esquadrão da Morte e o Mão Branca.
O filme Cidade de Deus embora lançado em 2002, narra cerca de 20 anos de história (1960–1980) da formação e do endurecimento da violência nas favelas cariocas.
Na década 1960 mostra o surgimento da favela Cidade de Deus, criada pelo governo como conjunto habitacional para famílias removidas de outras áreas do Rio.
Já nos anos 1970 acompanha o crescimento da criminalidade e o domínio das gangues de jovens, com destaque para a ascensão de Zé Pequeno.
No início dos anos 1980 - o filme termina nesse período - surge uma nova geração de traficantes tomando o controle da comunidade.
Tudo isso rolou durante os governos Médici, Geisel e Figueiredo. Por que eles não cortaram a cabeça daquela serpente?
Se você chegou até aqui sabe que a atualidade é apenas um remake, como a recente novela VALE TUDO.
Afirmo que o que vimos ontem não pode ser resumido aos atuais governos, estadual e federal. A atualidade é apenas a consequência de quem teve oportunidade de não deixar a víbora crescer, mas para nada se preocupou com as classes menos favorecidas, nem com a gente preta, nem com o que o salário mínimo da época permitia colocar na geladeira. Somente visou a ganância financeira. De pai para filho, os sobrenomes se repetem.
Essa guerra não começou neste século. Não obstante é urgente que seja resolvida. Mas um povo que não conhece a sua história certamente falará abobrinhas sobre como resolver as questões da Segurança, da Saúde, da Educação e da Habitação.
É evidente que não se pode pensar em resolver o problema da Segurança Pública com o fígado, menos ainda com ódio e racismo.
Repito, segurança só funciona se for de prevenção. No resto, sem mudar o conceito de todas as pontas de direção – governos, polícias e população (principalmente na hora de votar) – continuaremos com uma única certeza: a espera da data do próximo extermínio.
Sem embargo, vale questionar quem financia a entrada de armas e drogas no país e quem fecha os olhos para tal.
Mas isso é papo para outro dia.
Minha solidariedade às famílias dos policiais mortos. E que a bandidagem entenda que o crime – na escala que eles frequentam – somente permite 2 saídas: ou a cadeia ou um paletó de madeira.
TEXTO DE:
Antonio Gonzalez
Na letra de “Bonsucesso 68” as primeiras gotas da violência no conta-gotas da vida
Na letra de “Bonsucesso 68” as primeiras gotas da violência no conta-gotas da vida.
Antonio Gonzalez
Na enfermaria do PS Central de Taubaté pelo tubo do conta-gotas o soro baixava lentamente enquanto a simpática enfermeira (uma carioca de Duque de Caxias) aplicava-me insulina na barriga.
Na televisão imagens do Rio de Janeiro mostravam corpos enfileirados numa rua, nas cercanias da Praça São Lucas, no Complexo da Penha.
E antes que você leitor defina o seu sentimento a esse texto, deixo claro que não gosto de bandido. Muito menos as minhas letras terão perfil de elogios à esquerda ou de críticas à direita. Quem me conhece sabe que eu não conjugo a hipocrisia, nem abro mão da história que vi passar nesses quase 64 anos de vida, sem esquecer do que vivi e li.
De saída, a minha mente começou a cantarolar a letra de uma música de uma banda carioca. A canção “Bonsucesso ’68”, composta por Arnaldo Brandão e Tavinho Paes para a banda Hanoi-Hanoi, foi lançada em 1986.
A música remete ao ambiente e aos acontecimentos do bairro Bonsucesso na década de 1960, trazendo também referências à figura do célebre assaltante de bancos Lúcio Flávio.
Quem conhece a cidade do Rio de Janeiro, sabe que no bairro de Bonsucesso encontramos artérias vitais do Complexo do Alemão.
E a canção diz o seguinte:
“Lúcio Flávio morava na Roma, Fernando C.O. lá na New York, Tavinho era um menino na Bruxelas, entre a Londres e a Paris
Havia a turma do Melo, o cinema era o Paraíso, a favela era a Perereca e eu tocava no baile do Domingo.
E ninguém tava na Europa, não tinha Waterloo, não era exílio, política era coisa da Zona Sul.
E ninguém tava na Europa, não tinha Liverpool, era tudo em Bonsucesso, Rio de Janeiro 68, América do Sul.
E a gente era só, Mato Grosso e Paraguai, Bolívia veio depois e o resto veio atrás.
Colômbia, Nicarágua, Malvinas, são argentinas.
Ligação direta, tá no ronco do motor, ligação direta, tá no ronco do motor.
E ninguém tava na Europa, não tinha Waterloo, não era exílio, política era coisa da Zona Sul.
E ninguém tava na Europa, não tinha Liverpool, era tudo em Bonsucesso, Rio de Janeiro 68, América do Sul”.
Em 1968 eu cumpri 7 anos de idade, foi quando aprendi a ler. E naquela tentativa de juntar vogais com consoantes, esperava meu Pai chegar do trabalho, todos os dias às 19 horas (da mesma forma que diariamente se levantava às 5 da manhã para estar às 6 no Centro da cidade, para abrir o restaurante).
Com ele vinha o jornal O GLOBO. Carinhosamente ele dizia “vamos ver se você realmente já sabe ler”. Era óbvio que aquele tímido guri sempre começava pelas páginas esportivas, pelas matérias que envolviam o Fluminense.
E entre as manchetes jornalísticas e o Repórter Esso, da Tv Tupi – apresentado pelos lendários Heron Domingues e Gontijo Teodoro, eu começava a captar informações que hoje, passado mais de meio século, como de um filme se tratasse, habitam a minha memória.
Da quadrilha do famosíssimo Lúcio Flavio (citado pela voz grave do excelente baixista Arnaldo Brandão, cuja família tinha uma oficina de carros na rua Paulo Barreto, em Botafogo – onde na atualidade também se encontra o seu estúdio musical) faziam parte seu irmão, Nijini, e seu cunhado, Fernando C.O., entre outros.
O grupo liderado por Lúcio Flávio foi sendo dizimado ao longo do tempo, seja em confrontos com a polícia, seja em execuções dentro dos presídios do Rio de Janeiro.
Liéce de Paula Pinto e Nijini Renato Villar Lírio, irmão de Lúcio Flávio, foram executados por policiais que, para encobrir o crime, encenaram um falso confronto: os corpos foram levados até as proximidades do Hotel Plaza, em Copacabana, colocados em um carro e novamente metralhados para simular resistência à prisão.
Outros integrantes do bando — Rivaldo Morais Carneiro, conhecido como Martha Rocha; Antonio Branco; e Francisco Rosa da Silva, o Horroroso — foram mortos a tiros no Presídio Evaristo de Moraes Filho, na Quinta da Boa Vista, após liderarem uma rebelião que resultou na morte do coronel da PM Darci Bitencourt, feito refém.
Também tiveram fim trágico Fernando C. O., cunhado de Nijini, assassinado por outros presos na Frei Caneca, e Júlio Augusto Diegues, o Portuguesinho, morto no mesmo presídio pouco depois, após ter estrangulado detentos com a ajuda de um comparsa.
Lúcio Flávio Vilar Lírio teve uma trajetória criminal marcada por muitos processos, fugas espetaculares e longos períodos de prisão — o que o tornou uma das figuras mais conhecidas do submundo carioca entre as décadas de 1960 e 1970.
Estima-se que Lúcio Flávio tenha respondido a mais de 30 inquéritos policiais por assaltos a bancos, roubos de carros e formação de quadrilha. Ele era considerado um dos criminosos mais procurados do país no auge de sua atividade.
Ele protagonizou três fugas notórias: Da Penitenciária Lemos de Brito (RJ) – escapou em 1968. Do Presídio de Ilha Grande – em 1970, durante uma rebelião e da Frei Caneca (RJ) – em 1973, após subornar carcereiros.
Ao longo de sua vida, passou cerca de 10 anos encarcerado, de forma intermitente. Foi recapturado várias vezes e, em 1975, estava novamente preso quando foi assassinado dentro do presídio da Frei Caneca, em circunstâncias nunca esclarecidas.
Entretanto não podemos escrever a história do bandido Lúcio Flávio sem citar Mariel Mariscot que era um policial civil da antiga Divisão de Roubos e Furtos (DRF), conhecido por sua atuação violenta e também por seus laços com o crime organizado. Tornou-se uma figura lendária no chamado Esquadrão da Morte, grupo de extermínio formado por policiais que executavam criminosos sob o pretexto de “fazer justiça”.
Nos bastidores da criminalidade carioca, Mariel e Lúcio Flávio conviveram no mesmo ambiente, pois muitos policiais corruptos protegiam ou extorquiam assaltantes de banco. Lúcio Flávio chegou a afirmar que pagava propina a policiais para poder atuar e que Mariel fazia parte desse esquema de corrupção.
Após essas denúncias, Lúcio Flávio foi preso novamente e, em 1975, assassinado dentro do presídio Frei Caneca. Muitos acreditam que sua morte foi queima de arquivo, e que policiais ligados a Mariel Mariscot participaram ou foram cúmplices da execução.
Com o passar do tempo Mariel (ex-policial civil e ex-integrante do Esquadrão da Morte, expulso da corporação) passou a atuar no crime organizado, especialmente em assaltos a bancos e esquemas de segurança privada ilegais. Apesar de ter sido temido e respeitado, acumulou muitos inimigos tanto entre criminosos quanto entre ex-colegas de polícia.
Mariel Mariscot foi assassinado em 8 de outubro de 1981, quando estava estacionando seu carro para uma reunião com banqueiros do jogo do bicho. Ele que um dia foi conhecido como o "homem de ouro" da polícia, foi morto tentando entrar no mundo da contravenção como banqueiro.
Lúcio Flávio e Mariel Mariscot representavam os dois lados de uma mesma moeda — o bandido inteligente e o policial violento — ambos imersos em um sistema onde as fronteiras entre crime e lei se confundiam.
Voltando ao seio familiar, passamos por certas situações de medo. No início de 1973, meu Pai perdeu um funcionário, peão da cozinha, conhecido como Caveirinha – de tão magro e baixinho que era – assassinado num ônibus a caminho de Nova Iguaçu. Durante o assalto ele disse ao ladrão que não tinha dinheiro e o meliante retrucou: “se você tiver mentindo eu vou te dar um tiro na cabeça, mas se não for mentira, te darei um tiro no peito”. Foi assassinado por falar a verdade.
Em maio daquele mesmo ano, um sábado pela manhã, ao voltar do Colégio Santo Inácio, faltando 200 metros para chegar em casa, 6 pivetes, um deles portando um revólver, roubaram-me na rua Paulino Fernandes, nº 15, em Botafogo.
Aquele relógio, um Classic suíço, que meu Pai me presenteou por ter sido o melhor aluno daquele colégio jesuíta em 1971, mudou de mãos. A título de curiosidade, aquele roubo foi cometido em frente a uma clínica clandestina onde se praticava o aborto. Sim, há 52 anos atrás já existiam clinicas para que as donzelas das classes altas da Zona Sul, pudessem abortar.
Em 1975, na rua Rodrigo Silva, 32, entre a 7 de setembro e Assembleia, onde Papai era o dono do Restaurante Yankee Brasil, 4 assaltantes invadiram o estabelecimento. O Vitorino, um garçom cria de São João de Meriti, conseguiu escapar e aos gritos avisou aos seguranças (policiais de folga) do ponto de bicho que pertencia ao Mário, então proprietário de mais de uma dezena de cavalos que corriam nas pistas do Jockey Club Brasileiro. Troca de tiros, um meliante morto, 2 presos e o outro fugiu.
De regresso à atualidade do que aconteceu ontem nos Complexos do Alemão e da Penha, sou obrigado a perguntar-me:
Por que não cortaram o mal pela raiz na década de 1970?
Por que o discurso de que somente com acesso à educação se resolveria o problema da violência não foi transformado em realidade?
Por que as melhores condições de moradia não foram postas em prática?
Por que as políticas de segurança sempre visaram castrar uma vez o acontecido e jamais foram de prevenção?
Há 61 anos sob o lema de “bandido bom é bandido morto” nascia a Escuderia Le Cocq que originalmente era uma milícia de policiais no Rio de Janeiro que, ao longo dos anos, foi associada a grupos de extermínio. Posteriormente, o nome foi usado para uma associação de detetives particulares e ex-policiais.
Posteriormente o Esquadrão da Morte e o Mão Branca.
O filme Cidade de Deus embora lançado em 2002, narra cerca de 20 anos de história (1960–1980) da formação e do endurecimento da violência nas favelas cariocas.
Na década 1960 mostra o surgimento da favela Cidade de Deus, criada pelo governo como conjunto habitacional para famílias removidas de outras áreas do Rio.
Já nos anos 1970 acompanha o crescimento da criminalidade e o domínio das gangues de jovens, com destaque para a ascensão de Zé Pequeno.
No início dos anos 1980 - o filme termina nesse período - surge uma nova geração de traficantes tomando o controle da comunidade.
Tudo isso rolou durante os governos Médici, Geisel e Figueiredo. Por que eles não cortaram a cabeça daquela serpente?
Se você chegou até aqui sabe que a atualidade é apenas um remake, como a recente novela VALE TUDO.
Continua...
TEXTO DE:
Antonio Gonzalez
terça-feira, 28 de outubro de 2025
Neocoronelismo e poder: a crítica que todos tem medo de fazer
segunda-feira, 27 de outubro de 2025
A galinha vermelha: o surto anticomunista de Juliana Zanata
Oh! Os delírios políticos que beiram o humor e a loucura de mãos dadas com o orgulho da burrice natural.
A deputada Juliana Zanata (confunde cultura infantil com doutrinação marxista) acaba de descobrir, em sua missão divina contra o comunismo, um novo inimigo da liberdade: a Galinha Pintadinha.
Sim, ela mesma, a cantora de “Borboletinha”, é suspeita de integrar uma célula do PSOL.
Aparentemente, entre um vídeo colorido e outro de animação para bebês, a parlamentar enxergou não um projeto pedagógico de entretenimento, mas um plano gramsciano para infiltrar a foice e o martelo nos berçários.
Talvez imagine que, por trás do galo Carijó e do pintinho amarelinho, se esconda um comitê revolucionário.
A cena seria cômica, não fosse trágica. O problema não é rir, é chorar pela pobreza intelectual de quem ocupa uma cadeira pública e confunde educação com ideologia e infância com ameaça.
E pensar que, se fosse coerente, a deputada deveria também declarar guerra à Mafalda, a personagem de Quino que, fazia críticas sociais consistentes, com um humor corrosivo e uma visão progressista do mundo.
Mafalda ser considerada uma personagem de esquerda humanista, com fortes tendências socialistas democráticas, embora o próprio Quino rejeitasse rótulos partidários.
Mas não: Mafalda é leitura demais.
E leitura dá trabalho. É muito mais fácil inventar comunismo na Galinha Pintadinha do que enfrentar as contradições reais do país.
É o anticomunismo de pelúcia, o espantalho ideológico que transforma qualquer coisa minimamente racional em “ameaça à família tradicional”.
Juliana Zanata parece representar a nova geração de cruzados do ridículo, do grotesco, aqueles que, sem compreender o mínimo de história ou política, veem Karl Marx escondido atrás de cada desenho animado.
Amanhã, quem sabe, acusarão o Pequeno Príncipe de socialista utópico, o Sítio do Picapau Amarelo de leninista e a Turma da Mônica de bolivariana.
Enquanto isso, o Brasil real,o das escolas precárias, dos hospitais lotados, da fome e da ignorância,segue esquecido.
A Galinha Pintadinha canta, as crianças riem, e certos políticos, em seu desespero por relevância, cacarejam ideologia onde só há inocência.
No fim, talvez o único traço de socialismo nessa história seja o da própria deputada, que insiste em dividir a ignorância coletivamente com todo o país.
Finalmente, explicado porque tantas flores na cabeça da deputada, o adubo abundante que povoa o interior do seu crânio.
O imperialismo de Lula e o delírio da esquerda toda pura
Pois é. O mesmo Lula que enfrentou o FMI, que colocou pobres na universidade e incomodou o andar de cima, agora virou, segundo os puritanos da Esquerda, o ventríloquo do Tio Sam. O raciocínio é uma obra-prima da autofagia ideológica: se o líder da Esquerda não atende à fantasia revolucionária, resta destruí-lo.
Esses militantes da pureza política enxergam o mundo em escala binária, ou se está contra o império, ou é cúmplice dele. Diplomacia, diálogo, pragmatismo? Palavras burguesas, diriam. O problema é que, no mundo real, países não se governam com panfletos.
Lula faz o que estadistas fazem: fala com quem tem poder. E isso inclui Biden, Xi Jinping, Macron, Papa Francisco e agora (por que não?), Trump. O resto é poesia de bar, proferida entre um café e um jazz indignado.
No fundo, essa esquerda que acusa Lula de “agir pelo imperialismo” não odeia o imperialismo. Odeia a realidade.
O dia em que Lula deixou a extrema-direita sem script
Há dias em que a realidade prega peças bem cruéis na bozosfera.
O encontro entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump foi um desses momentos de puro desespero ideológico. A ala bolsonarista, acostumada a viver de rótulos e espantalhos, acordou sem saber se chorava, orava para um pneu ou desmentia com mentiras, o que via.
Sim, caro leitor, o “bebum” Lula apertou a mão do “rei do mundo” Trump (o mesmo Trump que Bolsonaro tratava como guru, farol e quase entidade espiritual). A cena desmontou, num único gesto, anos de narrativa delirante. Como atacar o petista por fazer exatamente o que o bolsonarismo sempre sonhou?
O problema da extrema-direita é que ela precisa do inimigo. Sem o espantalho do “marxismo cultural”, sem o fantasmas do “globalismo” e do "comunismo", resta o quê? A política real, e essa, sabemos, é território onde o populismo tosco se perde.
O encontro entre Lula e Trump não foi apenas simbólico: foi cirúrgico.
Mostrou que Lula entende o jogo do poder internacional, e joga melhor do que os amadores do Twitter. Ao contrário do bolsonarismo, que confunde diplomacia com gritaria, o presidente brasileiro mostrou que conversa até com quem pensa diferente. E, em política externa, isso se chama maturidade.
A turma da direita radical, desorientada, passou o dia tateando o chão. Alguns tentaram argumentar que era “marketing”. Outros fingiram que o encontro não existiu. E houve até quem insinuasse que Trump teria sido “enganado”.
Patético.
É o retrato de um movimento que não sabe mais o que dizer, e que assiste, impotente, ao crescimento de Lula nas pesquisas, apesar da má vontade da mídia e da histeria da oposição.
Aliás, sobre a mídia: parte dela segue praticando o velho esporte nacional o “Lulismo envergonhado”. Admite a competência do presidente em sussurros, mas corre para publicar a próxima crítica travestida de “análise isenta”.
É a neutralidade seletiva de sempre: o incômodo de ver o ex-operário agir com a estatura que os “homens de bem” achavam que só eles possuíam.
Lula, goste-se ou não, é um político de fôlego histórico. Enquanto a oposição se debate entre teorias conspiratórias e vídeos de WhatsApp, ele fala com líderes mundiais: de Biden a Xi Jinping, agora passando por Trump. É o tal “isolamento internacional” que só existe nas manchetes fabricadas por quem torce contra o Brasil.
No fim, a cena é quase poética: Trump e Lula, dois homens que dividiram seus países, sentados à mesa. E a extrema-direita brasileira, que se alimentava do ódio a um e da devoção ao outro, sem saber para qual santo rezar.
Lula não apenas desconcertou os adversários. Desarmou o discurso. E, convenhamos, nada é mais devastador para quem vive de ressentimento do que ver o alvo de seus ataques conversar civilizadamente com o próprio ídolo.
No xadrez político, o rei segue de pé, e os peões da fúria ideológica continuam tropeçando uns nos outros, sem entender por que o jogo mudou.
Lula e Trump: o encontro que deixou a extrema-direita sem roteiro
Foi o momento em que o script ruiu. A bolha ideológica acordou sem saber se queimava fotos ou erguia altares. Afinal, como atacar o ex-metalúrgico por dialogar com o homem que Jair Bolsonaro tratava quase como um santo de terno e gravata?
Os influenciadores de ultradireita (aqueles que vivem de gritar “comunista!” a cada sílaba de Lula) passaram o dia em busca de um novo adjetivo. Não acharam. Ficaram sem inimigo.
Porque, convenhamos, se o líder da esquerda brasileira e o empresário ícone do conservadorismo americano conseguem se sentar e conversar civilizadamente, o que sobra da narrativa apocalíptica de que o PT quer transformar o Brasil numa Venezuela tropical?
A verdade é que o gesto de Lula foi político, inteligente e para desespero dos adversários, eficaz.
Mostra que o presidente brasileiro se move com desenvoltura no tabuleiro internacional, enquanto a oposição interna insiste em jogar damas num mundo de xadrez.
Lula sabe que o poder não se exerce apenas com ideologia, mas com pragmatismo. E, ironia das ironias, esse pragmatismo — tão demonizado pelos mesmos que agora se calam — foi o que sempre distinguiu os grandes líderes. O Brasil precisa de pontes, não de trincheiras.
Mas a ala bolsonarista, órfã de argumentos, tenta fingir que nada aconteceu. No fundo, sofre com um dilema existencial: se Lula está se aproximando de Trump, com quem eles vão brigar? Vão chamar o próprio Trump de petista?
Enquanto isso, as pesquisas mostram Lula em ascensão, mesmo sob o bombardeio diário da oposição e a tradicional má vontade de setores da imprensa, que fingem neutralidade enquanto torcem pela ruína do governo.
Não é novidade, parte da mídia brasileira tem dificuldade em lidar com o sucesso de Lula. Afinal, ele desafia o dogma de que só tecnocratas bem-nascidos podem governar.
No fim, o encontro com Trump serviu como espelho: mostrou quem tem visão de estadista e quem vive de ressentimento. Lula, mais uma vez, mostrou que sabe jogar o jogo grande. E os que apostaram em sua queda ficaram, mais uma vez, sem saber para que lado correr.
No tabuleiro político, o rei segue de pé, e, ao que tudo indica, avançando casas enquanto a oposição continua discutindo as regras.
quarta-feira, 22 de outubro de 2025
Ódio do bem, continua sendo ódio
terça-feira, 21 de outubro de 2025
STFux
A princípio, trata-se de um gesto burocrático. Um ministro muda de turma, o tribunal redistribui as cadeiras, e a vida segue. Mas, como tudo na política e no Judiciário brasileiros, há os fatos e há o subtexto — e o subtexto, aqui, não está nada sub, mas bem descarado.
Fux sai da Primeira Turma justamente no meio dos julgamentos sobre a tentativa de golpe de Estado, aquele mesmo em que o ex-presidente e seus comparsas tentaram subverter o resultado eleitoral.
Coincidência? Pode ser. Mas o ministro, como diria Nelson Rodrigues, é um homem experiente demais para acreditar em coincidências.
O voto de 14 horas
Na Primeira Turma, Fux ficou isolado. Foi o único a divergir da maioria que condenou os envolvidos na trama golpista.
Seu voto (com argumentos retirados não dos anais do Direito, mas dos anais próprios), negava a competência do Supremo para julgar os acusados. Era o tipo de decisão que faria o bolsonarismo abrir um sorriso de orelha a orelha e postar figurinhas comemorativas em grupos de WhatsApp.
Agora, o ministro quer mudar de turma. Ora, a Segunda Turma abriga justamente dois ministros indicados pelo condenado por associação criminosa, Jair Bolsonaro: Kássio e Mendonça.
A matemática é simples, embora o cálculo seja político: três votos de perfil serviçal podem, em alguns casos, inverter o placar. É como se o ministro Fux tentasse reconfigurar o mapa do tribunal, criando uma turma mais “simpática” às teses que o bolsofacismo gostaria de ver prosperar.
A liturgia que se "fux"
Nada disso é ilegal. O regimento do STF prevê a troca. Mas há uma diferença abissal entre o que é permitido e o que é decente. O gesto de Fux, num momento em que o tribunal é alvo de ataques coordenados, fragiliza a imagem de coesão e imparcialidade da Corte. E pior: alimenta a narrativa de que há “ministros de esquerda” e “ministros de direita”, como se a Constituição tivesse partido.
Em tempos normais, talvez fosse um detalhe. Mas não vivemos tempos normais. Depois do 8 de janeiro, qualquer movimento que soe como aceno a um “tribunal alternativo” precisa ser examinado com lupa.
Fux sabe disso, mas não se envergonha em nada.
O STF não é um lixão ideológico
O Supremo não é, ou não deveria ser, um condomínio de afinidades políticas.
O ministro que muda de turma porque discorda de seus pares não busca a harmonia da Justiça, mas o conforto da conveniência. E conveniência, no tribunal constitucional, é sinônimo de descrédito.
In Fux we não mais trust...
A função de um ministro do STF é resistir ao ruído, não adaptar-se a ele. Se Fux, pressionado pelo isolamento, busca refúgio em uma turma mais “amigável”, então o problema não é de colegiado, é de convicção.
E tentar criar um tribunal bolsonarista dentro do STF é motivo pra que seu pedido de impeachment seja cogitado.
Lectio proposita, lectio discita
Luiz Fux já presidiu o STF. Conhece a liturgia, a história e o peso simbólico de cada gesto. Por isso mesmo, sua decisão causa perplexidade. O Supremo não pode parecer um tabuleiro de xadrez em que ministros mudam de casa conforme a conveniência das peças.
Ao fim e ao cabo, não é o destino de Fux que está em jogo, mas o da credibilidade institucional da Corte. E credibilidade, uma vez rachada, não se recompõe com votos bem redigidos nem com latim forense. Se bem, que credibilidade e Fux, não cabem na mesma frase.
O ministro pode alegar que apenas exerce um direito regimental, e estará certo. Mas há decisões que, embora jurídicas, cheiram a política. E o perfume, nesse caso, não é dos melhores.
TEXTO DE:
Tarciso Tertuliano




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