sábado, 27 de maio de 2023

Fogo Amigo: PT e Randolfe causam problemas ao governo Lula

 

Particularmente, sempre admirei o Senador Randolfe Rodrigues. Mas esta admiração não me furta o direito de criticar seus últimos feitos.

Randolfe já havia defendido que o Rede fosse incorporado por outra sigla. Em janeiro concedeu uma entrevista a Revista Valor Econômico, onde confirmou que inclusive já estava conversando com correlegionários.

A ideia da fusão acabou não ocorrendo. Apesar das dificuldades o Rede iniciou um processo de oxigenação com a realização de seu 5° Congressso e a recondução de Heloísa Helena ao cargo de porta-voz nacional da sigla ao lado de Wesley Diógenes.

Além disso, Marina Silva acabou assumindo o comando do Ministério do Meio Ambiente no atual governo Lula.

Randolfe então decidiu por se desligar do partido.

Fez isso no pior momento possível: durante o desmantelamento do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério dos Povos Indígenas (comandado por Sônia Guajajara - PSOL).

É preciso lembrar, que quatro parlamentares do PT votaram pela aprovação do relatório da comissão mista da MP dos Ministérios: Augusto Brito (CE), Humberto Costa (PE), Marlon Solano PI), Alencar Santana (SP).

A coisa toda é tão bizarra, que parlamentares como Hamilton Mourão, Zé Trovão e Eduardo Girão, votaram contra esse relatório.

Até mesmo o deputado Kim Kataguiri, desafeto confesso de Marina Silva criticou as mudanças no Ministério do Meio Ambiente.

Porém, as coisas ficam piores. Randolfe passou a criticar de maneira covarde o IBAMA desde a semana passada, decisão do IBAMA de negar uma licença ambiental para que a Petrobrás pudesse prospectar uma perfuração na Margem Equatorial Brasileira.

No melhor estilo fanfarrão Randolfe lançou mão de argumentos completente absurdos.

Ele chegou a defender que o IBAMA devesse ouvir o povo do Amapá para tomar decisão, já que isso envolvia a geração de royalties ao estado.

É inacreditável que um parlamentar que passou tanto tempo justo no Rede Sustentabilidade faça esse tipo de discurso justamente contra uma decisão em defesa do meio ambiente.

Gostaria de perguntar ao senador: já que a maioria esmagadora da população brasileira poer desconhecimento e desinformação, é favorável à extinção dos direitos dos povos indígenas, deveríamos então atende-los?

A decisão do IBAMA foi técnica. E deve ser questionada de forma técnica.

Ao contrário do que disse o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a decisão não é "inadmissível".

Alexandre disse que Lula é o embaixadores do meio ambiente do Brasil, reconhecido mundialmente, e que não precisamos de outro. Fazendo clara referência à Marina Silva e soando como um perfeito bolsonarista de primeira ordem.

Se o PT, for o destino de Randolfe, desejo-lhe boa sorte.

O que não falei é fechar os olhos a todo e qualquer tipo de ataque covarde contra aliados como Marina Silva e Sônia Guajajara. Ou mesmo ataques covardes contra adversários declarados.

Em relação ao PT, humildemente recomendaria cuidado no trato com aliados.

Não foi Marina Silva a flagrada ao lado de um embriagado José Luis Datena, idealizando complôs contra o PT.

Lula convidou Marina e Guajajara para uma reunião nesta sexta (26), para tentar amenizar a situação.

Com a desidratação de aliados e o fortalecimento do centrão comandado por Arthur Lira, Lula corre o risco de se tornar uma espécie de Bolsonaro na presidência.

Com uma diferença básica: Bolsonaro passava o tempo falando asneiras e passeando de motocicleta. Lula pode passar o tempo em viagens internacionais, discursando sobre paz mundial e alimentar os pobres.

Talvez esteja isso que o Congresso quer.

terça-feira, 23 de maio de 2023

Cúmulo da bizarrice: senador defende macaco comparado a Vinícius Júnior

Se alguém chegou a acreditar que o episódio de racismo envolvendo o jogador brasileiro Vinícius Júnior do Real Madrid, não poderia ficar pior, se enganou redondamente.

Além de ser atacado covardemente durante toda a partida pela torcida do Valência, ser agredido por jogador adversário e expulso pelo árbitro de forma criminosa, Vinícius agora é vítima de racismo por parte de um dos nossos congressistas.

Trata-se do senador Magno Malta. Aquele que levou uma surra dentro do banheiro de um hotel, pasmem, do blindex.

Durante sa participação na Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação (porque diabos esta besta integra essa comissão não sabemos explicar), Magno Malta defecou pela boca.

Teve a coragem (ou insanidade) de questionar onde estariam os defensores da causa animal para defender o macaco que foi comparado a Vinícius Júnior.

"Então, cadê os defensores da causa animal, que não defendem o macaco? O macaco tá exposto. Veja quanta hipocrisia. E o macaco é inteligente, é bem pertinho do homem, é a única diferença é o rabo. Ágil, valente, alegre, tudo que você possa imaginar ele tem..."

Esse foi um trecho do esterco verbal vomitado por esse senador desavergonhado.

O pior é a demora do Conselho de Ética do Senado em se posicionar. Nos dá a impressão que nosso Congresso Nacional é composto por um bando de imbecis.

Para completar a bizarrice, Magno Malta ainda negou sua negritude. Disse "se eu fosse um jogador negro".

Senador Magno Malta, o senhor é branco?

Sinceramente, tenha pena e nojo desse senador. E tenho vergonha de pertencer a mesma espécie que esse senhor.

Com todo respeito, senhor Magno Malta, se o macaco é (nas suas próprias palavras), ágil, valente, alegre, inteligente e "bem pertinho do homem", com toda certeza, o senhor não é um macaco.

E desconfio, talvez tem não seja um ser humano.

Talvez o senhor seja apenas um verme mesmo.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Semana de Cassação, Nazismo e infantilidade

 

As coisas andam bem confusas e desesperadas no movimento nazi-tupiniquim.

Numa mesma semana temos depoimento do ex-presidente cabeça de camarão na PF, cassação do mandato de Deltan Dallagnol, e mais descobertas sobre a vida finaceira nada recatada da ex-primeira-dama Michelle do Reteté.

Como tudo isso serviu para enfraquecer o apoio dos fanáticos nas redes sociais, os nazi-tupiniquins tiveram de rebolar para manter o apoio de seus adestrados.

E como o homem que se suja de farofa está um tanto calado graças à prisão de seu ordenança Mauro Cid, cabe a outros tentarem manter a militância bem alimentada com ódio.

Tivemos Kássio Nunes Marques, ministro do Supremo tentando cravar em plena sessão do TSE uma fake news sobre o envolvimento do PT com crime organizado. Mesmo tomando uma reprimenda de Alexandre de Moraes, Kássio com K, continuou falando besteiras, se fingindo de lesado.

Outro que tentou atiçar a massa foi Deltan Dallagnol. Após ser cassado por unanimidade no TSE, alegou perseguição e outras sandices.

Só não conseguiu sustentar a tese, porque até mesmo o que se faz de lesado, Kássio com K, votou pela sua perda de mandato.

Mas ele não se deu por satisfeito. Em um discurso emocionado, cercado pelo que há de mais fétido, alegou ser ele o ungido de Deus no atual momento da história da humanidade. Não satisfeito em se comparar a um personagem bíblico, ele se comparou a três: José, Daniel e Jesus. Numa óbvia e desesperada tentativa de charlatanismo os evangélicos à cena, assumiu logo de uma vez o status de santíssima trindade.

O ex-vice-presidente Mourão, que hoje sabe-se lá como é senador, mais uma vez defecou pela boca. Coisa que há se tornou corriqueira.

E por último um deputado delegado de nome impronunciável, que ficou conhecido nacionalmente por causa da morte da namorada, fechou o trio. Esse, mais descarado, fez aceno aos nazistas em plena tribuna da Câmara.

Ele elogiou o avô por supostamente ter lutado na Segunda Guerra pelos nazistas.

Fosse em tempo de decência, seria enquadrado no crime de apologia ao nazismo. Claro, não acontecerá, porque há muito o Congresso perdeu a vergonha e o rumo.

Ali é um vale tudo, com direito a nazismo, homofobia, gritos de xupetinha, ameaças abertas de ataques com armas de fogo e daí para pior.

Tudo isso, parece não ter servido para levantar o astral do líder maior dessa patota. Bolsonaro ultimamente fala com a imprensa com sinais de já estar todo cágado. E até Moro, já sente a pressão e estuda bater em retirada para os EUA, com medo de acabar saindo da intenção de chegar ao STF, e acabar como condenado do STF.

A coisa anda muito maluca.


GOVERNO AGE DE MANEIRA INFANTIL

No dia seguinte à cassação de Deltan Dallagnol, o Governo Federal ironizou o ocorrido.

Em seu perfil oficial, o governo postou um power point citando os feitos da administração até agora.

Pode parecer engraçado para a turma da 5ª série comandada por André Janones & cia.

Mas foi deselegante, infantil e desnecessário.

Lula nunca foi Bolsonaro, e portanto, sua equipe não precisa e nem deve agir com faziam os lacaios do ex-presidente.

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Futebol da Soninha Toda Pura

Você conhece jogo do bicho? Quem não conhece! É ilegal. Todo mundo sabe. De vez em quando aparece um preso, depois some anos, faz parte do processo, é necessário.


Bicheiros também empregam, vide os que fazem os jogos, aposentados, desempregados, serve de bico.


Bicheiros financiam obras, creches, escolas de samba e comunidades.


Fazem festas para políticos, amigos, influentes, policiais, advogados...


Ao fundo a população não sabe e nem quer saber porque não são ou são presos.


Pois é!


Agora a população começou a descobrir o " jogo de bicho" em formato de Futebol.


No Brasil 120 jogadores sob suspeita.


Claro que um cartão do Vitor Mendes custa 50 mil e por esse preço Messi pode de repente cuspir em campo, apenas.


Primeiro que lá o valor é em euros. Começa aí.


Segundo o empresário, as empresas que patrocinam, um Messi, CR7 e outros tantos, são gigantescas monetariamente.


Vitor Mendes perde um pênalti por 70 mil. Um Messi custa 70 milhões.


É o jogo do bicho sendo descoberto.


Se cavar muito e se cavar lavagem de dinheiro com SAF, principalmente na Europa, acaba o futebol.


TEXTO DE:

Janja Jurista

terça-feira, 9 de maio de 2023

Rita Lee por Paulo-Roberto Andel

 

Paulo-Roberto Andel 

(para o blog Língua Preta)


Rita Lee está na minha vida desde criança. Em 1979 e 1980 ela era onipresente no rádio e na TV, tocava o tempo todo e, claro, o sucesso era redundância. Fomos educados com "Lança perfume", "Baila comigo", "Atlântida", "Chega mais", "Final feliz" e a instigante "Mania de você" (que algumas meninas cantavam baixo, por causa dos versos).

Mas muito antes da minha meninice, Rita já era um colosso. Afinal, em fins dos anos 1960 ela já era a voz e o - lindo - rosto dos Mutantes, banda que tardiamente ganhou o merecido respeito mundial. Uma "ídola" da Tropicália. Genial.

Falar o que todo mundo já falou é desnecessário. Todos sabemos da importância de Rita para a cultura popular brasileira, a luta contra a ditadura, o machismo e muito mais. Seu humor, sua verve, seu estilo único de letrista. Destaco a fala do multi artista Makely Ka, sobre o fato de Rita ser a maior compositora brasileira da segunda metade do século XX - e é isso mesmo. Suas músicas traziam a essência da Tropicália, numa verdadeira geleia geral que misturava circo, reinos perdidos, tesão, paixão e sorriso.

Talvez, e só talvez, a maior façanha de Rita tenha sido fazer o pop rock ganhar o Brasil de verdade em todas as classes. Se mães e avós já se divertiam escutando e vendo novos artistas como os Titãs e os Paralamas do Sucesso, é porque já estavam adocicadas pelos hits de Rita desde os anos 1970 - e muitos deles ecoaram por todo o Brasil através das novelas, assobiados por milhões de fãs. Todo mundo cantava, todo mundo conhecia, era pop mas nunca perdia a pegada rock. Não há como deixar de lado seu grande parceiro de música e de vida, Roberto de Carvalho, corresponsável por um batalhão de sucessos eternos.

Desde muito, muito tempo atrás, eu não sei o que é o cotidiano sem Rita Lee. Quando comecei a escutar música regularmente, ela já estava ali gigantesca. Lá se foram mais de quarenta anos. Hoje as cortinas se fecharam, mas para uma artista do tamanho de Rita Lee, uma vida intensa de 75 anos funciona como mera preliminar para uma eternidade esplêndida. 

Em tempo: os Mutantes foram espetaculares, mas não o seriam sem Rita Lee.

Rita

Como disse Roberto de Carvalho: "Pai, filhos e ESPÍRITA SANTA!"

Depois de muita luta em decorrência do câncer, partiu Rita Lee. A integrante feminina da melhor banda de rock brasileiro de todos os tempos: Os Mutantes. Integrante assídua do movimento Tropicalhista, soube e processou a sua maneira a criar o seu estilo próprio artístico, com uma parceria fenomenal com seu fiel escudeiro e marido até o fim de seus dias Roberto de Carvalho canções antológicas.

Ela queria ser desde sempre um espírito livre, ainda que paparicado, com uma retaguarda forte e uma irresponsabilidade infantil que permeou os seus 75 anos de idade.

Rita Lee viveu uma vida de almanaque, e foi como um almanaque que ela decidiu contar  sua vida em livro, ainda que a prosa seja errática e a memória, um pouco enevoada.

Quando penso que isso é bom, eu penso em Rita Lee. Quero cantar São Paulo, quero cantar nosso tempo. Mais fundo e mais simples, quero cantar e mais nada. Cinquentões adolescentes ganhando no braço do baixo-astral do Brasil, se nossa “menopausa (sic!) criativa” for assim, welcome seja! Para sempre teu.

Mais ou menos naqueles tempos meus de jovem eu descobri outra garota, um pouquinho mais velha, mas também ruiva, sardenta e de pernas muito longas. Ela se chamava Rita Lee, por quem eu me encantei aos 10 anos, em 1993, quando ouvi pela primeira vez no toca discos de meu pai a canção Fruto Proibido, um dos grandes álbuns da história do rock brasileiro, gravado com a banda Tutti Frutti. A capa do LP, em tons de rosa e lilás, trazia a ex-Mutante em uma encarnação glam rock tupiniquim, com os cabelos vermelhos e picotados à la David Bowie. Aos meus olhos, ela não era uma cantora ou uma pop star: nela, eu enxergava uma super-heroína, saída dos gibis e dos desenhos animados.

Muito amor e sexo! Dejá vu musical.


TEXTO DE:

Thiago Muniz

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Lancheiro

 

Outro dia passou uma postagem pelo Facebbok, algo como "Em que você queria trabalhar quando era criança?". Respondi "lancheiro". Uns amigos riram, mas era a pura realidade. 

Meu sonho era trabalhar de atendente no Boni's de Copacabana. Meu pai me levava lá nos anos 1970 para lanchar. Naquela época, a máquina de refrigerante era uma novidade. Vinha o copo com deliciosa espuma e o misto quente sequinho, com queijo derretido e pão de forma brilhando. Era gostoso demais, tão gostoso que eu pensava em trabalhar na lanchonete, não somente para fazer sanduíches deliciosos mas também por achar, pela natural ingenuidade de criança, que acabaria sobrando um ou outro misto quente para mim. É um trabalho digno, honesto e correto, mas também sacrificante - você fica muitas horas em pé, o salário é sempre menor do que suas necessidades básicas, enfim. De toda forma, era o que eu sonhava. 

Tempos depois, eu queria ser PM. Morava perto do quartel e o coronel liberou meu amigo Fred e eu para jogarmos numa máquina de pinball que havia por lá. Nós nos divertíamos e pensávamos: se você for PM, além de poder jogar de graça, ainda tem quadra de futebol de salão no trabalho. Ah, e todo soldado tinha um carro legal, bem legal - eles ficavam estacionados na nossa rua. Vinte e tantos anos depois, caímos na gargalhada vendo "Tropa de Elite" juntos: o filme explicava a incrível matemática que une soldos baixos a carrões. 

Também pensei em ser piloto de Fórmula 1. Quando criança, eu gostava de carros, das corridas e achava o máximo aquela velocidade. Tempos de Alan Jones, Carlos Reutemann, Ronnie Peterson, Jacques Lafitte e de Nelson Piquet, antes de se prestar aos ridículos atuais. Mas como seria um piloto? Eu não tinha dinheiro nem pro lanche, quanto mais pra ir morar fora. Impossível. 

Depois passei a adolescência sonhando com um emprego de carteira assinada, o que só viria muitos anos mais tarde. No resto, uma exploração só. Fui camelô - assim como agora -, caixa, office boy, professor particular, e passei a década de 1980 penando, tão ruim quanto é agora para os jovens. Só fui descobrir o que era um emprego estável no meio dos anos 1990, com direitos trabalhistas e tal, mas depois de ser rapinado como estagiário por anos e anos. Depois de tanto tempo, era legal ter uma sensação de pertencimento, salário legal e tal. Ajudei minha família até o fim. 

Fico pensando hoje nos garotos desesperados, lutando para trabalhar, lutando para estudar, sonhando em ajudar seus pais, tentando buscar um espacinho nesse mundo tão escroto e cruel, sem direito algum, a maioria com uma bicicleta alugada, levando comidas para as pessoas, mas sem poder comer o mesmo prato. Outro dia alguém se assustou quando eu disse que é comum ver muita gente a caminho da Central do Brasil, por volta das cinco da tarde, comendo biscoitos baratos na rua para aliviar a fome do almoço que não aconteceu, e que nunca acontece porque a maioria das pessoas não têm dinheiro para almoçar. 

Só o que me resta são saudades da minha ingenuidade de criança: eu queria que todo mundo pudesse comer um ótimo misto quente. O bom de ser criança é que invariavelmente você tem fé, seja nas pessoas, nas firmas ou nas causas. Depois a gente cresce e finalmente entende o que dizia Vinicius de Moraes: "Na vida, poucas coisas valem a pena". É uma dura e imprescindível verdade que só pude constatar depois de uma longa e dolorosa caminhada. 

Quando passo em Copacabana, gosto de espiar o Boni's. Nunca mais fui lá, vi que foi todo modificado. De toda forma, ali está um pedacinho meu de quando eu ainda iria descobrir o mundo.

Há um outro motivo, triste e engraçado também: na esquina da Siqueira com Avenida Copacabana, por muitos anos houve a figura do Sr. Bolinha, que era bem pequenininho devido a uma doença de nascença. Ele ficava em cima de uma caixa de sapatos ou algum papelão pedindo dinheiro. Mesmo diante de um enorme sofrimento, o Sr. Bolinha estava sempre rindo e ainda fazia brincadeiras com os outros, cutucando os pés dos transeuntes e se arriscando por isso. Meu amigo Xuru dizia que, se ficasse rico, iria adotar o Sr. Bolinha porque achava ele muito maneiro. Não tenho dúvidas: se tivesse enriquecido, Xuru faria isso mesmo. 

O Sr. Bolinha ria muito, em pleno sofrimento. Um dia sumiu. Ninguém fala mais dele. Morreu provavelmente. Quem se preocupa com alguém que sofre na rua? Pensar em sua risadinha acaba sendo um alívio para este fim de domingo com futebol na TV, desesperos e certa melancolia, porque o fim do domingo nos lembra que daqui a pouco começa tudo outra vez, a roda do sistema nos atropela e preferimos que tudo passe rápido para podermos descansar daqui a alguns dias, isso para quem pode descansar. 


TEXTO DE:

@pauloandel

sábado, 6 de maio de 2023

Um excêntrico Mundo Novo nos espreita

 

Ondas de um grande estrondo percorrem o ar, com o cheiro de coisa podre se espalhando nos arredores. Cadáveres são empilhados nas esquinas. A peste do bolsonarismo desmorona com sua obsessão de crimes, fraudes e doenças que contaminaram e dividiram o país por quatro longos anos, período mais tenebroso de sua história. Quem acreditou nas trapaças e mentiras agora tapa o nariz, mas ainda quer fazer de conta que a vida política é assim mesmo, todos os políticos fedem, roubam e cometem crimes.   

Com seu romance ‘Admirável Mundo Novo’, uma espécie de ficção cientifica distópica publicado em 1932, o escritor inglês Aldous Huxley antecipa o surgimento de uma sociedade alucinada pelo desenvolvimento de novas tecnologias, capazes de manipular psicologicamente as pessoas. A vertigem acontece durante o sono. Enquanto dormem, ouvem frases que se repetem, inculcando mensagens morais em seu inconsciente.

Estaremos no limiar de um mundo assim, grotesco, assombroso, excêntrico, em que as pessoas, em seu infortúnio, são induzidas a aceitar o que lhes é dito? Tornam-se indiferentes ou maleáveis, a ponto de venerar como líderes tipos desqualificados e mistificadores?

Há várias questões polêmicas em debate hoje no país, que envolvem desde a prisão do Jair pela prática sistemática de crimes e fraudes, planos econômicos, taxa exorbitante de juros, arcabouço fiscal, o assassinato de Marielle, a manipulação das fake news, com seu sinistro rastro de mentiras e ódio, até a invasão da inteligência artificial. Críticos alertam sobre os perigos das empresas que usam tecnologias invasivas que alimentam instrumentos populares, como o ChatGPT.

Nenhuma das questões, no entanto, é tão crucial para o futuro do país quanto a punição dos responsáveis pelo 8 de janeiro, nosso grande desafio.  De seu julgamento depende a normalidade institucional, a continuidade da vida democrática, a liberdade de fazer escolhas, direitos e deveres assegurados.  

Naquela tarde de 8 de janeiro, em Brasília, exibiu-se com despudorada desfaçatez o espetáculo grotesco de tentativa de golpe de Estado, com a invasão das sedes dos três poderes filmada pelos próprios delinqüentes.  As provas estão materializadas, executores, mandantes e inspiradores devidamente reconhecidos. 

Sabemos que estavam lá pessoas que não aceitaram o resultado das eleições e defendiam a ruptura violenta da ordem democrática.  O que é crime, nas palavras do ministro Luís Roberto Barroso, do STF.  São nítidas as impressões digitais da gangue bolsonarista. Decorridos três meses, o país se encontra à espera de uma decisão inapelável do Supremo Tribunal.  

Os brasileiros estão cansados de ver aquelas imagens pela televisão, celulares e computadores. Um bando de fanáticos com a camisa verde e amarela, destruindo o patrimônio público. A cada vez que reveem as imagens, sentem um arrepio passar pelo corpo. Uma reação de asco e indignação, semelhante a que temos diante de outra cena comum de violência urbana: um grupo de policiais militares armados imobilizando um cidadão negro desarmado. Estão na rua, diante de uma viatura. O negro tenta se soltar. Os policiais o arrastam e derrubam na calçada, imobilizam seus braços e o estrangulam pelo pescoço. 

Este o excêntrico modelo de mundo novo que nos espreita. Nada tem de admirável. Os cidadãos que trabalham e amam a liberdade, dos intelectuais aos novos proletários entregadores de comida, esperam que a Justiça mande para a cadeia os autores dessa  infame intentona de natureza fascista. Que agiram certos de que teriam a proteção e a cobertura de autoridades e de seus superiores nas Forças Armadas, assim como tem sido em nossa sangrenta história.  

Ao final, todos seriam elogiados e promovidos, da mesma forma como foram os torturadores na ditadura militar de 1964. Ao término do regime, em 1985, voltaram para suas casas condecorados e anistiados. 

É hora de levantar um clamor e dizer chega! Sem julgamento e punição dos envolvidos no 8 de janeiro tudo o mais desmorona. Este é o ponto de partida para manter o regime de liberdade, o arcabouço fiscal do Haddad, ajustar os juros do Banco Central que travam o crescimento e o emprego, e submeter à lei a mistificação das fake news, que servem à expansão do extremismo de direita.

Huxley criou o seu admirável mundo novo para nos encantar e advertir. Entre nós, o juiz Alexandre de Moraes, o Xandão, deve saber disto. Pelo menos assim tem agido, com determinação e vigor para fazer valer o cumprimento da lei, não importa se do agrado de um conservador, liberal, anarquista ou comunista.


TEXTO DE:

Álvaro Caldas

Jornalista e Escritor

sexta-feira, 5 de maio de 2023

OMS anuncia fim do ESPII sobre Covid

 

Depois de mais de 3 anos convivendo com a morte, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta sexta-feira (5) que a Covid não é mais uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII).

Desde o final de janeiro de 2020, o mais alto título de alerta da organização havia sido declarado para o surto do novo coronavírus.

A decisão foi motivada pela queda no número de casos e de mortes pela doença, aliada ao avanço da vacinação da população.

Pelas estimativas da OMS, desde 2020, a doença matou mais de 7 milhões de pessoas em todo o mundo, um número que pode ser ainda mais alto. No Brasil o número de mortes ultrapassou 700 mil.


EMERGÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA DE IMPORTÂNCIA INTERNACIONAL

É um termo técnico que passa por diversos critérios até ser decretado. A designação é bastante importante para coordenação de esforços de saúde pública internacionais. É também o mais alto nível de alerta da OMS. Acabar com a emergência pode significar que a colaboração internacional ou os esforços de financiamento também serão encerrados ou mudarão de foco, embora muitos já tenham se adaptado à medida que a pandemia recuou em diferentes regiões.

PANDEMIA

É o termo que faz referência a disseminação mundial de uma nova doença, quando vários continentes têm uma transmissão sustentada do surto. Para a OMS, a declaração de uma pandemia é uma caracterização ou descrição de uma situação.


quarta-feira, 3 de maio de 2023

Bolsonaro na mira da PF, outra vez...

A Polícia Federal deflagrou operação nesta quarta-feira (3), para apurar um esquema de fraude em dados de vacinação envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, com 17 alvos de busca e apreensão. Seis pessoas foram presas.

Segundo a PF, houve fraude no cartão de vacina de Bolsonaro. Ele é o principal alvo do mandado de busca e apreensão, que foi cumprido na casa onde ele mora, no Distrito Federal. Agentes apreenderam celular que deve ser dele.

A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, no inquérito que apura uma milícia digital. Mandados foram cumpridos no Rio de Janeiro e no Distrito Federal.

Segundo a PF, os suspeitos inseriram dados vacinais falsos sobre Covid-19 em dois sistemas exclusivos do Ministério da Saúde: o Programa Nacional de Imunizações e da Rede Nacional de Dados em Saúde.

O objetivo era emitir certificados falos de vacinação para pessoas que não tinham sido imunizadas e, assim, permitir acesso a locais onde a imunização é obrigatória.

Investigações apontam que o cartão de Bolsonaro, de sua filha Laura Bolsonaro, de Mauro Cid, sua esposa e filha foram alterados. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, foi quem incluiu os dados no sistema.

A falsificação objetivava a entrada de Bolsonaro, familiares e auxiliares próximos nos Estados Unidos, burlando regra de vacinação obrigatória.

O ex-presidnte viajou aos Estados Unidos em 30 de dezembro de 2022, à vésperas do fim do seu mandato e infelizmente voltou ao Brasil em 30 de março deste ano.