domingo, 26 de fevereiro de 2023

Brasil: um projeto vitorioso

 

O Brasil que anda se vendo no espelho é aquele formado por capitães do mato, capatazes, senhores de engenho, feitores, bandeirantes apresadores de índios e destruidores de quilombos, etnocidas, torturadores, coronéis, pistoleiros, membros do esquadrão da morte, misóginos, homofóbicos, ágrafos, parasitas sociais, fanáticos religiosos e arrivistas inescrupulosos.

Somos um país forjado em ferro, brasa, mel de cana, pelourinhos, senzalas, terras concentradas, aldeias mortas pelo poder da grana e da cruz, tambores silenciados, arrogância dos bacharéis, inclemência dos inquisidores, truculência das oligarquias, chicote dos capatazes, apologia ao estupro, naturalização de linchamentos e coisas do gênero.

O projeto de normatização desse Brasil de horrores, para que seja bem sucedido, precisou de estratégias de desencantamento do mundo e aprofundamento da colonização dos corpos. 

É o corpo, afinal, que sempre ameaçou, mais do que as palavras, de forma mais contundente o projeto colonizador fundamentado na catequese, no trabalho forçado, na submissão ostensiva da mulher e na preparação dos homens para a virilidade expressa na cultura do estupro e da violência: o corpo convertido, o corpo escravizado, o corpo feito objeto e o corpo como arma letal. Esse Brasil é um país de corpos doentes e todos nós compartilhamos dos ambientes doentios em que corpos brasileiros são condicionados e educados para o horror.

É preciso encarar que na mesma semana em que um clube de ricaços estabeleceu que corpos subalternos não podem frequentar banheiros destinados aos corpos bem-nascidos, trinta e três corpos educados para a boçalidade estupraram um corpo historicamente destinado à inexistência.

Corpos de senzala e corpos de casa-grande; corpos de mulheres preparados para o estupro e corpos machos de algozes preparados para as funções de capitães do mato, adequadamente propícios para um país que é obra pensada: somos feitos do que Joaquim Nabuco chamou de obra da escravidão.

Há quem diga que o Brasil deu errado. Discordo e recentemente escrevi sobre essa ideia. O Brasil foi projetado pelos homens do poder para ser excludente, racista, machista, homofóbico, concentrador de renda, inimigo da educação, violento, assassino de sua gente, intolerante, boçal, misógino, castrador, famélico e grosseiro. Somos isso tudo, não?

Neste sentido, desconfio que nosso problema não é ter dado errado. O Brasil como projeto, até agora, deu certo. Somos um empreendimento escravagista fodidor dos corpos extremamente bem-sucedido.

Fazer o Brasil começar a dar errado é a nossa tarefa mais urgente.”


TEXTO DE:

Luiz Antonio Simas

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Números

No fim, somos números e só. Com riqueza, importantes; insignificantes sem ela. Número do registro, número da identidade, número da matrícula, número da carteira de trabalho, da conta corrente, do contracheque. Número da casa, do prédio, do apartamento. Com sorte, número da aposentadoria. Sem sorte, talvez sem números, exceto o da geladeira do IML. A lápide tem um número, o último. Em meio a isso tudo, números de vaivém, de sucesso para poucos - mas o que é o sucesso, afinal? - e de anonimato para muitos.

Eu sempre gostei de números desde criança, mas não queria ser um número. Eu preferia ser uma pessoa, um cidadão, um ser humano tratado com dignidade, mas a sociedade e o estado fazem tudo para me oprimir e humilhar a ponto de eu não passar de um número, desprezível, descartável, absolutamente desimportante.

Eu preferia ser um cachorro bem tratado  numa família, ou um gato ou um passarinho, apesar da gaiola - que é opressora, mas nesse mundo de ruindade pode até ser bom negócio como residência. Bom mesmo deve ser morar nesse novo parque do Rio. Mas não, sou um número. E se eu me tornar zero ou infinito logo mais, para essa máquina de moer gente não faz a menor diferença. Troca-se um número por outro com grande facilidade. E alguém se importa com um número descartado? Somou, diminuiu, trocou, tchau e bênção.

O próximo número, por favor.


TEXTO DE:

Paulo-Roberto Andel

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Imprensa Brasileira deseja voltar a ser a Mulher de Malandro de Bolsonaro

 

Heitor dos Prazeres compôs a letra de Mulher de Malandro:


Mulher de malandro sabe ser

Carinhosa de verdade
Ela vive com tanto prazer
Quanto mais apanha
A ele tem amizade
Longe dele tem saudade

Mulher de malandro sabe ser
Carinhosa de verdade
Ela vive com tanto prazer
Quanto mais apanha
A ele tem amizade
Longe dele tem saudade

Ela briga com o malandro
Enraivecida, manda ele andar
Ele se aborrece e desaparece
Ela sente saudade
E vai procurar

Mulher de malandro sabe ser
Carinhosa de verdade
Ela vive com tanto prazer
Quanto mais apanha
A ele tem amizade
Longe dele tem saudade

Muitas vezes
Ela chora
Mas não despreza o amor que tem
Sempre apanhando e se lastimando
E perto do malandro
Se sente bem


A imprensa hegemônica no Brasil, parece que foi a musa inspiradora da composição, tamanha a falta de vergonha na cara que marca seu comportamento.

Os ataques ao atual presidente Lula surgem sem o menor pudor. A cada declaração do presidente, por menor que seja, gera uma enxurrada de reclamações e previsões de fracasso econômico e político.

Na esteira de Padre Antônio Vieira, esta nossa imprensa tenta escrever a história do futuro, parecendo esquecer tudo o que acabou de acontecer nos últimos quatro anos no nosso país.

A imprensa era tratada como uma cadela de rua pelo ex-presidente, o biltre homiziado cujo sistema excretor não consegue lidar com bananas e camarão.

Além de agressões verbais, mentiras, escárnio, por parte do presidente camarão, a imprensa passou a conviver com agressões físicas por parte dos zumbis nazifarofeiros.

Acontece que a exemplo da mulher de malandro da letra de Heitor dos Prazeres, a imprensa nacional, parece que tinha mais prazer em apanhar do sacripanta foragido, do que ter de suportar o comportamento democrático de Lula.

Em diversos momentos, vimos a imprensa combater a produção de fake news dos nazifarofeiros, com todo cuidado, parecendo desfilar em cima de um belo salto Luís XV. Já no caso de Lula, a imprensa mesmo gera o que poderia ser chamado de "fake fortune telling", que seria uma profecia do futuro, baseada na sua própria má vontade a cada ação do atual presidente.

Está parecendo que a imprensa hegemônica na sua aflição em defender teses liberais completamente imbecis que se criam no Brasil, e que em nada se identificam com o verdadeiro liberalismo, prefere voltar a ser a mulher de malandro de algum fascistinha de meia pataca.

Criticas ao governos, sempre serão bem vindas, desde que sejam baseadas em erros de fato. Não baseadas em um futuro ocorrido apenas na imaginação de analistas com delírios proféticos inspirados por sua própria antipatia a tudo que eles consideram populismo, que é o objeto de atenção do momento.

A democracia, dá direito a um amplo oceano de posições políticas, opiniões, etc, mas também nos dá o direito de rejeitar de pronto, a falta de caráter da imprensa quando esta for evidente.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

O Mau-Caráter Consciente como lastro do Espírito Nacional

 

Estava saindo do condomínio onde moro e fui abordado pelo porteiro, que me disse em alto e bom tom:

- O senhor é contra a independência do Banco Central?

Aquela pergunta me pegou de surpresa. Não sabia o que responder, porque simplesmente jamais cheguei a pensar sobre o assunto. A independência do Banco Central interfere tanto na minha vida quanto a mudança de nome do Ceilão para Sri-Lanka, ocorrida há décadas atrás, quando eu sequer era nascido.

Empertiguei-me e olhando para o horizonte respondi:

- Ora, independente de quem?

Foi o suficiente para que ele passasse os dez minutos seguintes discorrendo sobre a importância de se manter a independência do órgão. Não que soubesse explicar efetivamente o que isso significava, mas repetia que não poderia haver políticos interferindo nas decisões do Banco Central.

- Ora, e quem deve interferir afinal, nas decisões do BC, então? - Perguntei olhando para o céu.

Ele me olhou assombrado. O rosto ficou corado. Talvez tenha lhe passado a falsa impressão de querer briga.

- Ora, os diretores. Não os políticos.

- O senhor sabia que quem indica os diretores é o presidente e quem aprova é o senado?

- Sim... mas... eles são independentes. O Banco Central é independente.

- Independentes de quem?

- Dos políticos. Do governo.

- Quem lhe garante tal coisa?

- A imprensa. Os analistas econômicos garantem que a independência é boa.

- Mas, boa para quem?

Ele parecia que ia explodir, de tanto que estava vermelho. E explodiu mesmo. Falou alto para que outras pessoas passando pela área comum escutassem.

- Vejo que o senhor é populista.

Não me deu tempo de responder ou argumentar. Virou-me as costas e saiu em busca de outros parceiros de conversa, que fossem menos subversivos ( eu sou subversivo?).

Caminhando pelas ruas, me deparei na banca de jornais com dezenas de revistas e impressos, louvando a independência do órgão. Em um botequim, uma TV mostrava um programa jornalístico onde os analistas defendiam que o órgão deveria se manter longe dos políticos. Pessoas sem rosto, sentadas nas mesas e a beira do balcão, concordavam de forma veemente.

Descobri então, que havia um mau-caráter consciente, manipulando o espírito nacional. As pessoas das mais diferentes classes sociais, das mais diferentes culturas, das mais diferentes formações acadêmicas, eram unanimes em concordar com um fato que nada tinha de importante.

O Banco Central deveria estar acima da política, pois afinal, a política busca atender interesses de determinados grupos, como o povo, por exemplo.

Todos concordavam que deveria haver um órgão que interferisse nos interesses dos brasileiros, como políticas de juros, políticas econômicas, mercado de trabalho, e em seus próprios bolsos, mas que deveria estar acima dos interesses dos próprios brasileiros.

Fiquei em frente à Lagoa (aqui em Campo Grande também tem), pensando então, aos interesses de quem atendia este órgão independente.

Foi quando meu telefone tocou, e ouvi minha esposa dizer do outro lado da linha:

- Não esqueça de fazer o mercado.

- Ah, o Mercado. - pensei.

Sempre o Mercado.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Para entender o Brasil 2

 

A noite de segunda foi dura para o mundo, com o devastador terremoto que arrasou Turquia e Síria (ainda mais).

O Brasil vive ainda os reflexos da longa agonia bolsonarista: é um país arrasado, com desemprego e precariedade evidentes. Milhões de pessoas passam fome e não conseguem pagar suas despesas mínimas. A taxa de juros é absurda. O crédito popular está esmagado, alijando milhões de potenciais contratantes.

Já num outro planeta, o do Canal Globonews, o grande problema é a fala do Presidente Lula, irritando o grande ser invisível que nunca se alinha ao interesse dos brasileiros, chamado o Mercado. Ele não pode ser contrariado e escolhe as pautas.

É o mesmo que se incomoda com Lula, mas que não deu um pio sobre o escândalo multibilionário das Lojas Americanas.

Ele, o Mercado, jamais se incomodou com as centenas de milhares de mortos pelo Covid.

Ele, o Mercado, não emitiu a mísera nota sobre o massacre Yanomami.

Algo tão inusitado quanto o estranho cidadão que compra dezenas de imóveis  cash, mas usa o cartão corporativo para tomar cafés de R$ 9.000,00/dia.


TEXTO DE:

@pauloandel

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Para entender o Brasil

 

Dados do Demografia Médica, plataforma do Conselho Federal de Medicina, apontam que o país tem cerca de 545 mil médicos em atividade.


A ilusão da simplicidade na média aponta 2,56 profissionais para cada 1.000 habitantes, estimador que se aproxima de países como os EUA.


Porém, a porca rapidamente torce o rabo: a maioria dos profissionais, em torno de 290 mil, está concentrada nas 27 capitais brasileiras, que são ocupadas por 24% da população brasileira.Os outros 76% de brasileiros estão espalhados em outros 5.541 municípios da outrora Terra de Santa Cruz.


O engano da média: em números brutos, 2,56 médicos para cada 1.000 habitantes.


Contudo, a cada quatro brasileiros, três deles têm 1,59 médicos para cada 1.000 habitantes. Basta que estejam em um dos 5.541 municípios brasileiros que não são capitais.


Os dados acima não deixam dúvidas sobre a importância do Programa Mais Médicos, lançado em 2013 no governo de Dilma Rousseff, justamente com o objetivo de reduzir o desequilíbrio na cobertura nacional de atendimentos. O programa chegou a levar mais de 15.000 profissionais médicos a atender 63 milhões de pessoas em 4.058 municípios brasileiros. 


TEXTO DE:

@pauloandel

sábado, 4 de fevereiro de 2023

Não botamos a nossa cara na reta pelas "Diretas Já" para que rasguem a Constituição

Não sei se você se lembra...

Eu sim! 

Estávamos nas ruas com os nossos corações de estudantes, nas poesias de Milton, Chico, Gil, Caetano, Belchior, Zé Ramalho, entre outros.  Ocupávamos as praças. Sem disparar um tiro, mesmo sabendo que a dor das vítimas da absurda tortura, por sempre nos ressignificasse... Vinte anos com a coragem do medo da visita do chicote que silenciava.

Em 25 de abril de 1984, sob grande expectativa dos brasileiros, a emenda das eleições diretas foi votada, obtendo 298 votos a favor, 65 contra e 3 abstenções. Devido a uma manobra de políticos aliados ao regime, não compareceram 112 deputados ao plenário da Câmara dos Deputados no dia da votação.

Há quase 39 anos, nessa noite, na hora da votação, estava na Cinelândia. Ao meu lado, Ricardo Alves Selento, o meu brother Ricardinho da Torcida Jovem do Flamengo.  Nós sabíamos que era impossível.  Mas aqueles, até então, quatro meses de 1984 foram de pura magia. Quinze dias antes, naquele espetacular 10 de abril, no Comício das Diretas Já (com a presença de mais de um milhão de pessoas) nos abraçávamos na esquina de Presidente Vargas com Avenida Rio Branco, lágrimas nos olhos. Eis que surge o Alonso da Força Jovem do Vasco. Eram pouco mais que dez da noite, três cabeças das organizadas que saiam na porrada entre si, num só ser. Chorando juntos, unidos.

Não era uma questão de seita, nem de feiticeiro... Apenas queríamos viver as liberdades, da qual somente sabíamos existir, nas imagens do exterior, que se apresentavam aos som das chamadas do “Jornal Nacional” e do “Fantástico”.

Os anos 1980 trouxeram mudanças de pensamentos e de comportamentos. A própria efervescência do “Rock Brasilis”, nos tornou planfletários através da arte: desde “Vital e sua Moto” com o “desce daí garoto, senão eu atiro em você”, passando por Lobão, que era o próprio front man em “Cena de Cinema”, tangenciando à Marina que perguntava “pra começar, quem vai colar os tais caquinhos, do velho mundo?”, rasgando com o Barão ao pedir “pro dia nascer feliz”, decifrando com Celso Blues Boy que em “Tempos difíceis” alertava  avisando o “porque chorar não vale mais a pena”.

Perdemos, não conseguimos emplacar naquele 1984 as DIRETAS JÁ. Mas a semente foi plantada, a terra, por necessidades, por si só, era fértil.  O custo era a dobradinha Tancredo e Sarney, mas a Constituinte estava em estado embrionário.

O mesmo Lobão que queimava no seu carro a tal da gasolina, ao escrever “Revanche”, fotografava: 

A favela é a nova senzala, correntes da velha tribo...

E a sala é a nova cela, prisioneiros nas grades do vídeo...

E se o sol ainda nasce quadrado, a gente ainda paga por isso.


Gil... o Gilberto foi além, falando como periferia:

Das feridas que a pobreza cria, sou o pus.

Sou o que de resto restaria aos urubus.

Pus por isso mesmo este blusão carniça.

Fiz no rosto este make-up pó caliça.

Quis trazer assim nossa desgraça à luz.

Sou um punk da periferia, sou da Freguesia do Ó...”.

 
Para a gente que foi criança que virou adolescente e passou a jovem sob as tesouras da Censura, ouvir esses versos, representava chegar ao clímax. A gente não tinha tempo, mas a gente corria contra o tempo, nossas vidas necessitavam das nossas pautas, não as escritas por mãos alheias.

 
E o RPM nos brindou dizendo que era para invadir, para pilhar, para (re)tomar o que era nosso...
 
Zé Beto, que foi dono do U-bhan, um barzinho top que ficava na Paulino Fernandes, militante daquele rejuvenescido PSB, em 1988, lançou um livro: “Nem ficou a pátria livre, nem morri pelo Brasil”...

De repente o tempo passa, daquele 1984 ao atual 2023, quase 39 anos depois, domingo, 8 de janeiro... As imagens de Brasília nas televisões, nos celulares, nas redes sociais, todas, transpiravam ódio.

Ganhar ou perder faz parte do jogo, não sou um idiotizado, é óbvio que eu quero ganhar. Mas perder faz parte do jogo da honestidade, da ética, da verdade, da democracia, das pessoas religiosas (diferente de pessoas que vivem das religiões).

Em pleno final deste primeiro quarto de século XXI, vocês acham que eu vou ficar calado, mesmo que por isso venha a ter perdas de amizades ou cancelamentos?

Tá feio, esse espírito de indução à guerra civil. Faço uma regressão, até o Canecão em 1986... O mesmo RPM, dirigido pelo anjo Ney Matogrosso, antevia:

Ouvimos qualquer coisa de Brasília, rumores falam em guerrilha... Foto no jornal... Cadeia nacional, uou!”...

Quer dizer que tem gente querendo reescrever a história, atropelar o que aconteceu neste país em 1984? Tô fora. Nem golpe, nem fundamentalismo de Bíblia furada. Democracia.

Acredito na alternância no poder, desde que democrática, onde +1 sempre valerá mais que -1.

 Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante... Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo!” frase que tatua a essência do Raulseixismo em plenitude, me desenha.

Em um curto espaço de tempo perdemos o Jô Soares, Tarcísio Meira, Gal Costa, Erasmo Carlos, Pelé, Roberto Dinamite, Nélida Piñon, Milton Gonçalves, Claudia Jimenez, Elza Soares, Leandro Lo (lutador assassinado por um membro da PMSP), Arnaldo Jabor, Lygia Fagundes Telles, Maria Lúcia Dahl, entre outros... É muita coisa... É muita cultura, muito esporte.

Ficamos mais tristes, de certa forma órfãos. E ainda tem gente pensando numa guerra civil. É isso. Ou é melhor admitir que somos todos Tik-Tok, a melhor faculdade para o seu filho na atualidade.

Sou grato, não me vendo. Só não me faz de otário.

Termino deixando um pouco do que continuo pensando.

Em “Dizem”, eu que não sou, nem nunca tive a pretensão de ser cantor, apresento um pouquinho da minha poesia.


https://youtu.be/agWX4F4jzhc

O espanhol Joaquin Sabina define, diante das minhas visões, que “me duermo en los entierros de mi generación”... 

Digo não à mesmice, também digo não a aqueles que dão normalidade e visibilidade ao anormal.

Bem me quer, mal me quer...

"Esse caminho que eu mesmo escolhi... É tão fácil seguir, por não ter onde ir.

Controlando a minha maluquez... Misturada com minha lucidez...

Vou ficar...  Ficar com certeza... Maluco beleza".

É por aí, Mestre Raul...

Um beijo no coração de vocês.

 
TEXTO DE:


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Marcos do Val, a comprovação da previsibilidade bolsonarista

 

Fonte Reuters
Como previsto em nossa coluna anterior, o Plano C de Marcos do Val, Daniel Silveira e do ex-presidente Jair Bolsonaro: tentar causar a suspeição do Ministro Alexandre de Moraes em relação aos inquéritos que investigam atos antidemocráticos.

Não sou nenhum profeta para ter previsto isso, e nem sou Padre Antônio Vieira, mas o bolsonarismo é tão beócio, tão intelectualmente medíocre que é previsível até para uma criança de 4 anos de idade.

Os intelectuais (se é que se pode chama assim) do movimento nazifarofista de intelectuais não tem absolutamente nada. Suas interpretações da Constituição, das Leis e até de coisas simples e normais da vida humana, são completamente absurdas, ridículas e beiram a loucura.

Olhe como funciona a cabeça de um bolsonarista: se Sérgio Moro pode ser suspeito ao julgar Lula, logo, Moraes pode ser suspeito ao julgar Bolsonaro.

É uma ideia simplória. Porém, eles tentaram produzir um fato que pudesse tornar Alexandre de Moraes impedido de encabeçar inquéritos referentes a Bolsonaro.

Porém, estas cabeças pouco iluminadas, que na sua arrogância creem na teoria da infalibilidade de Bolsonaro, esqueceram mais uma vez de ler.

São preguiçosos, pouco afeitos a leitura e ao estudo.

Não foi à toa que o líder supremo desse movimento ao criticar livros didáticos disse:

"o problema dos livros é que tem muita coisa escrita"

Pois bem, e o que eles esqueceram de ler desta feita? O Artigo 256 do Código de Processo Penal (decreto lei nº 3.689).

"A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá-la."

Pois bem, na hora de criar esta maravilhosa trama de espionagem, nem Bolsonaro, nem Silveira, nem Do Val (que se gaba o tempo todo de ser da "inteligência"), ou mesmo o grande general Augusto Heleno que seria o responsável pelas gravações, de acordo com a declaração/dedução de Do Val, tiveram a ideia de ler sobre o assunto.

Disso tudo, só concluo uma coisa: esses camaradas tem muita sorte de eu não estar no lugar do Ministro Alexandre de Moraes. Pois fosse eu ali, já teria ontem mesmo ordenado a prisão preventiva de Marcos do Val e do ex-presidente Jair Bolsonaro.

E pouco me importaria com o fato de que Do Val é senador. Ele cometeu crime de perjúrio em flagrante delito durante todo o dia de ontem, com direito inclusive à transmissões ao vivo para quem quisesse presenciar o crime.

Que Moraes tenha muito mais paciência, sabedoria e espírito democrático que eu.

Pois ser acusado de mentiroso por um cretino que em apenas um dia trocou mil vezes as versões de sua história deve magoar, não é mesmo?

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Marcos do Val, o arquétipo do mentiroso em pessoa

 

Quem se arriscou a escrever a História do Futuro, foi Padre Antônio Vieira. Eu jamais tentaria algo tão audacioso. Porém, quem leu a coluna anterior, onde alertei o fato de que o campo progressista estava perdendo o foco e correndo risco de sofrer algum golpe do movimento nazifarofeiro, deve ter visto as revelações do senador Marcos do Val (Phodemos) com olhos de desconfiança.

Vamos aos fatos. Acordei e me deparei com as notícias de que o senador havia durante a madrugada, aberto o bico e confessando a participação em uma tentativa de golpe de estado, e tentativa de incriminar o Ministro do Supremo Alexandre de Moraes. (E creia, parte do golpe ainda está em curso, e já explico). Ele havia sido convidado pelo ex-presidente Bolsonaro (aquele que não pode comer camarão que baixa hospital) e o ex-deputado preso hoje, Daniel Silveira (aquele que só não estava na cadeia porque recebeu indulto ilegal e inconstitucional de Bolsonaro), para uma reunião onde recebeu proposta de atuar como uma espécie de espião, e realizasse uma escuta ilegal na esperança de flagrar alguma confissão de Moraes que pudesse levar a anulação da eleição.

Assisti à entrevista coletiva do senador, e fiquei com a séria desconfiança de que havia algo de muito errado na sua versão.

Mais tarde, por acidente, acabei vendo ele novamente, desta vez ao vivo, na Globo News. E então, a desconfiança inicial, se converteu em uma desconfiança ainda maior de que, ou Marcos do Val tem uma memória muito pior que a minha, ou ele não sabe contar uma história, ou ele é um tremendo mentiroso.

Acabei me decidindo pela mistura das três alternativas.

Do Val, tem a memória tão ruim, que não lembrava o que havia dito para a revista Veja, depois não lembrava do que havia dito na coletiva, e quando finalmente falou aos entrevistadores da Globo News, sequer lembrava onde havia sido o encontro com o presidente.

Ele também não sabe contar uma história. Sua narrativa é tão contraditória que chega ao ponto de desmentir falas dele mesmo. Como na alegação de que Daniel Silveira teria dito que o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) estaria envolvido no esquema, para depois dizer que Silveira não havia citado o órgão, mas que ele concluiu por ele mesmo que o órgão estaria envolvido.

E por fim, posso afirmar com certeza de 99,9% que Do Val é um tremendo mentiroso.

Ele disse algumas verdades: que houve uma reunião com Bolsonaro e Silveira, é uma delas. Outra verdade dita por ele é a de que se fizesse a escuta, a gravação teria sido considerada ilegal. Isso não faz dele um mentiroso.

Mas o fato de ter dito que se negou a seguir com o plano é que faz dele um mentiroso.

Qualquer leitor de Agatha Christie ou Harlan Coben, perceberia a mentira no ato.

Marcos do Val mentiu quando disse que não aceitou realizar o crime. Ele apenas se negou a realizar a escuta ilegal, mas aceitou tentar outra estratégia.

Com o Plano A, pensado por Bolsonaro (pois nas mensagens trocadas entre Do Val e Silveira, há menção ao plano do "01", que é Bolsonaro) descartado. Eles partiram para o Plano B.

Marcos do Val aceita se encontrar com Alexandre de Moraes, e narrar ao ministro fatos sobre a reunião. A ideia era de que o Ministro acabasse agindo de forma ilegal, talvez pedindo que Do Val se reunisse com o presidente usando uma escuta, na tentativa de acusar o Ministro de crime contra o presidente da República.

Note, que o próprio Do Val, alega ter perguntado ao ministro se deveria ir à reunião com os dois acusados e como deveria agir. Provavelmente a reunião já havia ocorrido.

Porém, Do Val, ouviu do ministro Moraes que se ele não fizesse uma denúncia oficial, nada poderia ser feito.

O Plano A havia sido rejeitado, o Plano B havia falhado, então está em andamento o Plano C.

Este terceiro plano é a tentativa de tornar "parcial" o ministro Alexandre de Moraes nos inquéritos contra os crimes anti-democráticos. Do Val disse que trabalha com o Moraes e que tem uma relação estreita com o ministro, intermediando uma espécie de trabalho conjunto entre o Ministério Público de seu estado e o Ministro do Supremo. Eis outra história mal contada, portanto uma meia verdade ou mentira.

A grande mentira de Do Val é ter dito que não havia concordado em realizar o crime. Pois é justamente o que está fazendo agora.

Até por isso, não renunciou ao cargo como havia ameaçado, pois acredita que pode se esconder na imunidade parlamentar, caso o plano não tenha o fim previsto.

E seu delírio de grandeza não acaba por aí, ele ainda quer que o Senado Federal crie uma CPI para investigar os ataque do dia 8 de janeiro, para poder provar que tudo foi comandado pelo atual Ministro da Justiça, Flávio Dino. Esta é uma das teses mais ridículas do nazifarofismo.

Talvez e não possa provar nada disso que coloquei aqui, mas posso dizer que o que me levou a imaginar toda essa teia, foi uma frase que supostamente Moraes teria dito em sua conversa com Do Val: "toda informação é importante".

Este é um erro típico de mentirosos. Justificar uma coisa que não precisa ser justificada. No caso, a enorme vontade de Do Val em entregar tão facilmente a maior quantidade de informações possíveis. Partiu dele o desejo de entregar todas as informações, e não do Ministro Moraes, pois ele disse que já na reunião com os acusados teria pensado em passar as informações o mais rápido possível ao Ministro. Minha conclusão é que o Plano C, é de autoria intelectual de Do Val.

Nem preciso comentar a necessidade quase compulsiva do próprio Do Val em se apresentar como um bastião da honestidade, o tempo todo elogiando a si mesmo e a seu próprio trabalho. Sofre de déficit de atenção e demonstra uma masculinidade bem frágil.

Ele tenta envolver Moraes na trama de forma amadora.

A conclusão que fica de tudo isso é que eu realmente estava certo ao reclamar da lentidão da justiça em punir de uma vez todos os envolvidos nos crimes contra a democracia, contra o genocídio Yanomami, e outros.

Vejamos se agora, de um a vez por todas a promessa de fim de impunidade tão anunciada por Flávio Dino sai do campo da retórica.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Apesar da letargia do campo progressista, Pacheco defeca na cabeça de Bolsonaro

 

Rodrigo Pacheco (PSD) foi reconduzido à presidência do senado, passando por cima de Bolsonaro, Rogério Marinho (PL)  e do incompetente e suspeito, Sérgio Moro.

Esta é a quarta derrota seguida de Bolsonaro. Perdeu para Lula no primeiro turno, perdeu para Lula no segundo turno, perdeu com o fracasso do golpe no dia 8 de janeiro, e perde agora a eleição ao comando do Senado e também na Câmara. Vale lembrar que ele já havia perdido a coragem e acabou fugindo do país.

Bolsonaro se envolveu diretamente na eleição à presidência do Senado, mesmo de seu esconderijo nos EUA.

Rogério Marinho, também partiu para a campanha, repetindo as mesmas imbecilidades que o movimento farofeiro repete aos quatro ventos: suposta ditadura do judiciário e um delírio sobre impeachment do Ministro Alexandre de Moraes.

Outro que desejava a derrota de Pacheco era aquele ex-juiz incompetente e suspeito, que deixou a magistratura para trabalhar na recuperação judicial da empresa que condenou, e depois foi ser ministro do ex-presidente semi-camarão, e saiu do cargo cometendo crime de calúnia e falsa comunicação de crime, para depois voltar a bajular o semi-camarão.

Após a eleição de Pacheco, senadores exibiram cartazes com dizeres em favor da democracia. Foi uma espécie de resposta ao comportamento infantilóide do deputado Eduardo Bolsonaro que na eleição à presidência na Câmara, apareceu com adesivos com a mensagem "Lira não".

Aliás, na Câmara outra derrota dos bolsofarofistas. Arhur Lira (PP), obteve votação recorde (464 votos). Na Câmara a vergonha de Bolsonaro foi ainda maior, pois o candidato do movimento adorador do mito anencéfalo, Marcelo Van Hattem (NOVO, aquele partido bolsonarista enrustido), além de ver Lira reeleito ainda ficou atrás do candidato do PSOL, Chico Alencar.


DEMOCRACIA AINDA CORRE RISCO

Apesar das derrotas bolsofarofistas na Câmara e no Senado, a democracia no Brasil ainda está sob risco.

Lula passou os últimos dias perdendo tempo tentando fazer uma releitura histórica do impeachment de Dilma Roussef.

Enquanto o presidente se preocupava em olhar para trás e tentava dar uma resposta ao campo da esquerda que critica a presença de "golpistas" no governo (vice-presidente e Ministros nomeados por ele foram a favor do impeachment de Dilma), o movimento nazistinha comandado pelo homem que se suja de farofa, olhava para frente e quase abocanhou a presidência do Senado.

A vitória de Pacheco não foi por uma diferença tão grande de votos, pois contou inclusive com votos de "protesto" de aliados do próprio Pacheco.

Lula perde tempo debatendo coisas que ele não vai mudar: impeachment de Dilma e independência do Banco Central, por exemplo. Enquanto isso, a justiça demora demais para iniciar as punições dos sectários vagabundos que cometeram diversos crimes contra a democracia.

Demora também o indiciamento e punição dos responsáveis do mais que comprovado genocídio Yanomami. Além de Bolsonaro, governador de estado, servidores federais e militares foram responsáveis pelos crimes.

A sociedade civil aguarda uma resposta, pois a justiça não demorou todo esse tempo para por exemplo, prender Lula sem provas e obrigá-lo a cumprir uma pena ilegal.

Governador Tarcísio libera cannabis pelo SUS

 

De olho em 2026, o atual governador de São Paulo já começa a deixar de lado o fanatismo pela farofa e pão francês com leite condensado, para se aproximar de políticas mais liberais, de olho no eleitorado não-identitário.

Depois de dizer que nunca foi um bolsonarista raiz, e que apoia a democracia, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tenta realizar um mandato mais voltado a causas que supostamente interessam ao povo paulista.

E na contramão das teses conservadoras, Tarcísio sancionou na terça feira (31 de janeiro), a lei que garante o fornecimento de medicamentos à base de cannabis (canabidiol) pelo SUS no estado.

O projeto é de autoria do deputado estadual Caio França (PSB) e foi aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em dezembro do ano passado.

Agora é aguardar quanto tempo vai levar para os filhotes mimados do lorpa (que tem problemas de relacionamento com farinha) que ocupou a cadeira da presidência, iniciarem seus ataques infantis contra o ex-aliado.

Provavelmente, eles farão postagens com "memes" para tentar atacar Tarcísio, até porque, seria exigir demais que deles saia alguma crítica inteligente.

O que vale deixar claro, porém, é que o campo progressista não se engane com estas atitudes do governador de São paulo, pois na área econômica, a política de privatizações poderá ganhar força. Agindo assim, Tarcísio ganharia não só a simpatia de progressistas menos atentos e liberais sedentos.

Olho nesse comportamento dúbio deve ser de cautela. Pois na sua esteira podem vir mais bolsonaristas farináceos.



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