sábado, 7 de junho de 2025

Ódio Performático

Muito se tem falado sobre a condenação do "comediante" Leo Lins e, lendo as publicações, resolvi trazer um pouco do que pensa a filósofa e linguista Judith Butler sobre o que ela chama de discurso de ódio.

Primeiro, precisamos dizer que a condenação é mais que justa, uma vez que ele não foi censurado, ou seja, ele fez seu show e apenas está sendo julgado por coisas que ele mesmo disse.

Porém, como não achamos que a prisão é uma solução inteligente para nenhuma problema, achamos que 8 anos de cadeia não é a melhor medida de punição. Melhor seria que houvesse uma condenação reparativa.

Mas...vamos a Butler.

Na obra Discurso de ódio: uma política do performativo (1997), Butler faz uma reflexão crítica sobre como a linguagem pode ser utilizada como uma ferramenta de violência, opressão e exclusão.

Para ela, a linguagem é performativa e, por isso, ela não só fala sobre a realidade, mas ela constrói, reconstrói, molda, desfaz e refaz a realidade como ela nos aparece.

Partindo desse princípio, uma frase nunca é uma frase. Uma palavra carrega a performatividade histórica a qual ela está atribuída e o contexto no qual ela é explicitada.

Assim, uma frase, que se pretende piada ou não, nesse caso pouco importa, é capaz de escrever, criar ou reconstituir e restabeleces relações de poder, subordinando certos grupos minorizados.

Na prática, como a linguagem molda a realidade social e a identidade dos sujeitos, ela pode causar danos psicológicos, sociais e até físicos.

A palavra INVENTA a violência. A palavra MANTÉM a violência. Mas a palavra também pode RESISTIR À VIOLÊNCIA.

E isso talvez seja o mais importante agora: como as palavras não apenas descrevem, mas também produzem efeitos sociais e políticos, ideia que ela recupera de Michel Foucault, estaria justamente na linguagem o nosso potencial de resistência e ressignificação dentro do próprio discurso.

Disputar, então, significados da linguagem no espaço público é nossa trincheira para um mundo mais justo.

Sigamos.


TEXTO DE:

Luiz Antonio Ribeiro

- editor do Nota

Nenhum comentário:

Postar um comentário