terça-feira, 16 de março de 2021

O Generalocídio, Oito Generais Degolados Pelo Governo

O primeiro e o segundo escalões, além de estatais, estão coalhados de militares. Comandam, por exemplo, 15 estatais. Mas também eles são alvos do destrambelhamento de Bolsonaro. O general Santos Cruz, da então Secretaria de Governo, foi o mais graduado a cair, no dia 13 de junho de 2019. Segundo entendi, foi acusado de ter pensamento lógico. Carlos Bolsonaro passou a considerar o militar um inimigo pessoal.

Dois dias antes da queda de Santos Cruz, já havia sido defenestrado da Funai o general Franklimberg de Freitas. No caso, pesava contra ele algo gravíssimo: defender os índios num troço  que chama Fundação Nacional do Índio. Onde já se viu?

Seis dias depois da demissão de Santos Cruz, Juarez Cunha deixou os Correios sob a suspeição de que trabalhava contra a privatização da empresa e de que passara a defender interesses dos servidores.

No dia 30 de setembro do mesmo ano, João Carlos Jesus Correia foi chutado do Incra. Resolveu levar a sério o seu trabalho e passou a tratar com rigor técnico a regularização de títulos de propriedade na Amazônia. Até as árvores derrubadas por madeireiros ilegais sabiam que supostos pequenos proprietários estão sendo usados como laranjas de grileiros. Jesus Correia, a exemplo dos outros, achou que tinha sido escolhido para trabalhar direito.

Em abril de 2019, já havia deixado o cargo Márcio Aurélio Vieira Santa Rosa, que foi diretor-executivo de operações da RIO 2016. Ficou 107 dias à frente da Secretaria de Esporte, um braço do Ministério da Cidadania. Em seu lugar, entrou o também general Décio Brasil, igualmente demitido - em fevereiro do ano passado - para dar lugar a Marcelo Reis Magalhães. No dia 4 de novembro de 2019, Maynard Marques Santa Rosa foi demitido da Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Fato: nas 7 demissões - 6 delas no primeiro ano de governo, e três no prazo de 8 dias -, nota-se que o presidente põe e tira general como se diz "hoje é domingo". Uma coisa é certa: há um pressuposto para durar no cargo: ser ineficaz e despido de qualquer sombra de amor próprio.

O presidente submete os generais a um óbvio ritual de humilhação. Talvez Freud explique, já que foi um "mau militar", na frase resumida de Ernesto Geisel. O fato é que essa folia não estaria em curso se os militares da ativa e da reserva não tivessem decidido governar o país em parceria com o "capitão" que julgavam controlável... Forças Armadas não podem se comportar nem como tutoras da sociedade nem como Partido da boquinha.

Nos sete casos elencados, tratava -se de generais da reserva. Com Pazuello, há obviamente uma delicadeza adicional: é general da ativa. E foi justamente ele a levar mais longe a subserviência. Assim foi ficando no cargo. E acumulando cadáveres.

Ainda agora, se o presidente desligar o fogo da fervura ele permanece. Até porque está com medo da justiça.

Texto de Reinaldo Azevedo, jornalista.

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Logo após esta matéria, o presidente nomeou outro ministro da saúde. Subiu para 8 o número de generais demitidos pelo governo.



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