terça-feira, 9 de maio de 2023

Rita Lee por Paulo-Roberto Andel

 

Paulo-Roberto Andel 

(para o blog Língua Preta)


Rita Lee está na minha vida desde criança. Em 1979 e 1980 ela era onipresente no rádio e na TV, tocava o tempo todo e, claro, o sucesso era redundância. Fomos educados com "Lança perfume", "Baila comigo", "Atlântida", "Chega mais", "Final feliz" e a instigante "Mania de você" (que algumas meninas cantavam baixo, por causa dos versos).

Mas muito antes da minha meninice, Rita já era um colosso. Afinal, em fins dos anos 1960 ela já era a voz e o - lindo - rosto dos Mutantes, banda que tardiamente ganhou o merecido respeito mundial. Uma "ídola" da Tropicália. Genial.

Falar o que todo mundo já falou é desnecessário. Todos sabemos da importância de Rita para a cultura popular brasileira, a luta contra a ditadura, o machismo e muito mais. Seu humor, sua verve, seu estilo único de letrista. Destaco a fala do multi artista Makely Ka, sobre o fato de Rita ser a maior compositora brasileira da segunda metade do século XX - e é isso mesmo. Suas músicas traziam a essência da Tropicália, numa verdadeira geleia geral que misturava circo, reinos perdidos, tesão, paixão e sorriso.

Talvez, e só talvez, a maior façanha de Rita tenha sido fazer o pop rock ganhar o Brasil de verdade em todas as classes. Se mães e avós já se divertiam escutando e vendo novos artistas como os Titãs e os Paralamas do Sucesso, é porque já estavam adocicadas pelos hits de Rita desde os anos 1970 - e muitos deles ecoaram por todo o Brasil através das novelas, assobiados por milhões de fãs. Todo mundo cantava, todo mundo conhecia, era pop mas nunca perdia a pegada rock. Não há como deixar de lado seu grande parceiro de música e de vida, Roberto de Carvalho, corresponsável por um batalhão de sucessos eternos.

Desde muito, muito tempo atrás, eu não sei o que é o cotidiano sem Rita Lee. Quando comecei a escutar música regularmente, ela já estava ali gigantesca. Lá se foram mais de quarenta anos. Hoje as cortinas se fecharam, mas para uma artista do tamanho de Rita Lee, uma vida intensa de 75 anos funciona como mera preliminar para uma eternidade esplêndida. 

Em tempo: os Mutantes foram espetaculares, mas não o seriam sem Rita Lee.

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