domingo, 17 de setembro de 2023

Ironia da Pedagogia no Brasil, quiçá no Mundo

Coisa mais fácil do mundo é ser pedagoga, gente. 

É só você entrar na sala de aula e deixar lá a criança interagir com o objeto segundo a fase de desenvolvimento.

Mas só que aí, se for escola pública, você vê logo que nem tem tantos objetos assim como tinha lá o Piaget com os filhos dele, lá na Suíça.

Então você lembra que o ser humano é um ser sócio-histórico, e aí começa a apostar na interação e lembra do Vygotsky e quando olha pro lado vê ali os alunos de inclusão que não conseguem interagir tanto assim porque não tem material e nem respaldo pedagógico e nem espaço adaptado.

Então se inicia o desespero de deixar as crianças soltas no estilo Montessori, só que depois a gente lembra daquela merda toda de conteúdo bancário que o Paulo Freire criticou, mas só que não há tanto tempo pra refletir sobre a prática porque tem diário e três turnos e relatórios e sábados letivos, sindicatos, greves e a PM sentando a borracha nesse bando de vagabundos agitadores políticos marxistas que são os professores raça ruim do inferno, a pedido mesmo do governador do Estado que até ontem era a favor da categoria.

E então, você volta pra sala de aula depois de passar no banco (se tiver sorte lá vai ter uns 900 conto no final do mês ou uns 10 por cento a mais se você tiver feito mestrado sem bolsa porque o governo federal cortou), viajado por dois anos, gastado o que não tinha e vendido a alma pra supervisora pra poder pagar os dias em que foi estudar e tendo uma úlcera porque não tinha tempo de escrever, nem de ler, nem de acessar a plataforma brasil e nem o comitê sem ética da universidade.

E aí chega na sala de aula já vendo os corpos dóceis citados por Foucault, inclusive o seu emborrachado pela polícia, e já se sentindo parte do aparelho ideológico do Estado do Bordieu e se perguntando pra que serve tanta teoria assim nessa vida e tanta legislação pra cumprir e alinhar LDB com Constituição e PCN, tudo pensado por especialistas, squando na verdade quem está decidindo o que pode ou não ensinar é a bancada evangélica desse país surtado.

Isso se, por sorte, ainda não tiver sido aprovada a queda da estabilidade do servidor público e você já não tiver sido demitida por perseguição política e vai que falou a palavra maldita gênero dentro da sala de aula?

É tudo facinho, vida fácil, só cortar um pouco de EVA e sentar em roda e cantar umas musiquinhas no fim do dia, pode crer.

TEXTO DE:
CORA DESCORADA

Cora Descorada é mulher, mãe, mas não é tão mulher assim pois tem bigode (e quem já teve vó, sabe que com mulher de bigode, nem o diabo pode), e que é pensadora, mas não feminista que é para não ser taxada de histérica e acabar não sendo lida.

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