quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Ainda Estou Aqui

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer…
(Geraldo Vandré)

"Ainda Estou Aqui" pode ser em qualquer lugar. Tempo. E ditadura. Ainda mais as covardes que não assumem crimes contra a humanidade.

A obra de Walter Salles, baseada no livro e na vida de Marcelo Rubens Paiva e família, não é sobre política. A minha esquerda, a sua direita. Não é sobre o Rio, São Paulo, Brasil, anos 1970, ainda que tão gostosamente resgatados. É sobre uma família que num dia foi dormir sem o pai que não pegava em armas. Mas foi pego por ajudar quem delirava mudar um país onde também faltava humanidade. Respeito. E não apenas de um lado.

O filme toma partido, é claro e compreensível. Mas ele não empunha bandeira e ideologia. Apenas se enrola em algumas e nos encanta e acolhe como pavilhão como se o pai desaparecido fosse o meu. O seu.

O filme tem algumas coisas que um sujeito chato e detalhista nota. Devem ter mais alguns "aindas" anacrônicos. Normais.

Mas o que mais importa é que o pai deles e marido dela "ainda" está aqui. E eu também me senti ali ao lado deles. Tanto faz se à esquerda ou à direita. Mas sempre ao lado de quem é família.

Uma história que a gente podia ouvir à noite narrada pela voz de Cid Moreira ou José Wilker. Como a voz do Brasil tão familiar como as Fernandas. Mãe e filha de atuações espetaculares. E a matriarca, sem dizer uma palavra em cena, dizendo tudo pelo olhar. Podem até dizer que com a memória perdida. Prefiro falar com a memória pétrea e perpétua.

Como um longo filme das nossas vidas. Como se a humanidade tivesse mesmo desaparecido num longo e eterno dia carioca. Sem recado, mensagem, respeito, empatia. O filme merece o reconhecimento que vem recebendo, tanto por parte da crítica especializada quanto do público, pela forma como retrata um importante capítulo da história brasileira, capturando com maestria a dor e a resiliência dos personagens envolvidos. É particularmente significativo que o público brasileiro possa testemunhar essa obra de grande relevância, que reflete de maneira sensível e autêntica a realidade do país.

Em um cenário onde produções nacionais frequentemente enfrentam dificuldades para conquistar o público, “Ainda Estou Aqui” se sobressai, despertando elogios nacionais e internacionais, tanto pela direção impecável de Salles quanto pelo roteiro e pelas atuações marcantes do elenco.

TEXTO DE:
Thiago Muniz

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