A eleição estadunidense é mais um elemento que dá para perceber onde a esquerda está perdida demais.
Dizer que Kamala e Trump são iguais é ignorar as nomeações para a Suprema Corte, a piora em direitos das mulheres, no combate ao racismo, o negacionismo climático, a relação com o pior conservadorismo existente, a política migratória.
Ignoram também quem foi vitorioso: Milei, Musk, Orban, Bolsonaro. Tudo isso em nome de uma análise rasa para afirmar a própria ignorância.
Trump venceu em 2024. É sobre isso.
Fez o povo colar na sua mensagem, e sua mensagem colar no povo. Dessa vez, mais que antes, teve muitos pretos, mulheres, gays, trans e imigrantes votando nele.
Ele furou a bolha dos brancos supremacistas. Trump não falou para a elite, nem com quem tem diploma.
Com a elite ele fala sozinho, por telefone; e com quem tem diploma ele só fala se for para contratar e trabalhar para ele.
Ele foi direto na jugular da emoção da rapaziada cansada e que rala todo dia. Exatamente a rapaziada que foi sendo deixada de lado, e para trás, e que Mano Brown deu o papo lá em 2018.
Não adianta chorar, é fato consumado.
Trump achou o nicho, o código, o algoritmo.
Ele falou de emprego, segurança, de ser valorizado. E o pessoal abraçou, talvez por ilusão ou desespero, mas abraçou.
Ele não sentou no sofá de Caetano Veloso, ele falou o que o povo quer ouvir e do jeito que o povo quer ouvir, cansado de promessas rasas.
Ele jogou pesado no slogan “nós contra eles!”, mesmo ele sendo o “eles”, ou seja, parte integrante de quem tem poder.
E deu pra ver que os progressistas estavam muito mais preocupados em debater entre eles do que ouvir as ruas. A esquerda peca nisso, continua isolado academicamente e no sofá do Caetano.
E isso tem impacto direto aqui no Brasil, já pensando em 2026. Se a esquerda não falar de igual para igual com a grande massa, já sabemos claramente quem vai crescer, certo?
“Fala que eu te escuto!”, lembraste?
Enquanto isso, as igrejas evangélicas estão ocupando todos os espaços: culturais, fonográficos, TV, rádio, institucionais, educacionais e políticos. Os caras estão na vida real, no cotidiano e a galera está comprando a visão. Esse movimento é que está fazendo uma diferença absurda.
Lula e a esquerda precisam sair do salto, ouvir mais, fazer o papo chegar no chão. Senão será o mesmo roteiro dos Estados Unidos, o povo vai virar a quem der atenção.
Que Trump tenha sido eleito novamente, voltando das cinzas. O que falta para que a luta da democracia possa avançar?
Ah, falta muita coisa, sobretudo consciência que se cria através de educação e cultura, mas também de um projeto de país que seja comunicável para massas cujos corações e mentes foram sequestrados pela máquina do capital.
Não vai ser bom pra ninguém ter como presidente quem representa o impulso de morte. Pena para quem está na direção contrária, querendo vida e transformação em nome da vida.
Para os brasileiros, vemos um filme se repetir. Vencendo a extrema-direita nos EUA, há forte chance de vencer a extrema-direita aqui. Não se brinca com a extrema-direita, apoiada, comandada e administrada pela direita diariamente.
TEXTO DE:
Thiago Muniz
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