segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

2025: quando o bolsonarismo encontrou o Código Penal

Não foi um ano qualquer. 2025 foi o ano em que a política brasileira resolveu sair do teatro de absurdos e encarar a realidade — aquela que vem com lei, consequência e despacho judicial.

A prisão de Jair Bolsonaro e de parte relevante de seus asseclas não caiu do céu nem foi “vingança do sistema”, como repetem seus fiéis órfãos políticos.

Foi o resultado previsível de uma trajetória construída sobre ataques às instituições, flertes explícitos com o golpe e a ideia delirante de que vontade pessoal se sobrepõe à Constituição

Descobriu-se, tardiamente, que democracia não é playground ideológico.

Enquanto o bolsonarismo se especializava em vitimização, o governo Lula fez o que governos são eleitos para fazer: governar.

A isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil não é revolução socialista, como bradam os apocalípticos de sempre. É apenas uma correção mínima num país que tributa demais o salário e de menos o patrimônio. O Brasil, por um instante raro, decidiu aliviar quem trabalha.

O Congresso, contudo, preferiu manter sua imagem pública em baixa. Ganhou — e fez por merecer — o rótulo de “inimigo do povo”.

Não por radicalismo retórico, mas por prática cotidiana: chantagem orçamentária, sabotagem de políticas públicas e um apetite insaciável por emendas como se o Estado fosse um caixa eletrônico particular. Representatividade virou detalhe.

Nesse ambiente, o comportamento de Hugo Motta ajudou pouco e atrapalhou muito. Imaturo, errático e frequentemente mais preocupado com disputa de poder do que com responsabilidade institucional, confundiu liderança política com birra. O resultado foi um Congresso mais ruidoso do que produtivo e crises fabricadas para consumo interno.

No plano internacional, o Brasil deu um recado claro ao derrotar a tentativa de aplicação da Lei Magnitsky contra ministros do STF.

A ofensiva, patrocinada por setores da extrema direita global, era menos sobre direitos humanos e mais sobre vingança política. Ao resistir, o país afirmou algo básico: divergência judicial não autoriza intervenção estrangeira nem sanção sob encomenda ideológica.

As cassações de mandatos de deputados bolsonaristas completaram o cenário. Não houve perseguição. Houve consequência. Mandato não é salvo-conduto para atacar a democracia por dentro, nem licença para conspirar contra o próprio regime que garante o cargo.

No fim das contas, 2025 não foi um ano de harmonia — foi um ano de ajuste. 

Doloroso para quem apostou no caos como projeto político. Pedagógico para quem ainda duvidava que instituições, apesar de lentas, funcionam.

A realidade venceu. E, ao contrário das fake news, ela não precisa gritar para se impor.

Mas convém não se iludir: a luta está longe de acabar.

Nos últimos meses, parte da imprensa passou a mirar o ministro Alexandre de Moraes não por súbito zelo garantista, mas como peça de uma barganha política mal disfarçada.

O ataque seletivo ao STF aparece como moeda de troca num acordo tácito com a família Bolsonaro: reduzir a pressão judicial em troca da retirada de Flávio Bolsonaro da disputa, abrindo caminho para um projeto mais “palatável” do bolsonarizmo,encarnado por Tarcísio de Freitas.

É a velha política travestida de pragmatismo editorial. O enredo muda, os personagens também, mas a tentativa de acomodar o golpismo dentro do sistema persiste.

A democracia venceu batalhas importantes em 2025 — mas a guerra contra o oportunismo, o cinismo e a chantagem institucional segue em curso.

Que venha 2026...

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