domingo, 28 de janeiro de 2024

O Cachorrinho e eu

O cachorrinho, andando sozinho pelo cheiro triste da Praça Tiradentes, tentando buscar rumo e sentido.

Magrinho o cachorrinho. Sofrido.

Pequenino, indo e vindo entre indiferenças e desatenção.

Se já é difícil ser humano e ficar na rua, imagine o pobre cachorrinho que depende de fagulhas de boa vontade.

Sente mas não entende, passa fome e sede, segue seu caminho inevitável para a morte. Que ela demore. Que ele possa ter momentos caninos felizes, por mais improvável que pareça.

Impressiona como o cãozinho, tão delicado animal, lembra tanto os transeuntes da região.

Quase todos eles são magrinhos e carregam olhares tristes.

São fotografias ambulantes de uma cidade que nunca mais se recuperou de tanta perversidade, mas ainda ecoa boas promessas.

O cachorrinho, caramelo, vira-lata, legítimo personagem carioca, humilde brasileiro sem lenço nem documento. Anônimo e tão relevante. Um lorde.

Como cantou Chico Buarque, é o barão da ralé.

Ele vai embora, se perde no horizonte da praça e, mesmo à espera do VLT, eu também estou perdido. Mas não o esquecerei.


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