segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Caso Silvio Almeida

Em casos de assédio e de agressão sexual, é obrigação moral se colocar automaticamente ao lado das vítimas, ainda mais considerando-se a opressão que as mulheres sofrem cotidiana e sistematicamente. 

Importante também ressaltar que é preciso dar espaço e amplo direito de defesa ao acusado, sem condená-lo aprioristicamente.

Posta a minha posição pessoal, o caso que envolve o agora ex-ministro Silvio de Almeida e a ministra Anielle Franco, com todas as suas possibilidades e desdobramentos, mostra-se uma verdadeira aula de xadrez social e político.

Como o imbróglio ainda está em aberto, imaginemos inicialmente a hipótese na qual Silvio tenha mesmo assediado Anielle Franco e outras mulheres, que agora tomaram coragem para contar suas histórias envolvendo o mesmo agressor. Neste caso, cai por terra todo o respeito e admiração que sempre cobriu Silvio de Almeida, um dos mais célebres representantes da luta da população negra brasileira. Um golpe duro na luta antirracista, que será amplificado e usado à exaustão, de forma distorcida pela extrema direita.

Imaginemos também outra hipótese, na qual Anielle e as demais acusadoras estejam mentindo, em conluio com uma ONG gringa. Neste caso a reputação de Silvio de Almeida estará irrediavelmente comprometida e Anielle passará de ferrenha lutadora pelos direitos humanos e irmã de uma verdadeira mártir da população descamisada de nosso país para uma picareta mal intencionada. Outro golpe duro, dessa vez na luta antimachista, que também será amplificado e usado à exaustão, de forma distorcida pela extrema direita.  

Em todas as hipóteses, as causas nobres que apoiamos perderam, perdem e perderão. Os únicos vencedores aqui foram, são e serão nossos inimigos.

Por fim, é importante deixar claro que ambos os ministérios, o que é de Anielle e o que era de Silvio, não passam de penduricalhos identitários, sem orçamento nem poder, uma espécie de medalha de honra ao mérito que serve tão somente de mínima compensação pelo neoliberalismo que somos obrigados a engolir diuturamente com Haddad, pela privatização de presídios e pelo sucateamento do SUS.

No resumo da ópera, nesta partida de xadrez sócio político, nos encontramos em "zugzwang", ou seja, naquela situação em que qualquer lance que fizermos será ruim. Quem pagará politicamente por esse caso terrível será a esquerda - mesmo que esse governo seja, a cada dia que passa, menos e menos de esquerda.

Porque nada, meus queridos, nada está tão ruim a ponto de não poder piorar - e muito.

TEXTO DE:
Alexandre de Oliveira Périgo

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