quinta-feira, 3 de abril de 2025

Todos os fãs de Bolsonaro

Se você gosta dele e acha que ele combatia corrupção, acabou. Veja se você se enquadra em alguma categoria:

Iludem-se os que acreditam que Jair Bolsonaro só tem adeptos entre a meia dúzia que vai vê-lo quando ele sai de casa para, digamos, trabalhar.

Bolsonaro tem seguidores em muitas categorias. Eis algumas:

Pecuaristas, madeireiros, garimpeiros, grileiros e incendiários infiltrados na Amazônia, no Pantanal, na Mata Atlântica, nos manguezais, restingas, dunas, terras indígenas e quaisquer santuários que possam ser destruídos e enriquecer amigos. Ex-cupinchas da velha política, sempre prontos a ser comprados.

Profissionais das bancadas do boi, da bala e da Bíblia. Assessores de gabinete dispostos a ceder 80% de seus salários pagos com dinheiro público, lavá-los e depositá-los nas contas de seus familiares.

Formadores de quadrilha, praticantes de peculato e operadores de esquemas, investigados, denunciados ou réus em ações judiciais. Juízes complacentes e advogados corruptos. Lobistas diversos, íntimos do 01, 02 e 03.

Militares ideológicos, fãs confessos de tirturadores, ou apenas oportunistas, a fim de cargos no governo. PMs expulsos, delegados venais, chefes de milícias e matadores de aluguel, presos ou foragidos.

Fabricantes de armas e "colecionadores" das ditas.

Pastores evangélicos, animadores de televisão, cantores sertanejos e promotores de rodeio, todos felizes beneficiários das novas mamatas.

Negacionistas, homofóbicos, terraplanistas, camelôs de cloroquina, disparadores de fake news, linchadores virtuais, incineradores de livros, fascistas assumidos e odiadores por atacado.

E uma vasta alcateia de bolsonaros, composta de filhos, mulheres, ex-mulheres, mães, noras e aliados do presidente, dedicados a vultosas transações com dinheiro vivo e sem explicação contábil, às vezes trasportado entre as nádegas.

Bolsonaro também tem seguidores bem intencionados, que não se veem nas categorias acima e acham que, com ele, a corrupção acabou.


ADAPTAÇÃO DO TEXTO DE 2020 DE:

Ruy Castro
Jornalista, escritor, autor das biografias de Carmem Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.


quarta-feira, 2 de abril de 2025

Val Kilmer


Eu me lembro de assistir "The Doors" deitado no chão do DCE da UERJ numa sexta-feira. Éramos umas 100 pessoas.

Todos ficamos hipnotizados com a atuação de Val Kilmer porque ela foi perfeita.

As pessoas se assustaram porque ele realmente tinha virado Jim Morrison. O próprio Val teve problemas psicológicos por causa disso.

Enfim, desde "Top Gun" ele era um ícone dos adolescentes - as garotas suspiravam fundo e agora me vem uma melancólica e insuperável saudade daquele fim dos anos 1980, onde eu era um garoto à procura do mundo mas tinha grandes companheiros, pais para me apoiar, momentos felizes em reuniões simples e tanta coisa que não cabe aqui. Tudo passa.

Val Kilmer está morto.

Ele deixou marcas em muita gente. Aquele tempo deixou muitas marcas. Interpretando um dos grandes poetas da história, ninguém foi tão profundo, visceral e humano como ele quando incorporou Morrison.

Teve uma vida gloriosa, ficou doente, sofreu, se recuperou e teve tempo de ser Iceman novamente em idade madura.

Foi um grande ator. Eu queria voltar para o chão acolhedor do DCE mas é impossível. Como disse outro poeta fantástico daquele tempo, Cazuza, o tempo não pára.

Onde estão meus companheiros? As garotas? Onde tudo foi parar?

TEXTO DE:
@p.r.andel


The Last Dance Val Kilmer: Top Gun Maverick

Assim como na ficção, Val Kilmer fez a sua última dança na vida real.

Uma única cena junto com Maverick  (Tom Cruise), mas que contextualizou muito o que muitos achavam que os personagens eram “inimigos” e simplesmente era o contrário.

The Iceman; o militar comportado e exemplar, chegou ao posto de almirante com louvor e comandante das frotas do Pacífico, enquanto Maverick com sua postura transgressora ainda era capitão de mar e guerra, o equivalente a coronel. 

The Iceman por ter sempre patente acima e por gostar de Maverick, sempre limpava as sujeiras dele para debaixo do tapete.

Até surgir a última missão, na qual a Marinha já estava prestes a aposentar Maverick por mais um ato de transgressão, é convocado por The Iceman para ensinar e comandar uma missão quase impossível num país inimigo.

Maverick se vê entre dúvidas e devaneios onde justamente surge a última cena de Val Kilmer nos cinemas, um primor para quem é fã da saga Top Gun como eu.

TEXTO DE:
Thiago Muniz

terça-feira, 1 de abril de 2025

A tolerânia com o intolerante

Mal havia se encerrado a sessão do Supremo Tribunal Federal que transformou em réus Jair Bolsonaro e sua trupe de militares golpistas, e a imprensa hereditária – que sempre foi porta-voz dos instintos mais primitivos dos endinheirados – já se mobilizava para reescrever a história.

Com a volúpia de um viciado que furta celulares para trocar por uma pedra de crack, parte dos veículos de comunicação do país lançou-se em uma operação de suavização dos crimes de concepção e organização de um golpe de Estado.

Dito em "brasileirês contemporâneo", passam pano para os crimes do ex-presidente e sua matilha golpista, tratando sua iminente condenação como um capricho da Justiça, uma vendeta política. Mas o problema não é apenas de distorção narrativa: trata-se de cumplicidade com a impunidade.

As provas contra Bolsonaro são esmagadoras. Ele não apenas insuflou uma tentativa de golpe de Estado, mas participou ativamente de sua concepção.

A Polícia Federal revelou um arcabouço criminoso assustador: planos concretos para a subversão democrática, incluindo o uso de veneno para assassinar lideranças políticas.

São fatos, não especulações. 

Documentos, áudios, vídeos, mensagens, depoimentos de militares de alta patente – um dossiê robusto e inquestionável.

No entanto, diante dessa avalanche de evidências, a imprensa responde com um bocejo de complacência, um aceno covarde à falsa neutralidade.

Observe-se a maneira como Bolsonaro é tratado. Os mesmos jornais que, no passado, não hesitaram em demonizar adversários políticos agora se derretem em um tom brando, indulgente.

As entrevistas que lhe concedem mais se assemelham a um confessionário de biografia autorizada do que a um interrogatório jornalístico sério.

Perguntas mornas, uma deferência repugnante, um preciosismo hipócrita que desvia o foco do essencial: por que ninguém o confronta com as provas? Por que, em vez de questioná-lo sobre as acusações de conspiração e tentativa de homicídio, os jornalistas se preocupam em explorar sua "mágoa" com aliados políticos?

A generosidade com Bolsonaro contrasta com o mau humor com que a mídia trata seus julgadores.

O Supremo Tribunal Federal, que tem a responsabilidade histórica de garantir que o país não sucumba ao abismo da impunidade, tornou-se alvo predileto, e Alexandre de Moraes virou "inimigo número um" de jornalistas alinhados com patrões-editores, por mais que os ritos processuais estejam sendo cumpridos integralmente, na maioria das vezes com suave firmeza.

O trabalho dessa imprensa tem sido emular o general Villas Bôas, tentando intimidar e emparedar o STF, passando a impressão de que Bolsonaro é um perseguido político, e não um criminoso de alta periculosidade.

O que está em jogo transcende a sorte de um homem: é a própria integridade da democracia brasileira.

Bolsonaro não pode ser tratado como uma figura folclórica da política, nem como uma mera oposição ruidosa. Ele é um criminoso, um conspirador, um inimigo da democracia. Seu legado é de destruição e morte. Sua tentativa de golpe de Estado não foi um devaneio retórico, mas uma ação real e planejada, cujos desdobramentos ainda podem assombrar o país.

O Judiciário não pode vacilar: sua condenação e prisão não são apenas justas, mas imprescindíveis para a sanidade nacional.

O jornalismo que serve aos interesses de golpistas não é jornalismo – é panfletagem servil, é cumplicidade disfarçada de imparcialidade.

Nesse quebra-mar entre a mídia e a justiça necessária, a sociedade assiste, angustiada, à procrastinação de um desfecho desejado. Quanto mais rápida a condenação, mais rápido a democracia brasileira voltará a respirar aliviada.

Como ensinou o doutor Ulysses Guimarães, à ditadura devemos dedicar apenas dois sentimentos: o ódio e o nojo.


TEXTO DE:

Edward Magro