segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O Brasil, esse grande laboratório da burrice política: Chamando ladrão de terrorista e terrorista de patriota

De repente, o Brasil resolveu inovar no combate ao crime.

Não com inteligência, não com investigação, não com política pública.
Com marketing. Marketing político do mais vagabundo e banhado em sangue.

O plano é simples: o PCC e o Comando Vermelho, que há décadas são organizações criminosas, agora seriam organizações terroristas.

E pronto! O problema do crime organizado desaparece num passe de mágica linguística.
É a velha crença tupiniquim de que mudar o nome muda a realidade.

Mas a coisa é mais grave — e mais risível.

Os maiores defensores dessa tese são, curiosamente, os mesmos que pedem anistia para os terroristas de verdade, aqueles que tentaram derrubar a República no 8 de janeiro.

Sim, os patriotas de fantasia verde e amarela, Bíblia debaixo do braço, ice cream and popcorn sinners, que quebraram o Supremo e o Congresso, agora seriam apenas “manifestantes emocionados”.

E Bolsonaro? Ah, esse seria o São Sebastião de Miami, mártir da injustiça judicial.

Quer dizer: o sujeito que tentou destruir o Estado de Direito é patriota; o bandido que vende droga é terrorista. Cujo patrão está na Faria Lima, mas nem comentemos.

O Brasil conseguiu inverter até o bom senso.

A burrice aqui é institucionalizada — e ainda desfila de terno e gravata.

As burradas têm preço — e não é pequeno

Vamos aos fatos, que o delírio não paga boleto.

Chamar o PCC de terrorista fere tratados internacionais que o Brasil assinou, inclusive na ONU e na OEA.

A definição de terrorismo pressupõe motivação política, ideológica ou religiosa.

O PCC não quer instaurar o Califado do Crack, nem o Comando Vermelho escreve manifestos contra o capitalismo. Eles querem dinheiro, ponto.

Ao embaralhar os conceitos, o Brasil passa a ser visto como um país que usa leis antiterrorismo para fins políticos internos.

E isso tem consequências.

O GAFI, que monitora lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, pode reclassificar o Brasil.

Significa mais burocracia, mais vigilância, mais custo. As operações financeiras internacionais ficam lentas, investimentos minguam, remessas travam. É o tipo de medida que alegra o populista, mas assusta o investidor.

A União Europeia e os Estados Unidos, claro, não reconheceriam essa classificação.
Para eles, terrorista é quem persegue motivação política — não quem disputa o ponto do Alemão ou da Rocinha.

O Brasil ficaria isolado, falando sozinho, com um papel timbrado e uma cara de bobo na diplomacia internacional.

E o perigo interno: o terrorismo ideológico

Dentro do país, o efeito é ainda mais tóxico.

Se o conceito de terrorismo passa a valer para facções, amanhã ele pode valer para qualquer um. Basta desagradar o governo da vez.

Hoje é o PCC. Amanhã, o MST. Depois de amanhã, o sindicato dos professores, e, quem sabe, um jornalista crítico — que pode até ser eu, pasmem!

É o sonho úmido dos autoritários: um Estado que criminaliza por adjetivo.

E tudo isso com um objetivo nada secreto: criar a narrativa que justifique a anistia dos golpistas.

Se o Brasil está em guerra contra o “terrorismo”, então os patriotas que quebraram Brasília não são criminosos — são combatentes mal compreendidos.

A lógica é tosca, mas a retórica é eficiente.

E, em tempos de ignorância organizada, eficiência é tudo.

O vexame global

O resultado?

O Brasil vira motivo de piada.

O único país do mundo a chamar traficante de terrorista e terrorista de patriota — tudo na mesma semana.

Seríamos citados em editoriais da Economist e em notas de rodapé da ONU: “caso exótico de confusão semântica tropical e latina”.

Enquanto isso, o dólar sobe, o real derrete, o risco-país aumenta e o investidor foge, porque ninguém aplica dinheiro num país que confunde guerra ao terror com campanha eleitoral.

E no fim, o país continua o mesmo:
O PCC segue mandando nos presídios, o Comando Vermelho segue controlando favelas, e os “patriotas” seguem pedindo anistia em nome da liberdade — deles, claro.

O povo continua refém, o Estado continua inerte, e o debate público continua uma pastelaria ideológica.

Mas que ninguém se engane: o terrorismo aqui não é o das facções.
É o da estupidez travestida de bravura, o da ignorância com mandato.

E como diria o blogueiro já cansado que vos escreve:
O problema do Brasil não é o terrorismo — é o terrorismo intelectual.

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