Não com inteligência, não com investigação, não com política pública.
Com marketing. Marketing político do mais vagabundo e banhado em sangue.
O plano é simples: o PCC e o Comando Vermelho, que há décadas são organizações criminosas, agora seriam “organizações terroristas”.
E pronto! O problema do crime organizado desaparece num passe de mágica linguística.
É a velha crença tupiniquim de que mudar o nome muda a realidade.
Mas a coisa é mais grave — e mais risível.
Os maiores defensores dessa tese são, curiosamente, os mesmos que pedem anistia para os terroristas de verdade, aqueles que tentaram derrubar a República no 8 de janeiro.
Sim, os patriotas de fantasia verde e amarela, Bíblia debaixo do braço, ice cream and popcorn sinners, que quebraram o Supremo e o Congresso, agora seriam apenas “manifestantes emocionados”.
E Bolsonaro? Ah, esse seria o São Sebastião de Miami, mártir da injustiça judicial.
Quer dizer: o sujeito que tentou destruir o Estado de Direito é patriota; o bandido que vende droga é terrorista. Cujo patrão está na Faria Lima, mas nem comentemos.
O Brasil conseguiu inverter até o bom senso.
A burrice aqui é institucionalizada — e ainda desfila de terno e gravata.
As burradas têm preço — e não é pequeno
Vamos aos fatos, que o delírio não paga boleto.
Chamar o PCC de terrorista fere tratados internacionais que o Brasil assinou, inclusive na ONU e na OEA.
A definição de terrorismo pressupõe motivação política, ideológica ou religiosa.
O PCC não quer instaurar o Califado do Crack, nem o Comando Vermelho escreve manifestos contra o capitalismo. Eles querem dinheiro, ponto.
Ao embaralhar os conceitos, o Brasil passa a ser visto como um país que usa leis antiterrorismo para fins políticos internos.
E isso tem consequências.
O GAFI, que monitora lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, pode reclassificar o Brasil.
Significa mais burocracia, mais vigilância, mais custo. As operações financeiras internacionais ficam lentas, investimentos minguam, remessas travam. É o tipo de medida que alegra o populista, mas assusta o investidor.
A União Europeia e os Estados Unidos, claro, não reconheceriam essa classificação.
Para eles, terrorista é quem persegue motivação política — não quem disputa o ponto do Alemão ou da Rocinha.
O Brasil ficaria isolado, falando sozinho, com um papel timbrado e uma cara de bobo na diplomacia internacional.
E o perigo interno: o terrorismo ideológico
Dentro do país, o efeito é ainda mais tóxico.
Se o conceito de terrorismo passa a valer para facções, amanhã ele pode valer para qualquer um. Basta desagradar o governo da vez.
Hoje é o PCC. Amanhã, o MST. Depois de amanhã, o sindicato dos professores, e, quem sabe, um jornalista crítico — que pode até ser eu, pasmem!
É o sonho úmido dos autoritários: um Estado que criminaliza por adjetivo.
E tudo isso com um objetivo nada secreto: criar a narrativa que justifique a anistia dos golpistas.
Se o Brasil está em guerra contra o “terrorismo”, então os patriotas que quebraram Brasília não são criminosos — são combatentes mal compreendidos.
A lógica é tosca, mas a retórica é eficiente.
E, em tempos de ignorância organizada, eficiência é tudo.
O vexame global
O resultado?
O Brasil vira motivo de piada.
O único país do mundo a chamar traficante de terrorista e terrorista de patriota — tudo na mesma semana.
Seríamos citados em editoriais da Economist e em notas de rodapé da ONU: “caso exótico de confusão semântica tropical e latina”.
Enquanto isso, o dólar sobe, o real derrete, o risco-país aumenta e o investidor foge, porque ninguém aplica dinheiro num país que confunde guerra ao terror com campanha eleitoral.
E no fim, o país continua o mesmo:
O PCC segue mandando nos presídios, o Comando Vermelho segue controlando favelas, e os “patriotas” seguem pedindo anistia em nome da liberdade — deles, claro.
O povo continua refém, o Estado continua inerte, e o debate público continua uma pastelaria ideológica.
Mas que ninguém se engane: o terrorismo aqui não é o das facções.
É o da estupidez travestida de bravura, o da ignorância com mandato.
E como diria o blogueiro já cansado que vos escreve:
O problema do Brasil não é o terrorismo — é o terrorismo intelectual.

Só ladeira abaixo... Misericórdia
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