quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Rio Gaza Brasil

Para entender o Rio de Janeiro e suas nuances do poder, é obrigatório entender como funciona uma têia de aranha, pois tudo está entrelaçado, tudo tem seus elos e ligações, desde as instituições do Estado até contravenção, tráfico e milícia. Tudo isso é motivado pela sede de poder, grana e para alguns até a fama.

Desde a criação do jogo do Bicho no século XIX, o golpe militar com a instauração da República, a lei Áurea, o surgimento das favelas, a criação das escolas de samba, a lei da vadiagem, a perseguição com os sambistas, os primeiros grandes bicheiros regionais, a criação da scuderie LeCoq, o primeiro grande pacto dos bicheiros, a aliança jogo do bicho-militares, o assassinato de Mariel Mariscot somado a ascensão de Ailton Guimarães Jorge na cúpula, a criação do Comando Vermelho, o mecenato de Castor de Andrade e a lavagem de imagem da cúpula do Bicho perante a sociedade carioca, a queda brusca da cúpula perante a Justiça do Rio de Janeiro, as chacinas de Vigário Geral e da Candelária, o início da quebra do pacto com os herdeiros da nova geração da contravenção, o elo entre bicho e policiais-matadores, a tragédia do onibus 174, a criação do escritório do crime e a oficialização do faturamento real do crime, o surgimento das milícias regionais e o crescimento eleitoral, a CPI das Milícias e o enfraquecimento de alguns líderes milicianos, o surgimento das UPPs como plataforma eleitoral, a queda e prisão de governadores do estado, as chacinas nas favelas praticamente todo santo dia e por aí vai.

Para entender o Rio de Janeiro precisa entender a sua cultura, a sua antropologia peculiar de ser, as suas heranças desde o período do Império quando era a Capital Federal. É impossível entender o Rio de Janeiro do dia para noite, tem que se embrenhar na têia de aranha.

O caos no Rio de Janeiro é intenso e diário, principalmente na vida do pobre. O trabalhador pobre sofre para ir ao seu emprego devido ao sucateamento inflacionário dos transportes públicos, é humilhado pelo seu patrão burguês neo-escravista, sofre em tentar conseguir pagar suas contas em dia, quiçá ter que pagar a mensalidade da milícia (se não pagar por sorte pode perder a casa, senão corre o risco de morte), mal tem grana para o almoço e novamente é humilhado pelo patrão e no final do dia sofre para voltar para casa com a insalubre condição precária dos transportes públicos.

Viver no Rio de Janeiro faz a Faixa de Gaza sorrir para o paraíso.

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