quinta-feira, 31 de julho de 2025
Caso Zambelli, próximos passos
domingo, 27 de julho de 2025
As vísceras da cidade
I
A cidade não para. Ela nunca dorme, ela nunca termina. Ela é vendida para o mundo como o mais belo dos belos rostos, mas vista bem de perto tem sua pele bastante machucada pelo ser humano.
II
A cidade ganha novas tecnologias, os grandes prédios ficam mais modernos, os carros apressados são de última geração, as pessoas das classes dominantes ostentam suas novidades digitais. Ao mesmo tempo, certas coisas nunca mudam - especialmente quando o tema é degradação. Sim, porque a cidade é linda nas fotografias turísticas, mas é esgarçada à medida em que se avança em direção aos bairros mais populares e populosos.
III
A cidade é humilhada. Ou melhor, ela humilha boa parte de seus habitantes. A violência humilha as pessoas, os transportes de massa, o emprego precarizado, a desigualdade social, a falta de oportunidades, tudo isso compõe uma carga imensa de humilhação às pessoas, e muitas acabam não resistindo: aderem às drogas lícitas e ilícitas, ao fanatismo religioso e a outros recursos para tentar aliviar suas realidades brutais. Vários não aguentam e dão cabo das próprias vidas, mas este é um assunto estupidamente proibido.
IV
A cidade acaba sendo uma imensa frangueira elétrica num almoço de domingo, com milhões de pessoas fazendo o papel de cachorros, com os olhos bem arregalados, olhando e sonhando com pedaços de frango que nunca terão.
V
A cidade tem lugares lindos, mas eles não são para todos, mesmo quando têm acesso ou entrada franca.
VI
As coisas que nunca mudam. Os traficantes perigosos são levados para presídios federais, mas o tráfico continua estuprando, torturando e matando. A milícia também. Há lugares da cidade onde a polícia simplesmente não entra. Atravessar a cidade no fim da noite pode ser risco de morte, a depender do trajeto adotado.
VII
Acontece que essa também é a cidade das esmolas. Esmolinhas. Os políticos dão projetos de esmolinha para meia dúzia e acreditam ter mudado a cidade. O sonho do Carnaval é uma esmola para tanta gente tão sofrida. O sonho do futebol no Maracanã já foi uma grande esmola, mas o povo foi expulso de lá e agora se abriga em biroscas para poder vivenciar sua única alegria. Às vezes temos esmolas de grandes shows como os de Madonna e Lady Gaga, então o grande capital ganha, os trabalhadores minúsculos sobrevivem e ficamos esperando a próxima esmola.
VIII
A maior prova do descalabro da cidade está nas madrugadas, quando milhares de famintos tentam se abrigar na porta de agências bancárias. Lembre-se: toda vez que você vir uma pessoa em situação de rua desabada numa calçada à tarde, pode ser consequência da pessoa virar a noite acordada, com medo de ser morta, incendiada ou estuprada.
IX
A cidade está crescendo. Temos cada vez mais prédios, voltados para quem já tem apartamentos - a minoria. Surgem novos bairros devidamente gentrificados, onde o povo só aparece como camelô ou prestando os serviços condominiais. "
"O povo? Que se aperte nas favelas."
Nos bairros antigos, há cada vez mais lojas fechadas que nunca mais vão abrir.
Aliás, a própria rua que, no passado, era um palco de celebração da cidade, agora é cada vez mais mero percurso de passagem. As pessoas têm pressa. As pessoas têm medo. O celular virou o último refúgio das amizades numa cidade que já misturou muitos gênios em muitos bares, mas tirando os nichos da burguesia e alguns pontos esparsos, a vida na rua acabou. Ficaram apenas as pessoas oprimidas pela miséria.
X
"Miséria, miséria em qualquer canto, riquezas são diferentes."
"A morte não causa mais espanto."
A cidade ainda tem beleza sim. Ainda tem poesia. Contudo, as chances são cada vez mais escassas.
A cidade humilha as pessoas, não todas, mas a maioria.
Muita gente deu seu sangue e sua vida para que a cidade fosse de todos, mas isso jamais aconteceu, e não há esperanças de que o cenário mude.
Seria possível mudar a cidade para melhor, mas as pessoas que controlam o poder não têm o menor compromisso com o bem comum: parlamentares, empresários, personalidades, banqueiros etc. Nunca estiveram nem estão aí com nada.
XI
Cidade maravilhosa.
TEXTO DE:
@p.r.andel
sexta-feira, 25 de julho de 2025
Morango do Amor, o capitalismo social
Dia do Escritor: o eu lírico do general golpista
No Dia do Escritor, nossa homenagem não podia ser para ninguém além de um autor de ficção de primeira qualidade.
O general da reserva Mario Fernandes.
Ele é autor da obra Punhal Verde Amarelo. Romance político escrito durante os planos da tentativa de golpe no Brasil, que tem como cenário o assassinato de políticos e juízes.
Em entrevista ao STF, Mario Fernandes, contou como criou a obra.
Ele estava em casa, em uma bela manhã, quando um pensamento tomou conta de sua cabeça: e se o governo matasse Lula, Alckimin e Alexandre de Moraes?
Então, ele passou a fazer uma análise de riscos sobre esta operação.
Na mesma manhã, ele foi até o Palácio do Planalto, onde, quando deu por si, seu eu lírico estava digitando em um computador todo esboço do romance.
Como ele tem problemas para enxergar direito, ele resolveu imprimir três cópias para revisar melhor o que havia escrito.
A primeira teria sido em fonte arial 12, e ele teve dificuldades de ler. Então, resolveu imprimir uma segunda, em fonte 14. O problema persistiu, e por fim ele trocou a fonte para geórgia 14, e ficou satisfeito.
Pegou seus papéis oficiais, e correu para uma reunião com o atual presidente, na época, Jair Bolsonaro.
Finalmente, quando chegou em casa, percebeu que havia perdido uma das cópias do esboço do romance. Que depois descobriu ter esquecido em cima da mesa do presidente.
Quando questionado então, sobre o fato de Bolsonaro saber da existência do rascunho da obra, ele foi rápido em negar.
"Bolsonaro não lê po*** nenhuma. Ele mandou o Cid limpar a mesa e jogou tudo fora..."
Pois é...
Que coisa, não?
segunda-feira, 21 de julho de 2025
PRETA
PRETA
Filha de Gilberto Gil, Preta carregava no sangue a música, a arte e a luta. Mas ela fez mais do que herdar — ela construiu. Cantou, encantou, enfrentou o preconceito com um sorriso no rosto e orgulho no peito. Preta foi resistência em forma de voz, presença e afeto.
Como mulher negra, ela nunca se calou. Falou sobre amor, corpo, autoestima e racismo com a coragem de quem sabia o peso — e o poder — de sua existência. Inspirou gerações com sua autenticidade, seu carisma inesquecível e seu compromisso com a verdade.
Preta era festa, mas também era firmeza. Era abraço, mas também era bandeira. E acima de tudo, era amor — pelo povo, pela arte, pela vida.
TEXTO DE:
Tarciso Tertuliano

PRETA GIL
Sempre gostei da imagem de Preta Gil; independente da época, enquanto ainda produtora no backstage ora como uma lagarta virando borboleta para a vida de cantora. Preta irradiava alegria, bom humor, plenitude, independência e criação. Uma partida tão precoce, ainda mais com os papéis invertidos onde eu fico mais chocado, os pais perderem seus filhos.
Preta foi fiel a quem lhe deu a mão, e agarrou-se com unhas e dentes na batalha contra a miserável da doença, foi uma guerreira evidenciando que era notório seu amor à vida. Quis que o destino a levasse.
Alô! Alô! Preta Gil, Aquele Abraço! Preta tinha swing, tinha sex appeal, clímax, tinha borogodó; independente de seu peso e altura, não importava, ela irradiava essas nuances de maneira natural, aos gordofóbicos de plantão aquele grande “fuck you”.
Preta não desistiu; suponho que mesmo sabendo que perderia a luta, não baixou a guarda. Uma guerreira igual a muitos que lutam contra essa doença. Vai fazer falta a sua presença, a sua alegria, o seu trio elétrico que encantava multidões, a sua ternura, o seu amor pela família.
Que os orixás a acompanhem e a guiem pelo equilíbrio espiritual. Axé!
TEXTO DE:
Thiago Muniz
domingo, 20 de julho de 2025
Preta Gil - voz que não se cala
Preta Gil — não apenas nome, mas cor, brilho, herança e luz.
Filha da música, irmã da coragem, mãe da alegria e da liberdade sem moldura.
Cantou amores sem vergonha, abraçou corpos com ternura, desafiou o mundo com a própria existência.
Foi tambor e bandeira, foi palco e protesto, foi riso e lágrima em verso aberto.
Hoje, o Brasil chora.
Mas é um choro que também canta,
porque sua voz ficou — nos refrões que dançamos, nas lutas que ecoamos, na lembrança quente de quem nunca se apagará.
Voa, Preta.
Teu som agora embala o céu.
E aqui embaixo, teu nome ainda pulsa — preto, forte, vivo, Gil.
O abismo entre Lula e Bolsonaro
Ainda que eu tenha uma caminhão cheio de críticas ao conciliacionismo crônico e às políticas neoliberais do atual governo, é sempre importante demarcar o abismo moral existente entre as figuras de Lula e Bolsonaro.
Lula, para além de sua brava trajetória de vida, quando foi preso injustamente não fugiu, não choramingou, não capitulou. Esperou, corajoso e de cabeça erquida, a hora chegar para provar sua inocência e se eleger novamente. É um brasileiro sério, com qualidades e defeitos como todos nós, mas que é honesto e adora seu país.
Bolsonaro, além de sua vergonhosa história, após se consolidar como o pior presidente da república brasileira - e olha que a concorrência por esse título é enorme -, falhou na tentativa da reeleição, não admitiu a derrota nas urnas e tentou um golpe de estado que, graças à sua insuficiência cognitiva, não se concretizou. Quando o plano ruiu e o então ex-presidente se viu totalmente exposto, resolveu escancarar sua covardia: choramingou, esperneou, criticou aliados, chamou seus seguidores de malucos, mentiu compulsivamente e protagonizou um dos mais vexatórios episódios da política nacional, ao fazer voz melosa e ensaiar um monte de gracinhas durante seu depoimento para Alexandre de Morais, que tanto havia amaldiçoado quando era presidente. Por fim, mostrou toda sua viralatice e ódio do Brasil ao arquitetar junto de seu filho e do governo estadunidense, sanções econômicas como parte de uma chantagem para tentar fugir da cadeia.
Diferente de Lula, Bolsonaro não é um ser humano com qualidades e defeitos. É um canalha, um fascista asqueroso, um lesa-pátria, alguém que provoca nojo em todas as pessoas com um mínimo de senso humanista e de coletividade.
Como comunista, não acredito na justiça burguesa e acho muito improvável que Bolsonaro fique na prisão por muito tempo, mas meu desejo é que ele é sua família apodreçam em uma cela fria, úmida, escura e fazendo péssima companhia aos ratos dos esgotos próximos.
TEXTO DE:
Alexandre Périgo
sábado, 19 de julho de 2025
Colisão de buracos negros desafia a ciência
Uma colisão cósmica acaba de entrar para a história! A fusão de buracos negros mais massiva já registrada acaba de acontecer.
E o evento formou um buraco negro com 225 vezes a massa do Sol.
Denominado GW231123, o evento ocorreu na verdade há bilhões de anos, mas só foi detectado em 13 de julho de 2025 pela rede internacional de observatórios LIGO-Virgo-KAGRA.
Dois buracos negros colossais colidiram no espaço profundo, liberando ondas gravitacionais — sutis ondulações no tecido do espaço-tempo previstas por Einstein — que eventualmente alcançaram a Terra.
O resultado: um novo buraco negro com mais de 225 vezes a massa do nosso Sol, tornando-se o maior do tipo já observado por meio da detecção de ondas gravitacionais.
Essa fusão não apenas quebra recordes anteriores de tamanho, como também desafia teorias tradicionais sobre a formação de buracos negros.
Ela levanta possibilidades intrigantes sobre uma população oculta de buracos negros de massa intermediária e força os astrofísicos a repensarem modelos de evolução estelar e colisões cósmicas.
A precisão de instrumentos capazes de detectar distorções menores que um próton comprova o alcance crescente da humanidade nos mistérios do universo.
Com o GW231123, o cosmos nos envia um lembrete poderoso de que ainda guarda muitos segredos à espera de serem revelados.
FONTE:
Colaboração LIGO-Virgo-KAGRA (Relatório de Detecção GW231123, 2025)
LEIA MAIS EM:
quinta-feira, 17 de julho de 2025
Tetra
“…Vai partir, vai que é sua Taffarel, partiu, bateu…Acabou, ababou! É tetra! É tetra! É tetra! O Brasil é tetracampeão mundial de futebol…”
(Galvão Bueno)
Faz 31 anos da conquista do tetracampeonato mundial de futebol pela seleção brasileira; apesar dos pesares do comando da CBF, ainda podíamos chamar de seleção brasileira, e não seleção de empresários. Tínhamos orgulho de assistir a seleção jogar, mesmo que fosse um mero amistoso contra um país inofensivo esportivamente; mas dava prazer em assistir.
E isso com um tabu de 24 anos sem títulos, o último tinha sido a épica seleção de 1970. A de 1994 não era épica, mas tinha disciplina tática, o que para muitos “entendedores” da época achavam uma seleção chata, burocrática, sem sal. Mas era uma seleção unida, que entrava em cada jogo com as mãos dadas, rito iniciado ainda nas eliminatórias da Copa antes da goleada em cima da Bolívia depois do vexame da derrota em La Paz. Ali foi a virada de chave para uma equipe vencedora. E ali ainda não tinha no elenco o que seria o protagonista principal para o tetra: Romário.
Parreira e Zagallo eram relutantes em convocá-lo; o consideravam rebelde demais e que poderia contaminar o resto do elenco. Mas a pressão popular e da opinião pública foram maiores e ele foi convocado para a última partida contra o Uruguai. O próprio Romário já declarou que esse jogo ele considera uma das maiores performances de toda a carreira dele. Dois lindos gols dele sobre a Celeste e a seleção partiu para os EUA mais confiante.
O resto é história, e das boas. Com direito a risos, polêmicas, dramas, recomeços e ressurgimentos.
E na final como em 1970, Brasil e Itália. Ninguém lembrava de 70, mas sim da tragédia do Sarriá em 82. Isso não afetou em nada os jogadores brasileiros. Foram 90 minutos mais 30 da prorrogação de puro sofrimento.
O Brasil jogou melhor no somatório geral mas talvez pelo nervosismo do tabu não soube ter sabedoria em finalizar com gols, até Romário perdeu os dele. Veio os pênaltis, e como disse Roberto Baggio numa entrevista há algum tempo, o chute dele para fora teve a ajuda do Senna, falecido ironicamente dentro do território italiano dois meses antes.
E não foi à toa que os jogadores o homenagearam com duas faixas pois meses antes a seleção havia se encontrado com Senna e ambos haviam prometidos conquistarem o tetra, a seleção pelo futebol e Senna na F1.
TEXTO DE:
Thiago Muniz
terça-feira, 15 de julho de 2025
Petrobras mais feminina
segunda-feira, 14 de julho de 2025
Toma lá dá cá
quinta-feira, 10 de julho de 2025
Vassalo
Por motivos óbvios, não vamos dizer isso aqui de maneira explícita.
Mas o vassalo da cara de areia mijada sabe onde pode enfiar esse boné, não é mesmo?
sábado, 5 de julho de 2025
O Liberal Constrangimento
É constrangedor quando um liberal confunde lé com cré e diz que "comunistas querem que um mendigo vá morar na sua casa".
Essa gente não faz a mínima ideia da diferença entre propriedade pessoal e propriedade privada.
Vamos ajudá-los a escapar dos grilhões da ignorância?
Propriedade tem, ao menos, 3 significados diferentes:
O primeiro está relacionado ao direito legítimo de usar algo de forma exclusiva.
O segundo se refere ao direito ilegítimo de explorar a posse de algo.
O terceiro, desdobramento do segundo, corresponde ao direito ilegítimo de possuir o que é produzido em uma propriedade do significado acima.
O primeiro caso pode ser traduzido como posse. Eu possuo o celular que uso agora para escrever essa postagem. Uso esse aparelho para trabalhar, para me deslocar e para me comunicar com os outros. Dividir sua posse atrapalharia consideravelmente minhas rotinas, portanto posso, de modo legítimo, reclamar sua posse exclusiva. Todavia seria bem diferente se eu tivesse mais um - ou vários outros - celulares para aluguel. Esses aparelhos adicionais já fugiriam desse conceito de posse e se classificariam nos dois últimos significados de propriedade, ambos ilegítimos.
Nós comunistas aceitamos a posse para uso de uma propriedade ou bem, isso é mais do que legítimo, é a chave para a atividade e até mesmo para a existência humana. O que combatemos é o exercício da propriedade não para seu usufruto, mas para a exploração de outras pessoas. É a famosa e infame propriedade privada de meios de produção.
No limite, há uma quantidade finita de bens que uma pessoa reclamar legitimamente a posse; uma casa, uma câmera fotográfica, um barbeador, algumas peças de roupas e por aí afora. Somente quando se tem mais do que se usa é que começam os problemas de legitimidade com o conceito de propriedade. É o senhorio que aluga 50 casas para viver como rico baseado na insegurança alheia, é o empresário que vive da propriedade da fábrica e dos produtos nela fabricados por trabalhadores explorados e assim por diante.
Sinceramente não sei se liberais são ignorantes ou desonestos por não enxergarem tais diferenças. No fundo, pouco importa; a depender de mim morariam num Gulag, com boas ou más intenções.
TEXTO DE:
Alexandre Périgo