terça-feira, 14 de março de 2023

A fome nossa de cada dia

 

A rua Henrique de Novaes, com seu jeito de travessa, cruza o bairro de Botafogo, da São João Batista até a Real Grandeza. Do lado esquerdo, maioritariamente pega a lateral de Furnas. Pelo lado direito, bem na metade dos seus 200 metros de extensão, encontramos os fundos do supermercado Pão de Açúcar (rua Voluntários da Pátria, 311).

Todos os dias da semana, entre 9 e 10 da manhã, o caminhão do lixo passa para recolher os restos de alimentos em pré estado e em estado de putrefação.

Pessoas, que não são cracudos, nem moradores de rua, diariamente, assim como as gaivotas do cais do porto à espera do bagaço dos barcos pesqueiros, por minutos se apoderam do que a princípio seria transferido para um único dono: o caminhão do lixo.

E isso não acontece numa cidade perdida do agreste, menos ainda em municípios do fim do mundo.

Falamos de Botafogo, bairro da Zona Sul da, até então, cidade maravilhosa.

Porra... 

Você não tem nada a dizer?

A imagem dessa foto não te incomoda?

A que ponto chegamos, nós os seres humanos!?!?

Pessoas, muitas, morrendo de fome, é a fotografia da realidade.

Mas a sociedade prefere se perder entre discussões inócuas, personalistas, que não atacam (há mais de 60 anos) os desajustes da sociedade e sim aos desajustados.

Tenho uma tese que diz que no mundo, o roubo é secundário. O problema é quem rouba.

E isso é reduzir à fração mais simples a obviedade dos fatos.

Enquanto as mídias e redes preferem discutir o triplex, a rachadinha, o sítio em Atibaia, a cocaína no avião da FAB, a lei Rouanet, as jóias, o mensalão de turno, a Cloroquina e o Viagra de plantão, a intervenção na Polícia Federal, o petrolão da vez, o poder gangorra do Centrão... Tem gente com muita fome e morrendo.

Não que essas merdas que foram acima citadas, não mereçam a nossa repulsa, denúncia e desconformidade. É óbvio que tem que ser corrigidas, extirpadas.

Mas não podemos deixar que o ódio que "essas merdas" geram, nos tornem obtusos com relação a quem passa fome.

Essa foto é clara, batom na cueca diriam os mais antigos. Decadence avec elegance, diz na música.

É hora de indignar-se contra esse estado de coisas. 

A fome não espera. 

Só aumenta na progressão geométrica do número de necessitados.

Cada um que cuide de si, quem sou eu para apontar o dedo para alguém. Mas a visão periférica deve ser ampla. Principalmente na direção dos mais humildes.

Reflita.

A fome nossa de cada dia não pede licença.

Por sua vez, para o faminto "o tempo não para!".

Eu resolvi apostar na minha indignação e, humildemente, fazer a minha parte.

E você?


TEXTO DE:

Antonio Gonzalez

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