sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Se me levam, eu vou

Tim Maia foi um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos, e também dos mais complicados. Seus shows, disputadíssimos desde os anos 1970, em algumas ocasiões não foram realizados pela, digamos, ausência do astro.

Não posso reclamar. Fui a seis shows de Tim e, por incrível que pareça, ele compareceu a todos. Apenas em um a performance ficou um pouco abaixo do normal, porque ele cantou pouco - na maior parte do tempo "Cantem comigo vocês" -, sendo xingado pela turma do fundo do Canecão e replicando: "Vocês são um bando de doidões. Vale tudo!". Neste mesmo show, encantado com a beleza física de uma fã madura na primeira fila de mesas do Canecão, não titubeou: "Minha senhora, com todo respeito, mas que pernão delicioso a senhora tem. Com todo respeito, que coxão!"

Poderia ter havido um sétimo show, mas fui prudente o suficiente para não arriscar. Eu estava no Shopping Rio Sul num sábado, quando um amigo me falou que podíamos comprar uns ingressos do Tim Maia para nossa turma, no caso para o dia seguinte, domingo. Aí pensei: eu ia pro Maracanã ver o Flu às 17h. Depois do jogo, teria que correr para chegar a tempo. Outra coisa: quem realmente iria conosco? E se não quisesse ir, já com o ingresso na não? Achei melhor não comprarmos e combinarmos com a turma, o que acabou não rolando. No domingo fui pro jogo, voltei, cheguei em casa e meus pais estão vendo uma chamada urgente no Fantástico: "Fãs revoltados exigem dinheiro de volta dos ingressos para o show de Tim Maia, que não veio". Fui obrigado a rir. 

O melhor de todos foi no Parque Garota do Arpoador, em 1990, com entrada franca. Marcado para às 20 horas, começou quase uma hora antes - as multidões começaram a correr para o parque, ouvindo a voz de Tim, sem entender porque o show havia começado antes. Um palpite? Tim, junkie de carteirinha, acordou às cinco da tarde, tomou um banho e se mandou para o parque cheio de disposição. Lá chegando, se sentiu à vontade para começar a programação. Foi um showzaço de três horas e a plateia cantou como nunca. Tim começava a viver seu último apogeu, redescoberto por públicos mais jovens, a partir da gravação de "W. Brasil" feita por Jorge Benjor, da regravação de "Chocolate" por Marisa Monte e de "Você", pelos Paralamas do Sucesso

Naquela época, quem quase veio ao Brasil foi Sir Elton John. Em cima da hora a turnê furou. Diante do público extasiado pelo showzaço, o galhofeiro Tim Maia não perdoou na despedida de sua apresentação: "Muito obrigado, fiquem com Deus e não se esqueçam: Elton John não veio, mas  Maia veioooo!". O público foi ao delírio com a voz mais poderosa do país.


TEXTO DE:

Paulo-Roberto Andel

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