segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Uma cadela em lugar de um presidente - A passagem de faixa ao Presidente Lula

crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press

Duas expressões clássicas cabem muito bem ao momento histórico do Brasil.

A primeira expressão é a "complexo de vira-lata", criada pelo gênio Nelson Rodrigues na década de 50, fazendo referência a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950. O conceito é antigo, data pelo menos desde o Século XIX, e nas palavras do dramaturgo seria "a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo".

Nenhum movimento do Brasil republicano encarnou tão bem esta expressão e este conceito quanto o bolsonarismo.

O bolsonarismo nada mais é do que o complexo de vira-lata elevado à enésima potência, e se manifesta pelo ódio a tudo que representa ser brasileiro.

Ódio à arte brasileira e seus artistas, ódio à literatura brasileira e seus autores, ódio à miscigenação de raças, ódio a qualquer manifestação cultural genuinamente brasileira, e ódio até mesmo às manifestações religiosas brasileiras (com exceção das igrejas manipuladas por lideranças aliadas ao movimento).

Nem é necessário dizer (mas já dizendo) que se qualquer uma destas manifestações estiverem ligadas a cor mais escura da pele, são submetidas a um tratamento ainda mais odioso.

Semelhantemente ao nazismo, o bolsonarismo cria sua própria leitura de mundo, e alça a qualidade de intelectual qualquer imbecil disposto a dar voz as maiores atrocidades verbais, destilar preconceito e deitar ameaças de perseguição, exílio e até mesmo assassinato de adversários.

A segunda expressão que se encaixa ao nosso momento histórico é "a cadela do fascismo está sempre no cio", expressão creditada a Bertholdt Brecht.

E no Brasil, de 2014 para cá, o cio desta cadela esteve na moda. Grande parte do povo brasileiro flertou com esta ideologia que seduz as almas mais desvirtuadas e intelectos menos desenvolvidos.

Os fascistas tal qual as prostitutas que oferecem prazeres carnais, oferecem àqueles que estiverem dispostos "liberdades individuais" baseadas na anulação das liberdades de outros. Mas a exemplo da prostituta, o preço a pagar geralmente é caro, e leva à doenças sociais e humanitárias.

Já dizia certo autor que não me recordo: se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.

E durante quatro longos anos, o Brasil olhou fixamente para este abismo.

Mas como bem citou o jornalista Reinaldo Azevedo, quando o abismo foi olhar de volta para o Brasil, o país virou a face para o outro lado.

Acontece que estas expressões são injustas.

E uma personagem entra em cena para de uma vez por todas apagar a imagem negativa que por muito tempo difamou a raça canina.

Trata-se de Resistência.

Uma cadela vira-lata, que resolveu fazer aquilo que deveria ter sido feito pela até então, maior figura deste país: o Presidente da República.

Cabia a Jair Bolsonaro, o presidente na ocasião, cumprir o rito protocolar de passar a faixa ao próximo a ocupar o maior cargo do país.

Mas este, preferiu a fuga. A vergonha do auto-exílio. Viajou para os EUA. Escolheu obviamente a pátria preferida dos vira-latas tupiniquins.

Ele, que durante quatro anos permaneceu alheio as obrigações que o cargo lhe impunha, e se comportou como um verdadeiro vagabundo, não iria evidentemente, cumprir um rito que exigia um mínimo de civilidade e espírito democrático.

E fez bem.

Sua ausência deu ares mais leves a então posse do agora presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Em toda a sua vida de medíocre, incluindo o período em que foi deputado e presidente do país, jamais Bolsonaro foi capaz de um gesto tão bom, quanto o de simplesmente nos dar a graça de sua ausência.

Que seja feliz onde se esconder, quem sabe tentando um dia vencer uma de suas horrendas batalhas contra as farofas que lhe são servidas.

Para a cadela Resistência, deixo aqui meu total apresso.

Esta simples cadela vira-lata, mostrou ter muito mais caráter, elegância, educação e certamente intelecto que o antigo ocupante do Palácio da Alvorada.

Esta cadela, diferente dos fascistas, não sai por aí dando demonstrações de cio desenfreado e nem flerta com abismos ideológicos nefastos.

Tenho certeza, que boa parte da humanidade iria preferir receber a faixa presidencial de uma bondosa cadela do que de um homem desprovido de qualquer sinal de humanidade.

Obrigado, Bolsonaro (obrigado mesmo), por nos ter dado o prazer de lhe ver substituído por uma cadela vira-lata.

Particularmente, gosto muito mais dela do que de você. E tenho certeza de que grande parte do Brasil, também.




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